"Depois do silêncio, o que mais se aproxima de expressar o inexprimível é a música."
Aldous Huxley
Deixa-me escrever-te uma canção de amor. Deixa-me que te cante baixinho, sussurradamente, ao ouvido. Como gostas que te cante. Que te fale. Que te ame.
Deixa-me escrever-te uma canção de amor, porque a queres, porque a pedes, porque precisas dela. Porque já a cantas sem saber.
Deixa-me percorrer todos os vales, ouvir todas as histórias, socorrer-me de todos os feitiços, mezinhas e bruxedos e colocar toda a minha alma na demanda da melodia perfeita que dá forma ao teu coração, que o emoldura nas pautas secretas onde se escondem a lascívia ébria do desejo e da entrega.
Quero tocar a tua canção de amor, tocar-ta sentada ao piano, muito direitinha e concentrada. Quero ter aquele olhar brilhante de menina travessa e as faces rubras de ansiedade. Quero ter o coração a romper a pele de tanto bater. Quero que o meu peito acelerado anuncie os ritmos cadenciados que irrompem da minha boca, inebriada pelo anuncio dos teus lábios próximos do meus, que me segredam a música que canto.
Deixa-me carregar cada tecla pesada com doçura, com estas mãos que te acariciam a cada som, com os dedos trémulos da primeira vez, com o suor frio que ameaça sorrateiramente a falha da nota mais difícil.
Deixa que cada nota seja uma palavra. Que cada acorde seja um beijo. E que cada verso seja o meu amor emudecido feito torrente ondulante de arrebatamento.
Deixa que te toque. Deixa que te afine como ao piano mais precioso e raro do universo. Pois que a tua alma tem notas que só emergem quando consumidas pela redenção corpórea da pulsão.
A melodia perfeita é essa que cantamos em uníssono, na cama onde vergamos o impossível, nesse leito perdido onde contrariamos o inexprimível.
2 comentários:
Texto fantástico!
Grande Domingo, parabéns amiga.
:)Um beijo.
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