Na sala dos marginais

Sunday, October 29, 2006 | 0 Comments

Há pessoas que usam calendários, enforcam-se aos dias, têm adolescências grandes com heróis que amam fervorosamente como as beatas idolatram os seus santinhos. São filhos de senhores doutores ou apenas de funcionáriozitos públicos púdicos. As mães têm virtudes terapêuticas, por vezes são lindas, outras são alheias por excesso de charme. Outras cozem pescada para o jantar e coram de vergonha ao recordar os amigos bonitos que lhes falavam ao ouvido, encostados ao peito e que eram muito melhor partido que o traste com quem se casaram. São varizes na memória, pratos que partiram junto ao osso de uma bonomia cheia. Ninguém acredita no que uma família respeitável pode conceber, eu ausculto-lhes as sombras porque sou apenas um fruto da perfídia e ando por aí a pé a oscultar a beleza das coisas, vício mudo que me nasceu com a língua de fogo que me queima as mãos.
Respeito-lhes os sinais e adormeço na sala dos marginais por vocação.

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Mei and Arawn