Temperados ou Devassos

Monday, April 23, 2007 | 0 Comments

«A temperança diz respeito aos prazeres do corpo, mas não a todos eles, pois os que fruem dos objectos da percepção visual, como as cores, as formas e a pintura, não são chamados temperados nem devassos. Contudo, parece haver um modo como se frui correctamente destes objectos, bem como uma medida por excesso e outra por defeito. De modo semelhante acontece com os prazeres a respeito da percepção acústica. Ninguém chama aos que fruem sobremaneira da música ou do teatro devassos, nem temperados aos que fruem disso como deve ser. Nem a respeito dos objectos do olfacto, excepto acidentalmente. Não chamamos devassos aos que sentem prazer nas fragrâncias da fruta, das rosas ou do incenso, mas mais aos que têm prazer com os cheiros dos perfumes e dos cozinhados. Os devassos regozijam-se com os cheiros porque através deles têm uma evocação dos objectos da sua luxúria. Podemos ver certo outro tipo de pessoas a deliciar-se com os cheiros dos alimentos, quando sentem fome. Mas fruir destes objectos é próprio do devasso, porque lhe provocam o desejo.»

Aristóteles, Ética a Nicómaco [trad. António C. Caeiro], Lisboa, Quetzal, 2004

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