Eu explico-te porque é que gosto tanto de ti e de ti: porque não finges aquilo que não és, porque quando acreditas em qualquer coisa não desistes. Porque me fazes rir e percebes que o que interessa mesmo é continuar a viver sem medo. Porque tens uma mão pequenina e delicada. Porque choras quando sofres. Porque te importas. Porque sobressaltas taxistas a meio da noite. Porque às vezes a vida é assim, urgente e inadiável. Porque sabes onde é que está a tranquilidade que buscas e até sabes o que fazer para lá chegares. Porque os teus olhos verdes, rasgados, enormes, hoje, disseram-me uma coisa. Porque os teus olhos castanhos, meigos, enormes, hoje, disseram-me uma coisa. Encheram-se de brilho primeiro. Os teus olhos enormes disseram -me "estou feliz". Amanhã vai ser outro dia assim, mas hoje estamos aqui a partilhar este pão de estrelas. Hoje, os teus olhos enormes mostraram-me uma porta aberta e uma casa grande para habitar. Espero que tenhas visto, nos meus olhos grandes que saberei sempre o caminho para voltar. Quero ficar aqui, neste sítio que é feito de corpos ondulantes, de seres alados e desejos incandescentes. Quero ficar aqui ao teu lado e ao teu lado também, nesta varanda onde as palavras não marcam como ferro quente, nem despem como saqueadores de túmulos a alma até ao esqueleto gélido do cinzento diurno.
Houve um momento. Um momento de felicidade total. Os olhos deles brilhavam exactamente com a mesma intensidade. As gargalhadas fundiram-se umas nas outras para tecer um manto branco. Mais uma música. Mais uma actuação. Mais um flash da máquina furtiva. Olhei para a sala lá em baixo, caída aos pés de um céu irreal e fechei os olhos. Consciente de que nenhum céu tem aquela cor. Os olhos deles continuarão a vibrar para além da noite.
As palavras pronunciadas ao nascer do dia parecem sempre carregadas de magia. O amor às vezes não tem tamanho para vida, mas nem por isso deixa de existir.
As palavras pronunciadas ao nascer do dia são as mais verdadeiras, sobretudo as que são ditas em silêncio, no frio da rua deserta, quando os candeeiros já se foram deitar.
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