Estrelas, caixinhas e divagações

Wednesday, November 01, 2006 | 1 Comments

Chegamos a uma fase da nossa vida em que nos sentimos de tal forma perdidos, que não fazemos a mínima ideia do que será mais correcto. Sentimo-nos presos ao passado e procuramos cortar com o mesmo, tememos um futuro sem quaisquer certeza e avançamos às cegas ao sabor de uma vontade sem contornos definidos e de verdades que muitas vezes não são as nossas... Por isso, talvez por isso, vamos envolvendo o nosso coração primeiro em finas folhas de filigrana, depois em finas folhas de aço e guardamo-lo numa caixinha pequena, suficientemente grande para ele caber lá com alguns tesouros e mais nada, daquelas caixinhas de madeira comprada na loja dos chineses, baratas e vulgares para todos menos para nós que acreditamos que a menina dos olhos que mora dentro deles vê melhor os olhos eles mesmos.
Nessa caixinha posso guardar todos os segredos - os meus e os de todos aqueles que se esqueceram deles por ai ou que que se esqueçam de ter segredos. Espalho-os pelo chão do quarto como cartas, entre migalhas que se perderam, entre pó e vejo tudo o que nunca contei; aquilo que nunca me disseram; aquilo que os outros já não querem. Os segredos perdidos como o guarda-chuva que esquecemos no autocarro, num sussurro ao ouvido, num qualquer pedaço de papel amachucado e amarelecido pelo tempo, perdidos, desencontrados. Juras de amor que nunca o foram; medos confessados; a raiz da árvore dos sorrisos, areia da praia dos medos; o bilhete de comboio só de ida, rasgado em pedacinhos com manchas de lágrima. Em cada segredo as datas dos seus começos, rastos de vento do dia que se perderam; mapas de caminhos entrecruzados procurando um qualquer lugar com respostas para todas as perguntas. Perfume com aroma a vários tempos, com cheiros que se misturam já quase apagados. Na caixinha, o rosto de todas as mãos, o selo quebrado com nome de partilha e as marcas de vários dias e noites em todos os lugares daqui e dali e qualquer parte.
Na caixinha aberta, tombada, todos eles se espalharam, misturados com as migalhas e o pó do chão. Cuidado ao passares não calhe pisares e desfazeres um.

1 comentários:

MEU DOCE AMOR said...

A caixa das surpresas abriu-se.Não piso.

Bj d
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Mei and Arawn