- Boas, tudo bem?
- Sim óptimo. Chamo-me Marisa. – Inclino-me para o cumprimentar.
- Prazer, Miguel. E você é?
- Kátia, prazer. – Sorris envergonhada.
- São irmãs? – Sorrimos uma para a outra sem saber muito bem o que responder.
- Sim, quase. - Respondo – o quase não sei bem o que é.
O quase é aquela mesma linha ténue que separa o estarmos juntos há 15 anos de sermos casados. É exactamente isso.
Não é um quase nosso, mas emprestado dos outros. Um quase envergonhado que não nos apetece ter de explicar.
Há alturas em que nem sequer o digo.
- Então a mana está boa? – Pergunta-me a vizinha do rés-do-chão, rapariga solitária e simpática.
- Sim está bem obrigada.
- Vi no outro dia que se magoou no pé, já está melhor?
- Sim está a recuperar bem. Daqui a nada larga as canadianas. Obrigada.
- Dê-lhe um beijinho meu, está bem?
- Sim, sim, será entregue. Obrigada.
Saio porta fora a sorrir e a pensar nestas coisas que nos são emprestadas. As canadianas, as irmãs, os quase.
A irmã que não era minha mas que afinal já não é outra coisa senão minha. Os quase dos outros e as canadianas que preferimos devolver.
O património vivido que define a apropriação do outro ao ponto de já não sabermos nem querermos saber das diferenças subtis entre ser irmã de sangue ou irmã de escolha. A irmã de escolha é de facto diferente, é voluntariamente nossa e nós dela.
1 comentários:
Quase que me tocas
Quase que me esquivo
Quase que perguntas
Quase que respondo
Quase que te entregas
Quase que resvalo
Quase que és
Quase que sou o mesmo
Quase que mistério
Quase que desvendas
Quase que choro
Quase que me sorris
Quase que partimos
Quase que ficamos
Quase só falta
dizer que nos amamos.
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