Este ano ainda não disse que te amava, não estreei estrelas, não rompi as folhas do caderno, não te levei a voar, não saimos do trilho. Há um ano novinho em folha aí à solta e nós aqui nas escadas, no trânsito, no caminho. Gostava de sair à rua e que a rua fosses tu, toda nua como as calçadas e as giestas depois das chuvas. Este ano não te posso falar como se nunca te divesse falado porque as palavras são a mesmo respiração do mesmo corpo, e já conheces a minha boca. Este ano custa mais inventar, é como se a imaginação estivesse gasta ou o inverno fosse maior. Ainda acredito que todos os dias amanhecem cheios de sol. e são meus. Tento sempre apanhar os raios com as mãos como se fossem frutos e dar-tos a trincar. Este ano há que inventar tudo de novo porque os gestos e os afectos são como crianças de colo a precisar de atenção. Às vezes tenho medo de deixar de te surpreender e que o espanto se torne um lugar comum como a relva pisada esquecida de ser jardim. Este ano quero sussurar-te o nome das estações em segredo e encher de flores a tua janela.
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