O Pedro tinha 26 anos. Um filho de 4. Esposa de 22. O Pedro era o meu primo mais caçulinha. O mais novinho da enorme família de primos com que fomos brindadas, eu e a minha irmã. O Pedro era calado, tímido. Olhava tudo discretamente. Com os seus olhos azul turquesa, do alto do seu metro e oitenta e dos seus cabelos curtinhos côr de ouro. Os seus lábios eram silenciosos. Brincamos em pequenos muitas vezes, nas férias grandes, quando ia com os meus pais "à terra". Uma vez, andava eu com ele às cavalitas e deixei-o cair sem querer. O Pedro não chorou. Levantei-o e compus-lhe a roupa. Nunca se queixou de nada. Ficou o nosso segredo.
O Pedro abraçou-me uma única vez. Quando o nosso avô morreu e lhe fomos ajeitar ao mesmo tempo o fato. E, mais uma vez, silencioso. Denso. Era o Pedro. Nesse dia sentámo-nos à lareira e conversamos muito. Sobre a sua estadia em Londres, sobre os sonhos, sobre as descobertas. Sobre o futuro. Nunca tinhamos sido tão próximos como nesse triste dia, mais triste ainda para ele do que para mim, que era tão chegado ao avô. Nunca nos tinhamos olhado tão fundo nos olhos.
Morreu hoje, vítima de um acidente frontal que teve na segunda-feira. Adormeceu ao volante. De cansaço. De correr. De querer fazer tanto com tão pouco tempo de que dispunha.
Não te conheci muito melhor que isto e tenho pena. Tanta pena, priminho. Não consigo deixar de ficar desoladamente triste.
Guardo de ti esse olhar límpido, sonhador, silencioso. As brincadeiras em que entravas timidamente porque eras o mais novinho no meio de tantos reguilas. Eras sempre o mais calado. Guardei-te comigo naquela tarde junto à lareira em que falamos do futuro, da felicidade, da família que querias construir. Não me vou despedir do teu corpo porque já lá não estás. Até já. Nos nossos sonhos.
1 comentários:
lamentamos a tua perda. Os nossos pesames e muitos beijinhos...
Ana e Diogo
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