António Alçada Baptista disse-me isto, hoje de manhã na Antena 2, soltando-me as amarras do corpo que me cingiam ao trânsito da 2ª circular.
Mistério este
no sorriso que tropeça
por entre os lábios
neste anoitecer em vigília
que me agarra a ti
Misteriosas
as tuas mãos que
como ladras
me roubam a côr da face
para me expôr
em rubor obsceno
quando sorrio para ti
Mistério este
de morno sopro de vida
nestes lábios
que respiram
arfantes
o teu nome
Misteriosas as notas
que desprendo da harpa
que toco para dentro
de mansinho
para que me oiças
Misteriosas as palavras
que brotam líquidas
movediças
à tona do pensamento
para que as leias
Misteriosos os dias
em que desenleados
de enganos
nos descobrimos
estranhos
vizinhos do nosso desejo
espectadores
do abraço
que não nos abraçou
Se o mistério
envolve todas as coisas
sobretudo as importantes
o maior de todos
é esse enigma que pulsa
em compasso na garganta
Essa tranca aberta
que deixa a alma escancarada
mantendo-a vigilante
em antecipação torpe
para ver raiar o dia em que
todos os segredos se resumam
a amar em todos os seus mistérios.
2 comentários:
Estás cada vez melhor. :) Sinceramente!
Para quando um livro, alguma coisa que se possa possuir, (já que a autora não deixa que a possuam! ;) algo para ter lá em casa e para ler quando me apetecer estas palavras?
Beijo graaaande
"Espectadores do abraço que não nos abraçou"
Gostei mesmo desta parte.
Quantas vezes perdemos por capricho ou teimosia a oportunidade de abraçar alguém de quem gostamos, de lhe proporcionar e a nós mesmos esse momento de entrega e carinho...? De redenção até. Essa oportunidade de curar as feridas, de retomar o caminho, de mostrar que continuamos a ser gente que sente e que gosta e não esfinges polidas de cordialidade amestrada?
É preciso ter coragem para isso. Tu tens. Tiveste sempre a coragem de perdoar, de redimir e seguir em frente. Mas nem toda a gente a tem, camarada!
Post a Comment