Há qualquer coisa de egoísta em ser feliz. Não no acto de querer ou desejar ser feliz, entenda-se, mas em sê-lo simplesmente.A cartografia do amor não é ciência fácil. E para nós nunca foi fácil, porque sempre gostamos de desafios. Acredito que desde que tomamos algumas decisões e em que afastamos certas vivências e pessoas do nosso dia-a-dia, dedicando mais atenção à nossa relação e aqueles que nos querem bem, que coisas muito boas começaram a acontecer. Este último ano foi muito rico em aprendizagens. A certa altura, na ânsia de ajudar, de estar próxima, de ser melhor, arrisquei tudo e partilhei tudo o que tinhamos descoberto ao longo destes anos, desde coisas simples como os locais que gostamos, as músicas, os filmes, os espectáculos, a arte, até às mais importantes, os mimos, a nossa casa, as palavras, a dedicação, o tempo, a atenção, o amor... até os pequenos truques que nunca tinha revelado a mais ninguém. Tudo na nossa vida parecia estar a ser sugado para uma vida que se queria parecer com a nossa, apoderando-se simplesmente dela. Queriamos tanto experimentar, abrir, expôr, viver, que a certa altura nos deixamos arrastar para algo que nos despia de nós a cada dia. De repente vimo-nos a fazer coisas que nunca iriam de encontro aos nossos padrões e valores. De repente, vimo-nos a magoar e a ferir quem gostavamos. E na cegueira, quase nos ferimos um ao outro de morte.
Passado este ano a aprender a encaixar a dor e a perda, mas a integrar também a descoberta e a redenção, sinto-nos leves, sem amarras nem obrigações morais de suporte psicológico a angústias sem fim que nos eram alheias. Agora sinto-nos de novo nós: mortais, vulneráveis e humanos mas fortes, unidos e genuínos. Depois da máxima vulnerabilidade, colocamos reforços nos portões e as vigias estão mais atentas que nunca. E dentro do nosso pequeno castelo somos tão felizes que até irrita! Em dias de festa ainda abrimos de par em par os portões e descemos a ponte levadiça para que os nossos amigos inundem o nosso lar com a sua alegria e abraço fraterno. Mas este é cada vez mais "o nosso" refúgio. A felicidade tem qualquer coisa de egoísta por ser nossa mesmo quando é genuinamente partilhada! :)
1 comentários:
Este texto é das coisas mais perfeitas que já li nos últimos tempos... Um abraço cheio de carinho!
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