Há pessoas que aparecem na nossa vida com a mesma função que as calamidades naturais têm para o planeta. No fundo, faz tudo parte da dinâmica da natureza e dos seus equilíbrios. Tal como os campos e as florestas se renovam pelo fogo ou as plantações florescem depois das enchurradas, da mesma forma a alma se renova com a passagem devastadora que certas pessoas trazem à sua travessia por nós. Precisamos de ter as planícies do coração esventradas, as certezas outrora plantadas tão convictamente arrancadas pelas raízes, os sentimentos mais sagrados despidos e arrastados à tona da enchente impiedosa.
Por vezes recuperamos, mas outras vezes há em que a tempestade deixa laivos húmidos de dúvida e de dor a entranhar-se pelo subsolo da nossa alma, para a surpreender em momentos que nos julgavamos já a salvo de qualquer abalo.
Estas calamidades da nossa natureza, da natureza intrínseca e vulnerável do ser humano, não possuem ainda escalas fiáveis de medição nem aparelhos sofisticados de detecção e prevenção. Resta-nos esperá-las, acolhê-las e reconstruir tudo de novo, se possível. Por mais que queiramos, a alma é constituída por substâncias inconstantes e voláteis e a ciência continua às cabeçadas para conseguir entender como colocar uma ordem neste caos afectivo que todos somos. Talvez o amor seja matéria incognoscível e esteja sujeito apenas às leis da sensibilidade e não às do entendimento.
1 comentários:
Fico com vontade de ir ver o The Reader. Assim não vale.
Sei que isto são reflexões tuas, mas já vou com uma atenção diferente aos pormenores.
Bjs e bom fim-de-semana
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