Sempre que deixo passar alguns dias de reflexão sobre o que vivo, vejo ou sinto dá-se um fenómeno de esfumamento da vivência e como se de uma depuração de licor se tratasse, fica apenas a cristalina essência do que realmente me tocou e se cristalizou em recordação. Foi o que aconteceu relativamente aos dois últimos filmes que vi. Cá ficam algumas impressões.
The Happening - O Acontecimento
Realização: M. Night Shyamalan
Com: Mark Wahlberg, Zooey Deschanel, John Leguizamo, Betty Buckley; Trailer The Happening tinha tudo para ser mesmo um acontecimento na história do cinema e na de Shyamalan como realizador. Está quase lá, mas não chega. E fico mesmo danada.Gostei de Signs e de The Six Sense. Lady in the Water e The Village foram desilusões não só de bilheteira como da minha expectativa. E este filme tinha mesmo uma boa ideia e os trailers anunciavam uma obra de suspense densa e com um argumento de deixar água na boca, antevendo uma permissa apocalíptica assombrosa.
O filme até começa bem mas vai-se esbatendo contra uma parede de tédio e de previsibilidade. Não sei que raio acontece, mas as personagens principais estão mal construídas, pouco credíveis, apáticas quase... E é assim que ficamos à medida que o filme avança. Que pena Jonh Leguizamo não permanecer mais tempo no filme, foi o único que me convenceu em termos de actuação. Falta mística e transcendência ao argumento. E é uma pena tão grande, pois há momentos em que se cria um limbo de tranquilidade mórbida que lembra o Birds de Hitchcock e o próprio Signs. Esta seria a obra que eu usaria para atirar à cara de muitos viciados em efeitos especiais que não é preciso monstrengos cibernéticos, cidades a cair aos pedaços ou criaturas plásticas de outro mundo para criar um bom filme de suspense...grrrr ainda não é desta que vou poder fazê-lo. Podia ser O filme de 2008, mas não é. No entanto gostei muito da ideia e dos primeiros 20 minutos. Gostei da tal morbidez plácida à Hitchcock. Mas faltou-me medo e ânsia. Faltou-me preocupação com as personagens principais. E isso não devia faltar num filme destes.
Hancock
Realização: Peter Berg
Com: Will Smith, Charlize Theron, Jason Bateman
Antes de mais: Ah És grande Will!!! Ahhhh Charlize! ;)
Feito isto vamos lá ao trailer. Esta é a história de um anti-herói. E se houvesse um herói cheio de super poderes mesmo catitas mas que fosse um cretino, bebedo, desastrado, com uma higiene pessoal duvidosa e que deixasse um rasto de destruição atrás de si de cada vez que movesse um dedo para salvar alguém? Hancock é assim. A interpretação de Will Smith está simplesmente perfeita. O filme começa muito mas mesmo muito bem. Consegue ter cenas hilariantes que resultam desta química estranha de um ser que deveria ser perfeito mas que afinal tem mais defeitos que o pior dos mortais. Pena cair num registo de novela mexicana pouco depois, quando afinal há outra super-heroína que afinal era a mulher ancestral dele e que afinal agora é casada com o tipo que o está a ajudar a tornar-se um herói amado e respeitado. A certa altura o filme torna-se desequilibrado emocionalmente. E eu só queria mesmo divertir-me! Há um desalinhamento incompreensível entre o drama amoroso e a génese primordial do filme, a qual era "lets have a great time and fun!" ou seja categoria Acção/Aventura meus amigos! E a rebeldia de Hancock vai-se perdendo à medida que se torna delicadinho e mais apaixonado. E que raio de vilão era Red?? Não apanhei. É o vilão mais farsola em toda a história dos vilões farsolas. Mais valia deixarem Hancock com o vilão inicial: ele mesmo. Sim, que o Will faria tudo muito melhor sozinho. Na minha opinão é aí que o argumento falha, na tentativa de combinar acção e aventura com drama emocional. Contudo é um filme a não perder, pois vale em ouro pelo desempenho de Will Smith, pelos diálogos hilariantes e pela diversão pura de algumas tiradas muito boas.
Great Job!

0 comentários:

About

Mei and Arawn