Guilhotina

Thursday, December 14, 2006 | 1 Comments


Mana, eu quero ir-me embora – a vida não é nada daquilo que pensamos
quando nos sentamos na praia a falar do futuro.
A solidão foi tanta, o amor foi tão pequeno para o tamanho do meu peito
As luzes da cidade acendem-se aos poucos
num bafo de halogénio difuso como o meu pensamento
Os meus braços murcham como as rosas que me deram
As palavras também.

Mana, o que é que eu faço aqui se não quero este caminho?
os meus sonhos são um saco cheio
de pedras ponteagudas que trago às costas;
quando fecho os olhos há apenas um vazio silencioso,
com uma língua de escuridão a lamber os beiços.

Mana, perdi todos as promessas que cozemos na bainha da saía,
Um a um os retalhos de pano foram caindo.
A casa está vazia, a cama está vazia e os lençóis gastos,
Fiz sexo com mais com mais homens do que amei,
Como as putas e as mais finas meninas de ambição alta.
Revolvo-me como um animal enjaulado
Os sorrisos caiem na calçada como blocos de granizo
Os beijos coalham rente ao apodrecer da esperança cinzenta.
Não me deixes aqui hoje, não me deixes dormir sozinha
Outra e outra vez e, hoje, como se fossem todas, dói mais.

Estou cansada e não tenho para onde ir que haja luz
Não consigo esperar mais, já não suporto esta gente a olhar para mim
Como bois quietos e cruéis de cornos afiados de força imensa
A pele já fendeu uma e outra vez e já foram tantas
Que a crosta vai ganhando lugar à pele crua.
Bastava uma voz, um abrigo, um marsupial esconderijo
Para que os dias não fossem esta angústia de tempo agudo
Agarro-me à estrada para não estar em lugar nenhum,
Nem sequer dentro de mim.
A solidão é tão grande nesta superfície plana e luminosa
Gume estridente de guilhotina.

1 comentários:

Anonymous said...

" "NA PARTIDA, NUNCA ME DIGAS..."


Na partida, nunca me digas
que o amor levas contigo.
Quanto levar tu consigas
muito mais fica comigo.

Não chores cantando o fado
porque o fado é só destino.
E o destino se for chorado,
tudo perderá de divino.

Divindades não há nenhumas
Só o amor dirige o mundo.
Só eu e tu"


Jorge de Sena
Visão Perpétua

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