Se soubesses. És uma gaja porreira. O estilo universal do que se chama de “gaja” quando se diz de forma depreciativa, “Pronto, é gaja!” Muito dada, sem dúvida. Conquistas todos. Sabes sempre dar o sorriso certo, o toque malicioso, a gargalhada certeira.
Todos sabem tudo de ti dizes. Todos sabem quem és, não tens telhados de vidro - pensas tu confiante. Afirmas como convicções próprias frases feitas que ouves nas novelas, na tv ou que lês nas revistas de que não sei o nome. Tens aquela expressão porreira, afável até, mas perturbas naquele riso cínico miudinho de quem à primeira dá a facada nas costas, logo ali no canto da copa. Aquele olhar de soslaio de quem inveja o que de bom os outros têm e que transforma um sorriso em desvario nervoso à mínima contrariedade.
Gostas de parecer sempre discreta. Usas roupas que não revelem formas mas roçaste de forma indecente em todos aqueles de quem poderás retirar algum benefício. E mesmo nos outros também. Não vá o diabo tecê-las e poderem influenciar os primeiros. Mas depois repreendes os seus avanços com palmadinhas secas e maternais, mas revelas a todos a alto e bom som que nunca usas soutien.
Quando alguém te supera minimizas o seu mérito, quando alguém te critica atiras as culpas em todas as direcções menos na da auto-crítica e aprendizagem. Bates no peito, suspiras saudade e distribuis cumprimentos afáveis. Isto quando andas bem disposta.
Refilas por tudo e por nada. Justificas o teu mau humor com “coisas de mulheres”. Corres para o fim do corredor onde fica a casa de banho quando as coisas não te correm de feição, num choro pseudo controlado e numa indignação pueril que parece funcionar e captar a compreensão de todos. Pertences a todos os clubes: os de futebol, os do cigarro, os da disco in da moda. Nada de política que isso é de gente corrupta e “eles” só querem poleiro. Nada de associações humanitárias que “sou uma boa pessoa e contribuo imenso quando posso, de resto é só hipócritas”. Nada de organizações cívicas “que isso é de mulheres que não têm mais que fazer, mas acho que alguém deve participar nisso”. Não votas porque “é tudo uma cambada de comilões que não merecem o meu esforço”.
Criticas quem passa por ti se for bonito. A beleza é algo que te ofende, principalmente se não for a tua ou aquela aceite pelos teus parâmetros. A beleza reprimida, tímida, enclausurada pela calça decente e o camisolão discreto. O cabelo apanhado. O olhar provocante mas dissimulado. Os toques casuais pensados ao ínfimo pormenor.
O pior, o pior mesmo é que enquanto escrevo isto sinto-me quase tu. Pior do que tu. Sinto-me má na minha consciência da revolta e da intolerância que te tenho.
Exorcizo-me nestas linhas, tento tirar-te de mim. A minha língua bífida não tem igual neste momento. O mal é algo que se infiltra em nós como a humidade pegajosa numa parede escurecida. A minha consciência grita para que me cale e te compreenda. Não tenho o direito de te julgar. Sinto-me ainda pior quando penso “devia era ajudá-la.” Ora porra, mas sou alguma irmã Teresa de Calcutá? Achar-me-ei eu superior a este ponto? Isto não pode ser coisa boa. Ai não pode não.
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