Depois da promessa de um fim-de-semana de quase-verão, depois dos raios de sol tímidos amornarem o riso e dos pingos húmidos e abafados refrescarem a alma, depois dos passeios de mão dada com os labradores a saltar à nossa volta, depois das almoçaradas em família, das sestas e do vinho tinto caseiro, depois de tudo isso, há que voltar ao sítio onde tudo tem outra velocidade e cadência. Onde o mundo acelera.
Mas não regresso refeita. Regresso de coração empapado com a humidade destes dias, com uma ventania de palavras e de ausências. Foi fim-de-semana de aniversário, mas não pareceu. Foi aniversário de alguém, mas não o meu. O meu aniversário costuma ser diferente. Costuma ser uma celebração interior densa e terna. Costuma ser uma celebração da dádiva do que a vida me tem proporcionado. Mais cheio de cor e de luz.
Mas desta vez foi como tempo. Foi nublado e pintalgado aqui e ali por alguns raios de sol. Foi intermitente de luz e de sombras. Não foi mau, mas "não ser mau" não é o que é suposto ser, quando se fala de um dia especial.
Foi, contudo, reflexivo. Serviu para reflectir sobre a vida e sobre o amor. Sobre a amizade e sobre a família. Sobre o trabalho e a vocação. Sobre os filhos, os que ainda não tive e não saberei se terei. Sobre o quero e o que não quero da vida. Estas alturas de paragem são essenciais para mim como se a minha vida delas dependesse. E depende!
Não tenho nada para contar hoje. Não há certezas nem contos com happy ending. Para já, tenho apenas as mãos cheias de perguntas e uma alma escancarada e sedenta de compreensão da própria pergunta. Porque uma pergunta, quando essencial à vida, é ela própria radical e desassossegada. Mas ainda bem que ainda pergunto. Enquanto pergunto, vivo! :)