A de Amor com que te sinto
B de Borboletas que somos
C de Coragem que nos instiga
D de Desejo que nos alimenta
E de Espero-te aqui
F de Fascínio pelas tuas palavras
G de Gostar e de gesto doce
H de Hoje e de sempre
I de Intensidade do teu olhar
J de Jasmim, nas chávenas de chá
L de Loucura de arriscar
M de Madrugada intensa
N de Novidade a cada dia que passa
O de Ondas do mar onde mergulhamos
P de Pipocas que nos viciam
Q de Querer sempre melhorar
R de Reviravolta a cada dia
S de Sorrir, sempre
T de Tentação à flor da pele
U de Urgência em ser, em estar
V de Verdade procurada
X de Xadrez da estratégia de vida
Z de Zelar um pelos outros.
As queixas de violência doméstica aumentaram 6% este ano, segundo dados da GNR, PSP e Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV). Registaram-se 16 602 denúncias até 30 de Setembro, o que corresponde a uma média de 1902 por mês, mais 102 do que em 2004. Estudos realizados em Portugal indicam que uma em três mulheres sofre agressões. Mas a maioria das vítimas tem vergonha e medo de revelar os maus tratos.

"há uma centena de menores todos os dias vítimas de alguma forma de mau trato".
Portugal sobe de sexto para cabeça de lista, à frente de países como o México. Segundo o relatório da UNICEF no nosso país, anualmente, em cada cem mil crianças com menos de 15 anos, 3,7 morrem vítimas de negligência ou maus tratos. Projecções do INE apontam para que existam 1,8 milhões de crianças menores de 15 anos, pelo que em média morrem por ano 66 meninos por maus tratos e negligência. Nos últimos anos, as comissões de protecção de menores já têm evitado muitas mortes.

Esta é uma realidade que repetidamente discutimos, mas não somos suficientemente empenhados para nos "irmos lá meter". Desconfiamos de um ou outro caso, mas convencemo-nos que não deve ser nada, que os pais é que sabem como educar os filhos e outras considerações que nos permitem lavar as mãos sobre o assunto de consciência tranquila. Noutros casos há alguém de coragem que denuncia o caso, mas a assistência social interfere mornamente, vai a casa, analisa, acompanha a família, mas decide por não tirar a criança aos pais. Pergunto-me a que preço e que significado terá aqui a palavra "pais". É difícil a qualquer um de nós esvazia-la de significado até não significar praticamente nada, mas a verdade é que nestes casos as crianças são meros acidentes, produtos de relações também elas muitas vezes marcadas pela violência, frustação e raiva. Gera-se um movimento em cadeia de agredir o mais fraco sendo que o homem bate na mulher e na criança, sim porque segundo estudos feitos, são é a "mãe" quem mais frequentemente agride, apesar de ser o "pai" a faze-lo com mais violência e, por vezes, fatalmente. Em nenhuma circunstância a criança está melhor com estes "pais". Parece frio dizer isto, mas o medo, a dor, a frustração e muitas vezes a raiva que anos e anos de tortura física e psicológica, mesmo que miúda, levam a traumas e desiquilíbrios que dificilmente permitirão a estruturação de um indivíduo saudável. Apenas os mortos têm impacto, mas são os milhares de crianças que sobrevivem a carregar o peso silencioso das infâncias que se prolongam dentro da sua personalidade.

Quando era pequena e chegava a casa com os joelhos em sangue
Quando era pequena escondia os joelhos em sangue ao chegar a casa.
das correrias e tropelias com a rapaziada na rua
das minhas incursões solitárias ao topo das árvores mais altas do campo
a minha mãe dizia que eu vinha esgazeada eu sorria traquina e meio triunfal das minhas provas dadas de destreza.
a minha mãe não estava e o meu pai gritava e abanava-me com força gritava-me nomes duros e eu olhava para o vazio a pensar que não estava ali.
Para não a arreliar passava a casa da minha ama que morava por baixo de nós e ela fazia-me o curativo meigamente,
Para não apanhar esperava que ele estivesse noutra parte da casa e entrava cozida com as paredes até à wc onde lavava a pele rapidamente,
de maneira que já chegava ao pé da minha mãe rosadinha e apresentável como uma menina, que ela tanto se orgulhava de educar.
de maneira a subir até ao quarto enquanto fazia planos de fuga sem perceber o que fazia ali, era apenas mais um objecto que ele odiar...
Andei dias e dias a retrair esta vontade visceral de falar disto. Não falei. Segurei-me. Achei que as coisas têm a importância que lhes damos. Enganei-me. Até hoje. E segurem-se que estou mesmo mesmo mesmo muito chateada.
Eu nem sequer segui a votação, não assisti tão pouco ao programa que elegeu O maior português. Nunca entendi sequer muito bem o motivo deste "concurso". Talvez por ausência de humor "tuga" ou por faltar aquela cova no sofá que segura os incautos em frente da caixinha mágica. Mas desta foi demais: hoje pela manhãzinha, uns senhores do PNR fizeram uma manifestação no Marquês de Pombal contra a imigração, convidando aqueles que escolheram o nosso país à procura de uma vida melhor se fizessem à estrada e tivessem uma "boa viagem".
E esta foi a gota de água. Saltou-me a tampa logo de manhã, logo a seguir à reflexão matinal do sentido da vida, onde pára a escova de dentes e porque tenho sempre pêlos de gata nos casacos antes de sair. Tinha eu saído da minha caixa (ler "casa"), ligado a caixinha (ler "carro") que me conduz a uma outra um pouco maior onde passo o dia (ler "empresa") e sou assolada violentamente e sem qualquer pré-aviso por esta notícia. Já não bastava o outro susto d'O maior português, o qual simbolizou que além de considerarmos com maior prestígio e valor aqueles que já bateram a bota, se fizeram reis em terra de cegos e amordaçaram durante décadas todo um povo (a prova viva disso é esta eleição, ironia das ironias, de um homem que nunca foi democraticamente eleito); como se isso não bastasse, dizia, batem-nos à porta do vidro solarengo e matinal com este bofetão xenófobo e racista, profundamente arreigado a uma tese de nacionalismo fechado e que se auto-exclui negando o contributo inquestionável dos milhares de imigrantes que todos os dias trabalham ao nosso lado na construção de um país mais competitivo, mais tolerante e moderno.

Como neste estaminé quem manda sou eu e a minha colega de descidas de trenó, Chihiro, o Maior Português daquela lista dos Top 10 é Aristides de Sousa Mendes. Mas se calhar, não é uma coisa muito nacionalista não acatar ordeira e cobardemente ordens dos superiores e possuir a abnegação de ajudar aqueles que, judeus ou não, lhe batiam à porta, a maioria estrangeiros, mas com certeza tão merecedores de viver em segurança e com dignidade como qualquer "tuga" que se preze. Este por mim ganhou, não por ser um homem de causas ou de feitos, mas por ser uma boa pessoa, corajoso nos seus valores e consciência.

Disse.

Filosofia da Torrada

Thursday, March 29, 2007 | 0 Comments

Quando pedes uma torrada, naquele pão de forma, quadrado perfeitinho de tentação, como a comes?
Eu como primeiro os cantos, depois, no fim, aquele bocadinho do meio, com a manteiga sedutora a enrolar-se na língua. Comer primeiro os cantos é como aquela a prova que nos tornará merecedores daqueles 2 rectangulozinhos mais gostoso que todos os outros. Já reparei que há quem peça para aparar os cantos e tem, assim, seis rectangulozinhos igualmente saborosos, mas eu sei que não sabem ao mesmo sem se comer primeiro aqueles cantos mais secos que fazem de nós os felizes contemplados com o meio. Aquele meio só é divinalmente gostoso, por estar ali entalado entre dois princípios a degustar ansiosamente.
Quando se ama, guarda-se o meio para empurrar para a outra ponta da mesa com um olhar triunfal meio carinhoso meio sorridente, já vi pais para filhos, namorados, irmãos, avós para netos e amigos a fazerem este ritual e todos parecem sentir essa mesma satisfação contente que grita "eu guardei o melhor para ti", é uma singela oferta que a outra parte nem sempre se parece aperceber, mas quem dá sabe que não há alegria mais doce do que ter a quem dedicar esse pequeno lincote dourado.

Coisas Giras da Loja de Ideias

Thursday, March 29, 2007 | 0 Comments

Festa 1º Festa Cabaret
A primeira vez é muito importante. Vocês sabem. Esta é a 1ª festa duma produtora. Tem que ser especial. Eles são virgens...mas não tanto. A união, de facto, é entre Gustavo Rodrigues (Stereo Addiction) e José Filipe Rebelo Pinto (NCS), que é como quem diz, uns experts no que diz respeito a profissionalismo e diversão. A diferença das festas Cabaret (só o nome denuncia intenções bem apetecíveis) está na aposta em ambientes alternativos e acolhedores, onde possamos extravasar...com nível. Para começar em beleza, o melhor é estar em frente à praia. Ponham-se a caminho que a noite é de luxo. Dois andares de música à escolha: em baixo Tiago Santos dos Spaceboys e Johnnie da Cooltrain. Em cima, Gustavo e Tó Ricciardi. É preciso dizer mais? Oxalá todas as primeiras vezes fossem assim.../Jane
ONDE
Antigo La Villa (praia Tamariz) Estoril
QUANDO
dia 31 a partir das 23h
QUANTO
12€ até às 2h 15€ dp das 2h oferta de 1 bebida"


Feira da Ladra Alternativa
Não é Natal, não é Dia dos Namorados e diz que na Páscoa nem temos que oferecer nada a ninguém. Quer isto dizer que as compras que fazemos podem ser única e exclusivamente dedicadas a...nós, nosotros, ourselves! E é nesta onda de egoísmo narcisista que me levanto da cama este Domingo de sol primaveril (esperemos). Vou-me presentear. Vou à Feira da Ladra Alternativa, que agora muda de sítio. De moda a cerâmica, de fotografia a decoração, encontro de tudo. Criatividade e originalidade são as palavras de ordem. Descontracção é o espírito. Ainda bem que trago cash, só assim posso sair daqui com tudo o que quero! Nada melhor que um dia de auto-consumismo alternativo. Porque eu também mereço. /Marta D’Orey
ONDE
Centro Cultural Dr. Magalhães Lima Largo do Salvador em Alfamaladralternativa@gmail.com
QUANDO
dia 31 da 10h às 21h e dia 1 das 10h às 19h
QUANTO
Entrada livre pagamentos com cash"

Café Royale
Caí no Royale. Está ali há tanto tempo, tão perto de mim e só agora dei por ele. Quer dizer, dar já tinha dado, mas entrar não tinha entrado. Quer dizer, entrar já tinha entrado mas provar, provar é que nunca tinha provado. Aprovado. Nota máxima. Não é apenas a decoração que lhe dá um toque selecto. Tudo o que ali se degusta põe a delirar o palato inquieto. De lanches, doces a jantares, tudo são pequenos manjares. Não há que seleccionar porque a carta é de babar. E ainda tem um cantinho lá fora que nos abriga da confusão sonora. Artisticamente tapado com guarda-chuvas (a abrigar do calor ensolarado), sentimo-nos protegidos...no meio do Chiado. /Jane
ONDE
Lg. Rafael Bordalo Pinheiro, nº29 ChiadoReservas: 21 346 91 25
QUANDO
Seg. a Sáb. das 10h às 24h Dom. (não há jantares) das 10h às 20h
QUANTO
não barato não caro"

Por alguma coisa tem este nome não é? :)

Liderança, procura-se!

Wednesday, March 28, 2007 | 0 Comments

Para uma concretização de um projecto de vida e profissional acima da média são essenciais desempenhos e atitudes de excelência. Não chega ser um homo faber, é preciso reunir vontades e estar embuído de um espírito transformacional que leve os que nos circundam a fazer melhor, porque deles dependemos.
Numa organização a liderança é essencial à sua sobrevivência a longo prazo e flexibilidade, tanto mais numa cultura como a nossa onde a desconfiança e oportunismo face ao outro são frequentes. São os dirigentes da empresa que a transformam de organização formal numa reunião de pessoas. Para isso, terão que prosseguir cinco objectivos diferentes e complementares:
Estabelecer os objectivos estratégicos: Ao contrário das empresas tradicionais, onde a estratégia é algo de muito bem planeado e que implica uma certa rigidez, numa empresa o papel da liderança é a de provocar os colaboradores a encontrarem novas formas de atingir os objectivos da empresa.
Definir as fronteiras estratégicas: A liderança tem que definir quais são os limites onde a empresa vai operar: limites geográficos, psicográficos, sectoriais, etc., de modo a evitar um fluxo de novas ideias que se arriscam a colocar a empresa fora da sua rota estratégica aumentando a dispersão e, consequentemente, a confusão.
Questionar as fronteiras estratégicas: Apesar da importância de definir fronteiras estratégicas é também decisivo que estas fronteiras não sejam completamente fechadas. Se algum colaborador tiver uma ideia fora dos limites previamente estabelecidos mas que se enquadre numa visão mais alargada da empresa, tem que poder apresentar a sua proposta.
Promover a troca de ideias: Não basta aos líderes estabelecer os objectivos e as fronteiras estratégicas. Têm de encorajar os seus colaboradores a inovar ao nível dos produtos, serviços, procedimentos e relacionamentos, participando activamente nas discussões. Isto só é possível se se criar um clima propício dentro da organização.
Tomar as decisões em tempo real: Como as decisões precisam de ser tomadas com extrema rapidez, os líderes não podem analisar cada questão com ponderação. Em consequência deverão ter muita confiança nos seus subordinados, na primeira linha, e delegar-lhes parte apreciável das decisões. O empowerment é essencial para a organização poder reagir rapidamente dando a cada um espaço de responsabilização onde pode testar as suas ideias e refrescar o sistema com inovação acrescentando-lhe valor.
Liderança entre os nossos e onde quer que nos movamos torna-se assim o cimento que leva a comunicação mais longe, à acção comum, significado primeiro da palavra.


Liderança é:

O wasabi no meu sushi.

A cereja no topo do bolo.

O atum da tosta quentinha.

A pipoca que acompanha o filme.

O aroma do chá quente.

Aquele "mais um passo" que damos quando pensavamos não ter força.

Son(h)inho

Tuesday, March 27, 2007 | 0 Comments

do Lat. somniare < somniu, sonho

v. int.,ter sonhos;
dormir sonhando;

entregar-se a fantasias e devaneios;
ter ideia fixa;

v. tr.,ver;
imaginar em sonhos;
supor;
prever.

Hoje...estamos em brasa!

Friday, March 23, 2007 | 1 Comments



.....é dia de deitar mãos às armas!

To special afterhours friends

Friday, March 23, 2007 | 1 Comments

The dancer

He came riding fast like a phoenix out of fire flames
He came dressed in black with a cross bearing my name
He came bathed in light and the splendor and glory
I can't believe what the lord has finally sent me

He said dance for me, fanciulla gentile
He said laugh awhile, I can make your heart feel
He said fly with me, touch the face of the true God
And then cry with joy at the depth of my love'

Cause I've prayed days, I've prayed nights
For the lord just to send me home some sign
I've looked long, I've looked far
To bring peace to my black and empty heart

Ah, ah, ahAh, ah, ah, aaaaaah !
My love will stay 'till the river bed run dry
And my love lasts long as the sunshine blue sky
I love him longer as each damn day goes

The man is gone and heaven only knows'
Cause I've cried days, I've cried nights
For the lord just to send me home some sign
Is he near ? is he far ?
Bring peace to my black and empty heart

So long day, so long night
Oh Lord, be near me tonight
Is he near ? is he far ?
Bring peace to my black and empty heart.
PJ Harvey
With a friend
Um obsessivo cumplusivo, uma vida vazia de afectos, uma infância difícil...motivos de uma vida que perde o sentido e se deixa empurrar para o suícido. A ausência de vontade e a frustração que curiosamente só começam a ganhar contornos humanos nas repetidas, tentativas de aceder à morte, uma história filosófica por dentro e bem disposta por fora a ver e rever entre uma torrada a escorrer manteiga e a decisão por agir em vez do lamento.
Excelente produto nacional.

With my lover













O Véu Pintado
"Por vezes, a maior viagem é a distância entre duas pessoas". Somerset Maugham

"O Véu Pintado" relata a história de amor de um casal inglês durante os anos 20. Walter, um médico com raízes na classe média, e Kitty, uma mulher da alta sociedade, estão unidos pelo matrimónio por razões meramente pragmáticas. Depois do enlace, viajam para Xangai, onde se sucedem uma série de desencontros e a relação se deteriora. Numa tentativa quase suicida de por fim à relação Walter arrasta-os para o interior do país para combater a cólera. A viagem até este lugar de paisagens belíssimas acaba por ter o efeito inverso e levá-los a descobrir o significado da vida e da alma um do outro...
Esta é a terceira adaptação cinematográfica do livro escrito por Somerset Maugham em 1925. Nove anos depois de a obra dar à estampa, Greta Garbo e Herbert Marshall reviviam a aventura num filme de Richard Boleslawski ("O Véu das Ilusões"). Em 1957, a história regressa ao grande ecrã pelas mãos de Ronald Dreame em "O Sétimo Pecado", com Eleanor Parker e Bill Travers nos principais papéis. E agora mesmo à mão de semear em qualquer sala perto de vocês, não percam...

Página Oficial


With my best friends













Pequenas Flores Vermelhas
Qiang é um pequeno rebelde de 4 anos, com uns olhos luminosos e uma vontade precocemente indomável. Por motivos profissionais, o pai de Qiang deixa-o num infantário residencial bem provido na Pequim pós-1949.
A vida no infantário aparenta ser divertida, feita de uma variedade de rituais animadamente radiosos e de jogos com o intuito de instruir estas crianças a serem bons membros da sociedade.
Mas não é fácil para Qiang adaptar-se a este tipo de vida, em grupo, cuidadosamente organizada e uniformizada, examinada minuciosamente ao minuto. Incapaz de se encaixar no ambiente mecanizado e rígido do colégio, depois de sofrer pela sua difrença e de ser afastado de e por todos, gradualmente, o seu carisma começa a ganhar magnetismo perante os colegas e as suas pequenas rebeliões ganham força. Esta é uma luta entre o regime adulto feito à medida para formar subservientes a um regime e o mundo de uma criança com a sua própria determinação e sonhos. Pelo meio, um mundo de afectos, descobertas e redutos de fuga.










Dia Mundial da Poesia

Wednesday, March 21, 2007 | 0 Comments


Klimt -poesie
liberdade
Nos meus cadernos de escola
no banco dela e nas árvores
e na areia e na neve
escrevo o teu nome
Em todas as folhas lidas
nas folhas todas em branco
pedra sangue papel cinza
escrevo o teu nome
Nas imagens todas de ouro
e nas armas dos guerreiros
nas coroas dos monarcas
escrevo o teu nome
Nas selvas e nos desertos
nos ninhos e nas giestas
no eco da minha infância
escrevo o teu nome
Nas maravilhas das noites
no pão branco das manhãs
nas estações namoradas
escrevo o teu nome
Nos meus farrapos de azul
no charco sol bolorento
no lago da lua viva
escrevo o teu nome
Nos campos e no horizonte
nas asas dos passarinho
se no moinho das sombras
escrevo o teu nome
No bafejar das auroras
no oceano dos navios
e na montanha demente
escrevo o teu nome
Na espuma fina das nuvens
no suor do temporal
na chuva espessa apagada
escrevo o teu nome
Nas formas mais cintilantes
nos sinos todos das cores
na verdade do que é físico
escrevo o teu nome
Nos caminhos despertados
nas estradas desdobradas
nas praças que se transbordam
escrevo o teu nome
No candeeiro que se acende
no candeeiro que se apaga
nas minhas casas bem juntas
escrevo o teu nome
No fruto cortado em dois
do meu espelho e do meu quarto
na cama concha vazia
escrevo o teu nome
No meu cão guloso e terno
nas suas orelhas tesas
na sua pata desastrad
aescrevo o teu nome
No trampolim desta porta
nos objectos familiares
na onda do lume bento
escrevo o teu nome
Na carne toda rendida
na fronte dos meus amigos
em cada mão que se estende
escrevo o teu nome
Na vidraça das surpresas
nos lábios todos atentos
muito acima do silêncio
escrevo o teu nome
Nos refúgios destruídos
nos meus faróis arruinados
nas paredes do meu tédio
escrevo o teu nome
Na ausência sem desejos
na desnuda solidão
nos degraus mesmos da morte
escrevo o teu nome
Na saúde rediviva
aos riscos desaparecidos
no esperar sem saudade
escrevo o teu nome
Pelo poder duma palavra
recomeço a minha vida
nasci para conhecer-te
nomear-te
liberdade." (e também Igualdade e Fraternidade - sempre, como um desejo)
Paul Eluard
trad.de Jorge de Sena

Hug

Wednesday, March 21, 2007 | 0 Comments




















"Tão bom que deve ser o teu abraço!
Lânguido e doce como um doce laço
E como uma raiz, sereno e forte.
Não há mal que não sare ou não conforte "
Florbela Espanca

Função Vitalícia :)

Tuesday, March 20, 2007 | 0 Comments




Decidir, a liberdade em acção

Tuesday, March 20, 2007 | 0 Comments

No mundo actual, as correntes filosóficas já não se confinam à universidade nem são apanágio de filósofos dedicados ao ócio, no seu antigo significado, a filosofia é parte consciente de muitos gestores, empresári@s e cidadãos activos.
Neste mundo conturbado onde por vezes valores se sacrificam à luz de objectivos surge cada vez mais a decisão. Não é, contudo, a decisão por falta de escolhas ou irreflectida, nem tão pouco a decisão pessimista por se achar que a paira sobre nós uma qualquer fatalidade, é a escolha positiva feita em liberdade que pretende destruir a passividade e desinibir a capacidade de optar que nos convoca a consciência de sermos nós próprios motores de transformação e realização de boas acções. Uma posição comprometida existencialmente que constrói diariamente a essência do ser humano e em última instância de toda a humanidade, uma vez que cada ser lhe dá corpo. Sartre diz que o homem em sentido restricto é um ser determinado pela sua própria liberdade.
Mais nenhuma animal tem este tipo de preocupações, mais nenhum animal se tem a si como um projecto pelo qual é responsável, nem se sente só perante um momento de escolha que determinará a sua própria reinvenção. Esta é uma perspectiva da liberdade que por vezes nos escapa, mas é sem dúvida aquela que, vivendo nós num estado de direito onde a prisão física apenas cabe aos que quebram as leis, mais exercemos e sobre a qual devemos reflectir.

Bêábá

Monday, March 19, 2007 | 0 Comments

O processo de aprendizagem pode ser definido de forma sintética como o modo como os seres adquirem novos conhecimentos, desenvolvem competências e mudam o comportamento. Ora quando nos predispomos a aprender - pois é por um acto voluntário e auto-motivado - predispomo-nos igualmente a alterar por dentro e por fora pensamentos, atitudes e comportamentos que entretanto interiorizámos bem como a sua transferência e adequação a novas situações.
Contudo, sendo a aprendizagem é um fenómeno extremamente complexo, o qual envolve aspectos cognitivos, emocionais, orgânicos, psicossociais e culturais, tal processo pode tornar-se difícil, penoso e pode mesmo parecer contraditório, causando-nos desconforto e sentimentos de angústia. É devido aos nossos pressupostos e expectativas sobre nós mesmos e os outros que nos desiludimos tão frequentemente. Sobre nós mesmos a exigência é legítima, sobre os outros apenas podemos ter esperança e tolerância para que evoluam ao seu próprio ritmo.

Há dias em que me exaspero. Comigo e com os outros. Outros mais em que me alegro. Comigo e com os outros. Felizmente não há aqueles em que não me importe.

Hoje aprendi mais um pouco sobre como controlar as minhas falhas. :)
"Encontrei divulgação do melhor na publicação LeCool:
Ora espreitem que vale bem a pena. Coisas bem feitas assim até dá gosto."

(arrastão do blog Princípios da Incerteza)

Silêncio

Monday, March 19, 2007 | 0 Comments


Às vezes para sarar as feridas basta apenas que olhar para ti, saber-te sentada a meu lado, para que me lembre do que realmente importa. Saber que as palavras a rasgar os laços como facas não podem ser deixadas, saber que o tempo não pode assentar como uma dor sobre os nossos olhos rasos de lágrimas ou sobre o peito marcado pela dor ou mágoa ou desilusão. Essa não és tu dentro dos meus olhos, nem do meu peito, nem sequer quando nasce das minhas mãos. Tu és aquela que eu escolhi para estar sempre, tirando o meu companheiro, o meu sócio que me ampara e alavanca, tu és a minha pequenina, a minha irmã mais nova e a minha irmã mais velha, aquela que me conheceu quando eu era uma miúda com projectos para ser muitas mulheres diferentes, e que fez nascer dessas uma só, a mulher que sou hoje seria outra se tu não tivesses estado lá.
Talvez o silêncio seja a nossa melhor maneira de conversar aquela que ensaiamos tantas vezes, apenas nos gestos e no olhar. Talvez o resto não tenha de todo importância, apenas saber que estás...

My thoughts

Friday, March 16, 2007 | 1 Comments


Palcos II

Wednesday, March 14, 2007 | 0 Comments


Gosto dos venenos mais lentos,
das bebidas mais amargas,
das ideias mais extravagantes,
dos pensamentos mais complexos e dos sentimentos mais fortes.
Tenho um apetite voraz e delírios a raiar a loucura.
Até me podes empurrar de um penhasco que eu vou dizer:

"E daí? Eu adoro voar...!!!"

Palcos

Wednesday, March 14, 2007 | 0 Comments

Eu tenho uma espécie de dever,
dever de sonhar,
de sonhar sempre,
pois sendo mais do que um espetáculo de mim mesmo,
eu tenho que ser
o melhor espetáculo que posso.
E assim me construo a ouro e sedas,
em salas supostas,
invento palco,
cenário para viver o meu sonho
entre luzes brandas e músicas invisíveis.
Fernando Pessoa

Sossegar

Tuesday, March 13, 2007 | 0 Comments

Respirar fundo. Calar.
Sentir o calor inundar-nos por dentro.
Os sons do mundo filtrados pela água.
Tornar a retomar o centro.
Sossegar. Calar.
Os olhos fechados para o exterior.
Todas as cores trancadas por dentro.
O mundo lá fora a correr desvairadamente.
Respirar o alento, retomar o centro.
Acalmar. Calar.
Respirar fundo. Calar.
Sossegar. Calar.
Calar.

Família de afectos

Tuesday, March 13, 2007 | 0 Comments

Não sei se decidi ou se foi assim porque o destino nos tocou. Não sei se combinamos ou como foi que nos encontramos, porque entraste nesta casa, na minha vida, em mim. Tomaste o vinho dos meus labios, o mel do meu peito, embriagaste-te no nacar da minha pele. O meu pensamento ganhou nova forma e depois dessa outra ainda. Jamais sairemos impunes, porque o esquecimento nos ficou vedado.
Jamais decidi assomar-me a ti nem tão pouco permiti que tomasses o meu vinho, nem o meu mel, nem as minhas essencias. Vieste misturar o azar e as rosas e os dias ganharam outro perfume. Cultivo diariamente mil essências no meu jardim e parte delas és tu e tu és muitos. Essências refinadas para os convidados do meu corpo e do meu espírito. Não os distingo em preferência, nem tenho de os conhecer a todos em anos. Por ti cresço e torno-me mais forte. Não que a decisão esteja fora de mim, mas porque o amor que te tenho é móbil dessa decisão.Todas as manhãs olho na direção da tua insolênte intromissão em mim e sorrio, sou tudo aquilo que me trouxeste aos bocados, filtrado por ti, aprendido por ti. Sem ti seria outra, porque era preciso a pá, a terra e o tijolo por esta ordem para o nascer da casa.
Todas as manhãs pergunto se terei mais um dia para prosseguir esta nossa obra. Tomarei o vinho dos teus labios, o mel do teu peito, embriagar-me-ei no nacar da tua pele.

Resumo do fim de semana

Monday, March 12, 2007 | 0 Comments

Amigos, sol, comidinha gostosa e relax...

Uma última homenagem

Saturday, March 10, 2007 | 0 Comments

Maria Manuela Conceição Carvalho Margarido, morreu aos 82 anos, no hospital São Francisco Xavier, onde se encontrava hospitalizada.
A poetisa nasceu em 1925, na Roça Olímpia, na ilha do Príncipe, e desde cedo abraçou a luta pela independência do arquipélago e contra a repressão colonialista, denunciando com a sua escrita a miséria em que viviam os são-tomenses nas roças do café e do cacau.
Estudou Ciências Religiosas, Sociologia, Etnologia e Cinema na Sorbonne de Paris, onde esteve exilada. Foi embaixadora do seu país em Bruxelas e junto de várias organizações internacionais.
Em Lisboa, onde viveu, Manuela Margarido empenhou-se na divulgação da cultura do seu país, sendo considerada, a par de Alda Espírito Santo, Caetano da Costa Alegre e Francisco José Tenreiro, um dos principais nomes da poesia de São Tomé.
Entre outras funções, foi membro do Conselho Consultivo da revista Atalaia e do Centro Interdisciplinar de Ciência, Tecnologia e Sociedade da Universidade de Lisboa (CICTSUL).
«...
Memória da Ilha do Príncipe
Mãe, tu pegavas charroco
nas águas das ribeiras
a caminho da praia.
Teus cabelos eram lembas-
lembas,
agora distantes e saudosas,
mas teu rosto escuro
desce sobre mim.
Teu rosto, liliácea
irrompendo entre o cacau,
perfumando com a sua sombra
o instante em que te descubro
no fundo das bocas graves.
Tua mão cor-de-laranja
oscila no céu de zinco
e fixa a saudade
com uns grandes olhos taciturnos.
....»

O Meu Amor

Friday, March 09, 2007 | 1 Comments




O meu amor tem um jeito manso que é só seu
E que me deixa louca quando me beija a boca
A minha pele toda fica arrepiada
E me beija com calma e fundo
Até minh'alma se sentir beijada
O meu amor tem um jeito manso que é só seu
Que rouba os meus sentidos, viola os meus ouvidos
Com tantos segredos lindos e indecentes
Depois brinca comigo, ri do meu umbigo
E me crava os dentes
Eu sou sua menina, viu? E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha do bem que ele me faz
O meu amor tem um jeito manso que é só seu
De me deixar maluca quando me roça a nuca
E quase me machuca com a barba mal feita
E de pousar as coxas entre as minhas coxas
Quando ele se deita
O meu amor tem um jeito manso que é só seu
De me fazer rodeios, de me beijar os seios
Me beijar o ventre e me deixar em brasa
Desfruta do meu corpo como se o meu corpo
Fosse a sua casa
Eu sou sua menina, viu? E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha do bem que ele me faz
Música e letra de Chico Buarque
para o filme "Ópera do Malandro"de Ruy Guerra 1985

Three cats sleeping

Friday, March 09, 2007 | 0 Comments

we are so lazzzzzzzzzzzy...miauuuuuuuuu

Pencilmation

Thursday, March 08, 2007 | 1 Comments


Têm de espreitar esta animação. É mesmo gira, gira, gira, a malandra. Daquelas que até irrita de serem tão giras. Só visto!
Para mais animações espreitem também http://www.pencilmation.com

Wallpapers de encantar

Thursday, March 08, 2007 | 0 Comments

http://desktop-it.blogspot.com/search/label/Browse%20all%20Wallpapers?max-results=1000000





IKEA world

Thursday, March 08, 2007 | 0 Comments

Hoje venho falar do IKEA. Pois é, a catedral do móvel com estilo, baratinho e para quem aprecia a bricolage no conceito pragmático do “do it yourself” e o carrega-o yourself.
Para aqueles que pensavam que isso era em Paços de Ferreira, desenganem-se. É mesmo ali em Alfragide, num mega espaço ao estilo pirâmide do Egipto do móvel e ainda por cima têm um refeitório catitíssimo com uns rolos suecos de salmão deliciosos para uma pausa merecida depois da caminhada herculia entre prateleiras, cozinhas, sofás e móveis de todos os géneros e feitios, já para não falar dos nomes inomináveis das colecções que depois temos de pedir gaguejando no nosso melhor sueco aos simpáticos senhores de camisola azul: quero a estrutura URDEN, na cor VÄRDEN, bancada TIDAHOLM, com superfície LINJÄR por favor! Ele é de loucos. O Nuno Markl tem uma teoria sobre a forma como são inventados os nomes dos móveis do IKEA: “Eu acho que os nomes dos objectos do Ikea não querem dizer nada. Eu acho que, a cada peça nova que eles criam, há um computador que gera uma nova combinação de letras. Ou um tipo que foi contratado para tirar peças de Scrabble de um saco. Quando lhes saiu BILLY foi por mera sorte. Não admira que eles digam que a estante BILLY é o best-seller deles. É o único nome que um desgraçado consegue dizer sem receio de se enganar. “Quero uma estante MKOLSKN… MKOLKN… MKLO… Eh pá, esqueça - quero uma BILLY, porra.”
Desta vez o que nos levou lá foi a cozinha. A nossa cozinha precisa urgentemente de reforma. Os móveis têm uns 50 anos, estão empanados, feios e pior ainda, denunciam o perigo de derrocada eminente devido ao peso que suportam todos os dias, além da falta de uma mesa para refeições.
Só que há um problema grave na nossa cozinha: é mesmo pequenina. Pequenininha, pequeniníssima. Mas há uma coisa fantástica no IKEA: além de um programa catita que nos é oferecido em CD para construir virtualmente o espaço e arrumar os correspondentes móveis do catálogo, têm uma outra coisa que me deixou deslumbrada: uma maqueta real, em cartão, com as peças correspondentes aos electrodomésticos e demais acessórios e móveis, com íman que agarram à estrutura cartonada. Aquilo foi a loucura! Aquilo é que era um brinquedo que eu gostaria de ter tido nas manápulas aos 10 anos, ora bolas. Mas não faz mal, continuo a gostar na mesma. E foi ver-me agarrada às peças, na loucura viciante que um lego sempre exerceu em mim, a construir seriamente, brincando aos designers de interiores, naquilo que seria a minha futura cozinha. Claro que giro, giro era poder abrir com um giz mágico (como no Labirinto do Fauno) uma porta na parede ou poder alargar dessa forma a pequenez da minha humilde cozinha, mas lá que deu para sonhar deu. Obrigada IKEA, por este belo momento!
Gosto da forma como alargam os nossos conceitos e como algumas das suas soluções resultam claramente do pensamento “out of the box”. Ora vejam o link abaixo: http://www.ikea.com/ms/pt_PT/PS/index_content.html

Strenght

Thursday, March 08, 2007 | 0 Comments

Eu não tenho forças para me suster,
mas a ti seguro-te sem que o peso me possa vencer,
Eu não tenho respostas para te dar
mas tenho por vontade fazer-te acreditar.

Eu sei que os dias são cruéis
mas podemos nós
evadir-nos em pincéis?

Dizes que não és assim
que não te podem corromper
mas onde esta a verdade
do que nos poderá fazer vencer?

Gostava que o mundo fosse um conto de fadas
as manhãs a cheirar a laranjas
tenho saudades dessas manhãs entrelaçadas
da leveza luminosa com que te arranjas.

Dou-te a minha mão, pedaço de corpo
sangue, giz
encosta-te a mim
na promessa que não se diz
na luta
na crença
no beijo
na pertença
no desejo
Anda, havemos de nos erguer
nessa altura, nada nos poderá deter!


I've never written a poem
That didn't end in tears
Maybe you'll rewrite it
If you can replace my fears
I need your patience and guidance
And all your lovin' and more
When thunder rolls through my life
Will you be able to weather the storm?
There's so much I would tell ya,
I don't know why this armor
This stumble emotions
I feel I must protect
but I prefer bleed with cuts
having my mistakes and scars
Then live a life of handcuffs
So tell me when you look in my eyes
Can you share all the pain and happy times
I change today for the rest of my life
I'll put away this arrogance
and the glamorous cutting knife
This is my very first poem
That didn't end in tears
I think you re-wrote my soul
for the rest of my years.




















When you’re feeling sad & blue
And have no clue what to do
Sit down and have a cup of tea
And a hug or two or maybe three
Feel those troubles melt away
And start you on a better day.

Cenas de Gaja

Tuesday, March 06, 2007 | 1 Comments

Hoje este post vai direitinho para ti Chihiro. Não que os outros não o sejam.

Mas hoje descobri uma cena de gaja fenomenal: Chama-se Shoewawa e é um site dedicado à shoemania no seu estado mais puro: http://wirelessdigest.typepad.com/shoewawa/new_shoes/
Fica este miminho diferente, num dia chuvoso e escuro.
A beleza é digna de contemplação apenas por si e não pela posse das coisas. Portanto cá fica uma verdadeira obra de arte de um artíficie do mundo da moda: Jonh Galliano. Para contemplar e varrer o cinzento do dia.

O Canto das Sereias

Tuesday, March 06, 2007 | 2 Comments

Era uma vez uma ilha no Mediterrâneo onde viviam sereias lindíssimas e perigosas, cujo canto atraía os navegantes de forma irresistível. Ao aproximarem-se da ilha, os seus barcos embatiam nos recifes e naufragavam. As sereias de seguida devoravam as suas vítimas. O herói homérico de Odisseia, Ulisses, aplicou uma solução simples porém eficaz: ordenou à sua tripulação que tapasse os ouvidos com cera e fez-se amarrar ao mastro, não podendo soltar-se de forma alguma, ainda que gritasse para isso. Sobreviveram. A ideia de Ulisses partiu do reconhecimento de sua própria fraqueza. Ele sabia que no impulso do momento, qualquer reflexão mais sóbria ponderando o longo prazo seria inócua. A sua racionalidade foi capaz de pesar isso na balança das preferências temporais, e dessa forma salvou-se a si e à sua tripulação do fatal canto das sereias.
Além de escolher a melhor estratégia a ser executada, a razão tem a seu encargo a manutenção de uma hierarquia coerente de valores eleita pelo próprio sujeito. Para exercer bem essa função, por vezes é preciso o uso de recursos externos que comprometa o indivíduo a agir no sentido de atender aos seus desejos, sem prejudicar o plano de vida traçado. O acumular de informações fornecidas pela experiência e pela aprendizagem, bem como o máximo de evidências presentes, são a matéria-prima com a qual se poderá seleccionar a acção pertinente. Jon Elster, na sua obra sobre a racionalidade, Ulysses and the Sirens (Ulisses e as Sereias, 1984), como também em Peças e Engrenagens das Ciências Sociais (1989), defende a tese de que quando a razão por si só não é capaz de impor uma escolha pela acção mais eficiente, ela procura um meio indirecto de comprometer o agente com uma conduta que preserve a sua racionalidade acima da fraqueza da vontade. Ou seja, quando a razão é “imperfeita”, a melhor maneira de alguém evitar uma atitude irracional seria o comprometimento, sob algumas condições definidoras, com várias restrições inibidoras que limitassem o predomínio de desejos prejudiciais à obtenção de um fim. Assim, Ulisses, por não ser completamente racional, precisava de se atar ao mastro do seu navio, a fim de ouvir o canto das sereias sem se atirar ao mar bravio. Embora demonstre uma fraqueza quanto ao desejo irresistível de ouvir as sereias, o personagem principal da Odisseia tão pouco é um hedonista desvairado que se entregue a seus desejos imediatos de modo irrestricto. Por isso, faz uso de um recurso adicional à razão, para poder escutar a maravilhosa voz das sereias e continuar vivo depois. Por um lado, ele atende a um impulso imediatista e, por outro, preserva o horizonte mais amplo de sobrevivência. Mantendo-se preso ao mastro poderá lograr chegar ao seu destino final, enquanto satisfaz os seus desejos pelo caminho, moderadamente.
Tudo gira em torno dos desejos, como se estes fossem elementos independentes que a razão deve satisfazer da melhor maneira, tendo em vista o resultado global e não meramente local. A razão visa, então, atender à maximização dos desejos, numa perspectiva mais ampla, considerando não apenas o resultado imediato esperado, mas, sobretudo, uma satisfação geral posterior. Preservar a racionalidade diante dos sentimentos e emoções é estabelecer uma relação económica na qual se procura a proporção mais adequada de usufruto dos recursos disponíveis de uma maneira plena, ao longo da vida, evitando o desperdício e a escassez.
Na interacção entre agentes, a pessoa escolhe racionalmente quando restringe os seus propósitos de perseguir os seus interesses, segundo princípios imparciais de aspecto moral. Cada ser racional entenderia a estrutura dessa interacção e reconheceria o lugar para restrição mútua e para dimensão moral de seus assuntos. A razão prática, portanto, está ligada a interesses de utilidade individual e restrições racionais à obtenção dos objectos dos interesses.

O labirinto do fauno

Tuesday, March 06, 2007 | 1 Comments

Para aqueles que como eu já estão habituados a esquisitices, e sobretudo às esquisitices de Guillermo Del Toro, este filme é algo expectável. Na linha de Hellboy, Blade 2, Cronos, Mutação e, principalmente, A Espinha do Diabo, este universo fantástico de criaturas míticas profundamente trabalhadas e fabulásticas cai que nem ginjas na imaginação dos mais sonhadores. Existe em Del Toro uma tendência macabra em ferir-nos os olhos com imagens de violência duvidosa, propensas ao mau-estar e à náusea mas sempre com uma preocupação estética exemplar. É uma espécie de esteta à la série B. Confesso que tenho estomâgo fraco e que a atracção destes filmes em mim seja idêntica à da traça pela luz. Este é um exemplo de um caldo cultural único que parece juntar na mesma panela a crueldade estetizada de Goya até as circunstâncias escabrosas da literatura de H. P. Lovecraft, onde cabem a Alice no País das Maravilhas, A História sem Fim, Labirinto e As Crónicas de Nárnia.
Extremamente lírico, “El Labirinto del Fauno” conta uma história fantástica que se apresenta como fuga aos horrores de uma guerra sangrenta (os anos 30 da Guerra Civil Espanhola), mas que ninguém pense que por oferecer uma fantasia o filme é leve. Muito pelo contrário, é um filme intenso, duro e acutilante, sem ponta do sabor açucarado dos contos infantis e conta até com um vilão extraordinário (fantástico trabalho de Sergi López) -um oficial fascista, mau por natureza, sem sequer um pingo de bondade ou humanidade.
Ofélia (Ivana Baquero), uma menina fascinada por contos de fadas, descobre um misterioso labirinto e com ele um mundo onde a realidade e o imaginado se interseccionam numa contiguidade que os torna parte do mesmo. Porque ao mesmo tempo que conhece um universo paralelo, de fadas, seres estranhos e missões a serem cumpridas, Ofélia também é apresentada às monstruosidades da realidade, sintetizada na figura caricata de seu padrasto, Vidal (Sergi López). O mundo real, contudo, é filmado de forma mais rude e tenebrosa pois nenhuma criatura do universo fantástico pode ser equiparada à sede sádica de Vidal.
Cada uma das narrativas caminha em paralelo sem uma alterar a outra. A fantasia será sempre uma forma de resistência à realidade, mas não uma estratégia de transformação. Está mais para refúgio e, na visão do filme, essa solução é similar à dos rebeldes na floresta. Tanto os guerrilheiros em luta como Ofélia no labirinto dos seus livros e da sua imaginação recusam-se a pertencer a uma determinada ordem. No entanto, se existe um elogio à rebeldia como ponto de partida, a desobediência, tanto para o oficial fascista como para o fauno, é algo a ser punido. Em um e outro mundo, existem regras rígidas, embora no da fantasia haja uma segunda chance. Não deixa de ser paradoxal ainda que, enquanto se luta na floresta por uma república democrática, na fantasia a consagração esteja na monarquia. Todo o percurso e todos os desafios vividos por Ofélia são para que seja reconhecida e confirmada como princesa do mundo das trevas.

Sem fantasia, sem imaginação, sem histórias de encantar, sem alguma crença em algo fora da matéria, a vida fica mais difícil. Essa é mensagem deste nosso refúgio onde todos os dias escrevemos e também a difundida pel' O Labirinto do Fauno.
Imperdível meus amigos.
http://www.sapo.pt/especial/olabirintodofauno/

Dreamgirls

Monday, March 05, 2007 | 0 Comments

"Dreamgirls" não é um filme genial do ponto de vista cinematográfico, mas é puro entretenimento com excelente banda sonora e fotografia das 3 protagonistas. Baseado no musical homónimo, que estreou na Broadway em 1981, é uma boa revisão da música negra americana da década de 60, revisitando o momento histórico em que as primeiras estrelas afro-americanas ganharam poder até ao momento em que o carácter mercantilista da indústria vingou. A narrativa é baseada na história de Diana Ross e das Supremes, sendo esta contada através de um trio feminino com um percurso semelhante, inicialmente denominado The Dreamettes. As três raparigas de Detroit são descobertas pela recém-inagurada Motown e fazem sucesso com o ingénuo doo-wop da época. Quando a líder e voz forte do grupo é trocada pela mais bonita, os seus temas começam a figurar nos tops entre os mais populares. Para manter essa posição há que seguir a corrente e ir acompanhando os gostos do público; por isso elas abandonam a soul e vão enveredando pela disco music da década de 70. O papel de jeitosa sem grandes dotes vocais (supostamente inspirado em Ross) coube a Beyoncé, a ela juntam-se ainda Jamie Foxx, na pele de produtor todo-poderoso; Eddie Murphy, um cantor decadente, mistura de James Brown com Marvin Gaye, e a estreante Jennifer Hudson, que é Effie, a cantora preterida que canta que se farta; todos eles em grande forma. Para além do lado histórico da película (podemos reconhecer por lá outras estrelas da época como os Jackson 5, "Dreamgirls" tem ainda como pontos fortes uma primorosa direcção artística, os figurinos e claro a banda-sonora. Depois de prestar homenagem aos musicais da Broadway com "Chicago", Bill Condon faz o mesmo pela música negra americana.
Vale a pena verem pela emoção vibrante de cada nota e de cada cena!

















http://www.dreamgirlsmovie.com/

Pretty puppet girl

Sunday, March 04, 2007 | 0 Comments

Mariazinha saiu das aulas pôs o carro a trabalhar com uma voltinha de chave e rumou a casa do seu amorzinho. Era menina atinada. Estudava agora para uma promoçãzinha. Já que no trabalhinho a concorrência era forte. Tinha um amor antigo que cumpria como as pedras de um terço. Já havia tentado outros homens que lhe enchessem as medidas, mas a coisa correram mal e Mariazinha na ânsia de não se ver sozinha, depois de casados todos os seus amiguinhos que já a olhavam de soslaio por aquele descasado desatino, resolveu, reconsiderar a sua felicidadezinha em troca de algum sossego. Estava cansada das horas ao computador a moerem-lhe os olhinhos à podridão e cambaleava nas curvas cumprindo a longitude das duas faixas de rodagem. As lágrimazinhas eram sacudidas no parabrisas. Não tinha a certeza de chegar ao destino no meio daquele sono atordoantezinho, mas já não se importava grandemente com isso.
Lá chegou remoendo palavrazinhas imperceptíveis e rolou para dentro da cama sem mais suspiro. Acordou nos braços musculados do seu prometido, cumpriu a sua obrigaçãozinha de mulher ainda meio a dormir, escancarada como uma porta sem vontade, feita para abrir e fechar à vontade de pulsos.
Comeu o pequeno-almocinho na caminha, depois deram os dois uma volta de carrinho. Ela pensava que havia de falar de qualquer coisa, mas tinha o cérebro vazio como os cartuchos de bala depois de disparados. Falava ele de qualquer coisa que ela não era capaz de entender, via passar os risquinhos da estrada pelos olhos semicerrados e fingia-se adormecida pelo solzinho para não ter de dar uma única respostazinha. Comeram uma sandezita numa esplanada no meio de outros tantos casais como eles. Voltaram para casinha, fizeram o jantarinho, que a vida não estava para excentricidades de duas refeições fora de casa, e ficaram a ver televisão enroscados num cobertor de tediozinho lampeiro.
Domingozinho. Acordou nos braços musculados do seu prometido, cumpriu a sua obrigaçãozinha de mulher ainda meio a dormir, escancarada como uma porta sem vontade, feita para abrir e fechar à vontade de pulsos.
Desta vez não comeu o pequeno almocinho na caminha porque a generosidade era só para os recém chegados e ela já lá estava havia mais de 24h. Sairam aprumadinhos para almoçar na casa da mãezinha. Depois tomar o cafezinho e voltar a casa antes de se fazer à estrada outra vez para mais um semaninha de trabalho. Pegar na trouxinha e arrastar-se até ao carro que se arrastou no caminho inverso.
Ainda pensou em cortar os pulsozinhos ou simplesmente deixar escorregar o carro para fora da filinha de pasmaceira sem ninguém dar por nada, mas a Mariazinha era um putazinha hipocrita sem coragem.

Unspoken

Friday, March 02, 2007 | 0 Comments
















Não me perguntes nada,
Não me peças nada
Eu quero crer que quero
Mas não sei

Quero querer o que não quero
Quero acreditar
Saber que há um lado certo
Queria crer
Queria morrer
Assim na sombra púrpura
do espelho que me aniquila e desmancha
Sou quase invisível aos olhos
Sou quase ar.

Metamorfosis

Thursday, March 01, 2007 | 0 Comments

O meu post mudou depois do teu.
O que é que és?
O que é que queres ser e porque é que te moves? Eu fico, eu vou.
Eu caio.
Eu imperfeita.
Eu desfeita.
Eu levanto-me.
Choro.
Rio.
Minto.
Sinto.
Recomeço.
Quero tanta coisa que nem sei o que quero nesta minha ânsia de querer sempre mais e melhor.
Tens tantos defeitos.
Tenho tantos defeitos.
Não me centro nos teus, centro-me nos meus, para que melhorando te possa melhorar.
É pouco? Sim, é pouco, quase nada.
Não podemos aspirar a que todos tenham para si esta exigência, este querer. Seria arrogância.
Quando era mais pequena esfolava-me à procura de joaninhas nos arbustos para depois as por a voar e pedir um desejo. Agora não posso ter a ingenuidade de acreditar no poder mágico do seu voo, mas acredito que nesse poder por parte da vontade.
Não penso que tenhamos de nos desgastar a gerir todas as situações injustas, precárias ou inumanas que nos rodeiam, mas penso que o nosso comportamento e convicções influenciam os outros, os que querem e estão preparados para evoluir. Apenas devemos a nós e a esses a responsabilidade de sermos cada vez melhores, e a responsabilidade de, uma vez que não podemos deixar de ser tocados, de não nos deixarmos embeber nessa corrupção velada.

Uma lição difícil....
Se eu me magoo e passo a odiar quem foi insensível comigo, esse problema é MEU, não do outro.
O outro apenas não correspondeu às minhas expectativas, não deu o colo que eu achava que merecia, não foi o amigo que eu queria que tivesse sido.
Ele foi ELE.
EU é que queria que ele tivesse agido diferente.
Então EU sou o responsável pelo que sinto".
Léa Waider

Exorcismo

Thursday, March 01, 2007 | 0 Comments

O que eu penso de ti. Se soubesses tu o que penso de ti. O vómito controlado pelo auto-controlo desmesurado da boa educação.
Se soubesses. És uma gaja porreira. O estilo universal do que se chama de “gaja” quando se diz de forma depreciativa, “Pronto, é gaja!” Muito dada, sem dúvida. Conquistas todos. Sabes sempre dar o sorriso certo, o toque malicioso, a gargalhada certeira.
Todos sabem tudo de ti dizes. Todos sabem quem és, não tens telhados de vidro - pensas tu confiante. Afirmas como convicções próprias frases feitas que ouves nas novelas, na tv ou que lês nas revistas de que não sei o nome. Tens aquela expressão porreira, afável até, mas perturbas naquele riso cínico miudinho de quem à primeira dá a facada nas costas, logo ali no canto da copa. Aquele olhar de soslaio de quem inveja o que de bom os outros têm e que transforma um sorriso em desvario nervoso à mínima contrariedade.
Gostas de parecer sempre discreta. Usas roupas que não revelem formas mas roçaste de forma indecente em todos aqueles de quem poderás retirar algum benefício. E mesmo nos outros também. Não vá o diabo tecê-las e poderem influenciar os primeiros. Mas depois repreendes os seus avanços com palmadinhas secas e maternais, mas revelas a todos a alto e bom som que nunca usas soutien.
Quando alguém te supera minimizas o seu mérito, quando alguém te critica atiras as culpas em todas as direcções menos na da auto-crítica e aprendizagem. Bates no peito, suspiras saudade e distribuis cumprimentos afáveis. Isto quando andas bem disposta.
Refilas por tudo e por nada. Justificas o teu mau humor com “coisas de mulheres”. Corres para o fim do corredor onde fica a casa de banho quando as coisas não te correm de feição, num choro pseudo controlado e numa indignação pueril que parece funcionar e captar a compreensão de todos. Pertences a todos os clubes: os de futebol, os do cigarro, os da disco in da moda. Nada de política que isso é de gente corrupta e “eles” só querem poleiro. Nada de associações humanitárias que “sou uma boa pessoa e contribuo imenso quando posso, de resto é só hipócritas”. Nada de organizações cívicas “que isso é de mulheres que não têm mais que fazer, mas acho que alguém deve participar nisso”. Não votas porque “é tudo uma cambada de comilões que não merecem o meu esforço”.
Criticas quem passa por ti se for bonito. A beleza é algo que te ofende, principalmente se não for a tua ou aquela aceite pelos teus parâmetros. A beleza reprimida, tímida, enclausurada pela calça decente e o camisolão discreto. O cabelo apanhado. O olhar provocante mas dissimulado. Os toques casuais pensados ao ínfimo pormenor.
O pior, o pior mesmo é que enquanto escrevo isto sinto-me quase tu. Pior do que tu. Sinto-me má na minha consciência da revolta e da intolerância que te tenho.
Exorcizo-me nestas linhas, tento tirar-te de mim. A minha língua bífida não tem igual neste momento. O mal é algo que se infiltra em nós como a humidade pegajosa numa parede escurecida. A minha consciência grita para que me cale e te compreenda. Não tenho o direito de te julgar. Sinto-me ainda pior quando penso “devia era ajudá-la.” Ora porra, mas sou alguma irmã Teresa de Calcutá? Achar-me-ei eu superior a este ponto? Isto não pode ser coisa boa. Ai não pode não.

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