Frozen beauty

Monday, January 30, 2006 | 0 Comments

Monday, January 30, 2006 | 0 Comments


A tua ausência faz-me esquecer o nome das cores.

Some days are harder

Sunday, January 29, 2006 | 0 Comments

Há dias assim em que a chuva cai como se o mar se tivesse colado ao tecto e se escoasse todo de uma vez, o salto se parte no caminho para casa e nos desfazemos contra a calçada defeitos sob o peso do corpo. Há dias assim em que a campainha nos acorda às 3h da manhã e não devia, e abrimos a porta e no frio da noite entra outro frio maior e somos tudo o que não devíamos e só nos deixamos cair porque nem que nos conseguissemos suster de algo serviria. Há dias assim em que somos mais pequenos do que nos conseguimos encolher...silêncio

Uma noite para comemorar

Sunday, January 29, 2006 | 0 Comments
















Uma noite para comemorar
Esta é só uma noite para partilhar
qualquer coisa que ainda podemos guardar
cá dentro num lugar a salvo para onde correr
quando nada bate certo
e se fica a céu abertosem saber o que fazer

Esta é só uma noite para comemorar
qualquer coisa que ainda podemos salvar
no tempo um lugar pra nós onde demorar
quando nada faz sentidoe se fica mais perdido
e se anseia pelo abraço de um amigo

Esta é só uma noite para me vingar
do que a vida foi fazendo sem nos avisar
foi-se acumulando em fotografias,
em distâncias e saudade numa dor
que nunca acaba e faz transbordar os dias

Esta é só uma noite para me lembrar
que há qualquer coisa infinita como firmamento,
um sorriso, um abraço
que transcende o tempo
e ter medo como dantes de acordar
a meio da noite a precisar de um regaço.

Mafalda Veiga, in Tatuagem

Fuerza Bruta

Friday, January 27, 2006 | 0 Comments


O que é, é-o agora. As muitas perspectivas que somos ou de onde nos olhamos são sempre agora. Posso imaginar-me de outra forma, mas a força que me torna inteligível a mim mesmo é a força do presente.O momento de viver um movimento é como uma chama de acendalha fugaz. Acende-se, aquece-nos, enche-nos a visão, Apaga-se, morre e desaparece.É uma força bruta que aparece e e que vive apenas nesse instante.
A força bruta é. Não pretende ser nem ensinar nem permanecer para além de si,não tem a ousadia de repetir-se. É o instante puro. É a sensibilidade no seu estado mais natural, se é que tal pode existir. É o apelo à percepção como forma primordial de extrair algo do mundo. Mais do que síntese do que o pensamento pensa, está em jogo o que a sensibilidade sente. Não podemos dizer que seja imediato, mas é o mais imediato que alguma vez teremos.
Demorei muito a conseguir expelir em palavras o que senti naquela noite.É difícil organizarmos as informações da percepção e mais ainda quando não é essa ordem que se pretende. Mania a nossa de tentar ordenar tudo como se tudo tivesse de obedecer a algum plano. Recordar a beleza nunca será o mesmo que vivê-la. Um estado de beleza é sentir essa volúpia mental de mil estilhaços a partirem-se, é percepcionar em nós um acto único de jogo das nossas faculdades. De certa forma cada vez que a percepcionamos em nós, esse acto é irrepetível pois as percepções que retiramos do objecto belo não dependem do objecto mas dos filtros sensoriais que como uma máquina de fotografar catpam a forma mas acrescentam um colorido, cambiantes e perspectivas que apenas resultam de uma determinada forma. Mas ao contrário da máquina não temos qualquer função que nos permita voltar a organizar tudo dessa mesma maneira para podermos retirar o mesmo prazer da mesma forma, com as mesmas cambiantes de arrepio. Tal como as formas aleatórias dos corpos flutuam na água misturando todas as cores que trazem vestidos, assim as nossas recordações flutuam como tintas coloridas misturadas, por entre imagens difusas de cores e brilhos e água e saltos e sorrisos e toques e risos e peso e calor e frio e...
Por isso aquela noite é indizivel. Por isso aquela noite permanecerá num sorriso guardado que apenas os que o sorriram poderão saber o que significa.

Memoirs of a Geisha

Friday, January 27, 2006 | 0 Comments

I am a geisha...
I became a woman before I find out what is being a girl. My body was taken away from me and without it my soul flew away.
Before I painted my lips with red I tasted the blood inside my mouth, sometimes I pass my tongue in the place it used to be injured always expecting to find there that same pain.
Can we but together what has been broken?
You are beautiful, they say...and I saw their faces follow my trace, but I have no path.
You are beautiful, they say...and I choose the most fashionable and pretty clothes and my best smile to carry on, but I'm always nacked and the smile in my face is just a part of the white mask I wear.
You are beautiful and we like you, they say...but they just like to entertain them. I have no lover and I shall not love. Lonelyness is my weight.
They say a geisha is an artist, and an artist I am. My hands as a misterious will, my eyes travel in the deepness of other eyes, my perfume stays after I have left.
They say I have to be strong and I get stronger, they say I have to continue and I move foward, but my world is fragile and so am I.
I love beauty and I change moments of tears in unforgotten cristal fragments, these sustains me through all my life giving me the courage to go further.
Now in the night I walk and I hear my steps on the empty street and it's echo souns like an army of shadows behind me.

Sayuri, butterfly of the night

Madrid forever...

Thursday, January 26, 2006 | 0 Comments


http://www.wholefoodsmarket.com/recipes/cookingtips/tapas.html

Blogacinhos cor de rosa

Thursday, January 26, 2006 | 0 Comments

Hoje tive aquela sensação que nos fica quando encontramos dentro dos bolsos um bilhete de um filme que gostamos especialmente ou daquela viagem de cacilheiro que nos levou à outra margem apenas para apanhar sol no rosto. No ginásio entre cacifos e toalhas brancas, à saída do banho, ainda a pingar água emprestaram-me um tanguinha feita do mesmo veludo cor-de-rosinha de que é feito o papel deste blog. Olhei para ela como quem reconhece uma pecinha pequenina e traquina fugida daquele puzzle que queríamos acabar e sorri com um sorriso largo e cheio de vontade, daqueles que florescem no rosto mesmo que tentemos disfarçar. Um miminho embrulhado a algodão doce!
É destes pequenos tesouros que nascem as asas de todas as borboletas e fadas do mundo.


The true measure of a persons heart is not how much they love, but how much they are loved by others.
Wizard of Oz

http://www.pirellical.com/

Do que somos feitos

Tuesday, January 24, 2006 | 0 Comments


Somos feitos da pele um do outro. Sou as notas que tocas cada vez que dedilhas em busca de teclas, sou o sorriso traquina que fazes quando trocamos patetices, sou o tique nervoso da tua mão, sou a espuma do teu dia, sou o segredo que guardas como um tesouro, sou o eco dos teus desejos, sou o cheiro que permanece na tua roupa, sou o teu refúgio nos dias agitados.Tu és o suspiro dos meus silêncios, o arranque das minhas palavras, o tique-taque do meu pensamento, és a força que me rasga por dentro, que me faz sair de mim, que me enraivece e me atordoa, que me acalma e me protege. És o lençol em que adormeço, és a tinta que me dá côr. Sou a tua pele e tu a minha.

Les mots

Tuesday, January 24, 2006 | 0 Comments


Fixement, le ciel se tord
Quand la bouche engendre un mort
Là je donnerai ma vie pour t'entendre
Te dire les mots les plus tendres

When all becomes all alone
I'll break my life for a song
And two lives that stoop to notice mine
I know I will say goodbye
But a fraction of this life
I would give anything, anytime

L'univers a ses mystères
Les mots sont nos vies
You could kill a life with words
So, how would it feel
Si nos vies sont si fragiles
Words are mysteries
Les mots des sentiments
Les mots d'amour, un temple

If one swept the world away
One could touch the universe
I will tell you how the sun rose high,
We could, with a word, become one

Et pour tous ces mots qui blessent
Il y a ceux qui nous caressent
Qui illuminent, qui touchent l'infini
Même si le néant existe
For a fraction of this life,
I will give anything, anytime

L'univers a ses mystères
Les mots sont nos vies
We could kill a life with words
So, how would it feel
Si nos vies sont si fragiles
Words are mysteries
Les mots des sentiments
Les mots d'amour, un temple

more Farmer Mylene duet with Seal Lyrics

Tricotando

Tuesday, January 24, 2006 | 0 Comments


Olho para trás para o que acabei de escrever e parece uma manta de retalhos como aquelas que a minha avó tricotava com restos de lã de várias cores. Descubro-me assim nesses restos de lã. Sou uma amálgama de pedacinhos de lã tricotados ao acaso cozidos uns aos outros atabalhoadamente, numa colorido exótico um pouco desconexo. As mantas de lã têm um centro. Talvez as mantas de lã tenham umbigo e espreitem lá para dentro à procura do pedacinho de si que ainda desconhecem. Ás vezes há uns erros na malha mas não é possível desfazer puxar por uma ponta e esperar que tudo se solte para recomeçar perfeitinho. Só há uma solução continuar a bater as agulhas uma na outra e acertar o compasso, se houvesse um fazer música só nessa tarefa gigantesca que é fazer de nós outra coisa.

Bonecas Russas

Tuesday, January 24, 2006 | 0 Comments

Amei-te já de tantas formas, de tantas maneiras, usando tantas formas de expressão...Amei-te quando fizeste sair de dentro mim uma outra ainda e insaciavelmente continuaste a espreitar para dentro da minha alma, escancarada como uma janela à procura daquela que havia de ser. Amei-te quando puseste as tuas mãos sobre as minhas e fizeste do gesto trémulo o compasso leve sobre o piano, amei-te nos lençóis lavados com cheiro a laranjas acabadas de espremer, na espuma da noite, nos baldes de tinta a que o dia chama minutos...amei-te quando me levaste ao terraço mais alto da cidade e disseste "voa!" e eu voei. Amei os teus lábios quando procurei neles todos os mistérios do mundo, amei os teus olhos quando foram sobre os meus a vaga, o lume e o imaginar. Amei-te quando enrolei na ponta dos dedos o teu perfume entransado em tentação. Amei-te quando nasceram de mim todas as palavras que te procuravam e quando não as tendo nas mãos, nem mãos sequer fizeste dos teus punhos a minha força e dessa força o meu caminhar. Amo-te como uma criança ama a beleza das manhãs de sol, como os pássaros amam o ar a anunciar velocidade, como os amantes se entregam de noite e como os irmãos se abraçam de dia. Amo-te e esta é apenas uma verdade, tão minha como qualquer raio de luz...

Piano a Quatro Mãos

Monday, January 23, 2006 | 0 Comments

A vivência é um piano que podemos tocar a duas mãos, a quatro ou com quantas conseguirmos cativar para a nossa composição. Podemos ter uma orquestra inteirinha a tocar em uníssono ou ter apenas uma tecla para partilhar. Podemos partilhar um filme, uma vista deslumbrante ou fazer um bolo de chocolate. A semelhança entre uma receita e uma pauta de música é essa mesma magia de trautear com carinho todos os ingredientes. Há qualquer coisa de misterioso no acto de fazer um bolo ou de tocar uma música. Devem ser os dedos que dedilham cada nota e cada cambiante de sabor, que esculpem formas aladas no horizonte como quem desenha pequenas bolas de sabão no ar quente de uma tarde de verão.
As tardes de verão cheiram a laranjas e sabem a notas cristalinas de piano tocadas por aqueles que ouvem o bater das asas de uma pequena borboleta do outro lado da janela. A melodia que toco vezes sem conta cá dentro é a mesma que ouves quando me acompanhas com os teus pequenos dedos tocando o piano que sou.

Abrigos

Monday, January 23, 2006 | 0 Comments





Estamos preocupados porque não estás aqui connosco para podermos pegar-te ao colo e aquecer-te como se fossemos um cobertor.
Conseguimos ver através das muitas paredes que estão pelo caminho da nossa casa à tua.

Despertar

Monday, January 23, 2006 | 0 Comments


Quando me tocaste com o lado mais leve do teu olhar o meu corpo ergueu-se sobre as asas que agora me fazem rasar por entre sonhos. É como viver suspensa por fios invísiveis suspensos por cisnes alados. É como flutuar por entre nenúfares densos de cores vivas tendo apenas por reflexo o brilho translúcido das nossas sombras. Como me dirias baixinho "no meio de tantas cores alguma poderá muito bem ser a nossa." Despertar é este rasgo que nos abre por dentro como o céu se rasga num arco-íris ou como um botão de rosa espreita os primeiros raios de sol.

Princesa de Cristal

Monday, January 23, 2006 | 0 Comments
















Princesa de cristal,
poderão os teus olhos conter a minha voz?
poderão as minhas palavras ser silenciadas
pelo rumor do teu gesto?
A chuva cai sobre a pele
com toque de jasmim perfumado
cristais de luz
frag-mim-tos
momentos

Princesa de cristal,
sobre os telhados cai a melancolia
os dias abertos, partidos ao meio,
separados pelo medo e pelo vazio
poderá o teu nome impedir a minha queda?
poderá a tua verdade impedir o meu esquecimento?


Labirintos,
beijos perdidos na escuridão
borbolentamente abres a bruma
no rasto do teu voo
uma constelação de lágrimas azuis
memórias arrancadas ao tempo,
asas de reinventadas
no sussurrar das dunas

Princesa de cristal,
anjo azul,
cristalino lago,
estrela cintilante,
poderão aos tuas lágrimas acordar os sonhos dos homens?
haverá ainda em nós espaço para tanto céu?
Se o meu rosto se desfizer na calçada
contra o gume da indiferença
a clepsidra cheia pela tua fragilidade
lembrar-me-á que nunca existi,
nunca fui mais que a sombra
de uma gota azul-claridade.

Estranhas formas de fazer amor

Monday, January 23, 2006 | 0 Comments

Não estranharás que tantos anos depois ainda sejas capaz de chapinhar de galochas verdes com uns olhinhos de sapo. Não estranharás que eu escreva como se não escrevesse e que sorria como se te visse. Não estranharás que te abrace, mesmo que aqui não estejas e que te sinta mesmo sem te tocar. Não estranharás que não desenhe, porque não sei desenhar, mas todos os quadros que surgem em desenho ou palavra são igualmente genuínos. Não estranharás que te olhe como se fosse a primeira vez, pois todas as vezes que nos vemos são a primeira porque a vida começa sempre noutros pontos mais adiante. Não estranharás que depois de viajar te diga que nunca desdiz as malas. Não estranharás se chovendo dissermos faz sol e se fazendo frio acharmos que o nosso calor é grande. Não estranharás chamar-me por nomes que não tenho e rirmos como se tivessemos metade da idade e os tesouros estivessem todos para descobrir. Não estranharás se eu me incomodar por tu estares triste, ou cansada ou sarcástica, porque cuidar é mesmo assim. Não estranharás e contudo todas estas são estranhas formas de fazer amor.

A love story

Sunday, January 22, 2006 | 0 Comments


Happy Birthday!
These is my gift to you...

Era uma vez uma princesa encantada...

...era uma vez um audaz cavaleiro


De repente...não mais que de repente...

Dois corações afinados na mesma melodia...


De repente... não mais que de repente todos os caminhos

eram um mar imenso por inventar....

De repente...não mais que de repente

do corpo fez-se a fogueira e dos sentidos a tentação...

Não era sorte, nem acaso nem divagação...


Foi o amor construído num viandante companheiro

Cumplice de planícies verdes e tardes de Verão...

De repente... não mais que de repente

o ar desfez-se em beijo e o mundo susteve a respiração...

Enquanto o amor escrevia novos significados na orla das palavras,

onde o vento que nasce do fechar dos olhos

e do gesto lento é o mesmo que perfuma os jardins e as horas vagas...

Amigos coloridos, Baquetas e Bateria para despertar o dia, Cumplicidades, Descobertas atrevidas, É provável que coisas improváveis acontecam, Felicidade tricotada numa camisola amarelinha, Gatinha persa, Histórias até tarde, Imaginação i Imagens , Jogos Sensuais, Kapital, Lingerie, Madrid, Noites bem dormidas, Oásis, Praias desertas, Quadros pintados, Regar os bambus, Sapatos e malas, Túlipas brancas, Uma taça de mousse de chocolate & uma taça de mousse de manga, Viagens improvisadas, Well done!, Xxxxxx vamos dormir, Yes!, Zaratrusta de Nietzsche

A menina aguarela

Sunday, January 22, 2006 | 0 Comments


"E recomeçou a desenhar, cada vez com mais fulgor, cada vez mais dedicação, os seus desenhos eram um fogo-de-artifício de cores, mas apenas uma fotocópia pálida da felicidade que lhe ía na alma."
Jorge Araújo e Pedro Sousa Pereira in Nem tudo começa com um beijo

Eclipse

Friday, January 20, 2006 | 0 Comments


Para mim também é tempo de eclipse, tempos em que a luz estando lá é filtrada pelo sol. É tolice perder-se tempo com o dedo que aponta e deixar de ver a lua cintilante.

An Angel Song

Friday, January 20, 2006 | 0 Comments

Ouve, meu anjo:
Se eu beijasse a tua pele?
Se eu beijasse a tua boca
Onde a saliva é doce como mel?
Num gesto de despojo
Misterioso, gentil,
Perco-me na miragem do teu corpo doirado
do sorriso fresco,
do sabor primaveril

Fecho os olhos e esqueço-me
a imagem de ti faz-me estremecer
e a minha tarde ganha um novo sentido
uma reinvenção de sensações
de perspectivas, de conceitos e definições.
uma reinvenção de acordes, de melodias
de ressonâncias apenas sentidas nas suas asas abertas
uma perfeição criada da nossa própria imperfeição
um mundo que muito poucos conseguem compreender...

Amor

Friday, January 20, 2006 | 0 Comments


Tu já tinhas nome, e eu não sei se eras fonte ou brisa ou mar ou flor. Nos meus versos chamar-te-ei amor.
Eugénio de Andrade

Enraizar

Friday, January 20, 2006 | 0 Comments


Pôr os bambus na terra, sentir a terra entre as mãos em concha, calca-la entre o vaso e as raizes, rega-la e sentir o seu ligeiro aroma desprender-se. Depois o sentir o vento enrolar-se nas folhas como se nos nossos cabelos e aos poucos o ar encher-se de um marulhar manso, ligeiro e fresco.
Foi um momento simples, cada um com o seu silêncio. Apetecia-me ter-me descalçado e sentido a água transbordante dos vasos fazer-me cócegas nos pés...

Cruzar rios, fazer caminhos

Friday, January 20, 2006 | 0 Comments



Hoje darás mais um passinho por entre as pedrinhas deste rio que corre cristalino aos teus pés e estaremos lá para te ver saltar. Somos a sombra discreta que te acompanha como uma mantinha que te torna invencível.

Definições

Friday, January 20, 2006 | 0 Comments



Não são precisas definições para nós, não te chamarei amiga, amante, irmã nem pelo teu nome. Os nomes prendem-nos como estacas ao chão. Por isso se hoje te chamo Chihiro e amanhã Afinadora de Pianos, é apenas porque o fato serve para o dia. Poderá um homem caminhar ao sol sem levar consigo a sua sombra?
Quantos apontam e dizem que linda sombra tens, quantos reparam nessa fiel companheira? Suspiro. Os amigos são discretos como as sombras...são afinadores do gigantesco piano que temos dentro, e com mãos de veludo vão afinando o nosso ser para que ele seja cada vez mais perfeito no momento em que a vida nos pede para actuar.

Castelo Andante

Friday, January 20, 2006 | 0 Comments


Tenho soninho e estou cansada, mas é nos teus braços que me apetece adormecer e por isso vim até aqui enroscar a minha existência nestas palavras como que à procura de um edredon fofinho onde aterrar de mansinho e adormecer.

Medo

Friday, January 20, 2006 | 0 Comments


A cidade é só minha. Há um sussurro que se esconde em cada sombra e em cada gesto suspenso. Pediste-me que te escrevesse e eu escrevo sabendo que tu hoje tens certamente mais histórias para contar do que eu. Olho pela janela a noite é mais noite quando a observamos em silêncio como se estivesse exposta numa montra.
Hoje vesti uma blusa vermelha com brilhantes. Gosto do facto de a cada movimento se despegarem de mim dezenas de pequenas particulas cintilantes, é como se me desintegrasse em pó de estrela.
Sou apenas este rasto perdido na passagem de mim e tantos outros cruzar de es-passos.
Tenho frio e não consigo aquecer as mãos, por mais chás que beba o sensação de calor perde-se.
Penso no tuperware, não sei se o terás encontrado. Não sei muito bem o quer dizer que perdemos algo, ou que algo se perdeu de nós. Não sei se o contrário de perder é encontrar porque o que encontramos nunca tem a mesma importância de quando está perdido.
Bato nas teclas como se houvesse alguma importância ou urgência nestas palavras, mas nenhuma palavra é urgente. Há um tiquetaquear neste compasso, um acerto e desacerto de qualquer coisa. Ajusto-me. Procuro-me como uma criança procura alinhar todas as cores num cubo mágico, eu nunca consegui essa proeza. Antes perdia-me nos parques de estacionamento porque achava que eram todos iguais, agora perco-me no caminho para a minha cama. Deviam haver carris para estes percursos. Agora percebo porque é que de vez enquando há gente que cai na linha, no metro, é que tudo se emaranha neste vai que vem dos dias e das horas e dos caminhos que temos de seguir e dos que temos de inventar. Deviamos ter o faro dos cães.
As pedras que apanho na calçada não me matam a fome, ainda não amadureceram e são ingestas.
Tenho a alma rota nos cotovelos como aquelas camisas que à força de as usarmos depois de nos terem deixado de servir, se acabam por romper à força dos ossos que comprimem.

II - Canto-te

Friday, January 20, 2006 | 0 Comments





















Canto-te para que tu definitivamente
existas
Canto o teu nome porque só as coisas cantadas
realmente são e só o nome pronunciado inicia
a mágica corrente
Canto o teu nome como o homem fazia eclodir
o fogo do atrito das pedras
Canto o teu nome como o feiticeiro invoca
a magia do remédio
Canto o teu nome como um animal uiva
de
Como os animais pequenos bebem nos regatos depois
das grandes feras
Canto-te
e tu definitivamente existes nos meus olhos
Sempre abertos porque é sempree os meus olhos
são os olhos da criança que nós somos sempre
diante da imensidão do teu espaço
Canto-te
e os meus olhos sempre abertos são a pergunta
instante pendente de eu te interrogar
e interrogo as coisas em seu ser noctumo
em seu estar sombriamente presentes na tua claridade
obscura
E como é sempre
meus olhos abertos prescrutam-te
símbolo de tudo o que me foge
como apertar o ar dentro das mãos
e querer agarrar-te
oh substância
Canto-te
com a fragilidade de tudo que existe perante
uma eternidade demasiado nocturna para os nossos
olhos infantis perante a tua antiguidade
futura
E a nossa voz é uma pequena onda no dorso
do teu oceano de matéria
Um leve arrepio apenas na espantosa espessura
de teu éter
Ah no ar é que tudo acontece
no ar nocturno das idades esquecidas
que previamente desconheceremos
No espaço é que tudo acontece
e o espaço é uma grande muito quieta
onde os nossos olhos penetram
no não sabermos até onde
ali
além
no além onde tudo acontece
Oh
oh espaço de tudo ser tão ligeiro e impalpável
e sermos nós a respiração da
teu bafo ritmado
imperceptível distância
Oh augusta majestática dignidade do silêncio
Oh impassibilidade da tua mecânica celeste
Oh organismo primeiro de todos os fins secretos
da compreensão das coisas
Oh inorgânico organismo dos seres
que se devoram
Oh diz
a quem servimos nós de pasto
Canto-te
como quem pronuncia o Mantra esotérico do teu nome
Canto-te e grito
para que a poeira que se infiltra em todas as
coisas se erga de ti como um plâncton
Oh Madre
matriz das criaturas inferiores que rastejam
a teus pés cobertas de pó
esse pó que a cada momento ameaça submergir-nos
Oh aranha enorme tecendo tua teia de pó
Oh que desintegras tudo e tudo tu constróis
Ah como nós lambemos tuas duras mãos
Oh que fustigas nossos olhos com tua sombra
Enorme
Oh que deixas tanto espaço para o silêncio
das mil pétalas
dos mil braços esplendorosos em seu abandono
dos murmúrios
dos afagos
sangue derramado sobre o mundo
Oh
Porque és sempre tão premente?
e sempre estás ausentemente
na tua constância em todas as coisas?
Oh sono
Oh morte tão desejada e longa
mágica povoada de átomos
milhões de espíritos enchem o teu sopro
E penetras em nós como uma bala
E tudo morre quando tu chegas
E tudo se dilui e se transforma em ti
alada presciência de tudo acontecer
tão longe de nós e tão antigamente
e tudo nos ultrapassar com soberana indiferença
ante os nossos olhos cegos pelo teu negrume
Oh
brilha para dentro de mim
Acende teus luzeiros em meus olhos
Ergue teus braços oh prenhe de tudo
Oh vaso
Oh via láctea de nos amamentares com teu leite
de sombra
Oh úbere e pródiga
Aleita tua ninhada faminta
Grande fera luzidia
Grande mito
Grande deus antigo
Oh urna onde todos dormimos
Oh
Meus olhos choram já de tanto prescrutar-te
E canto-te
Canto-te
Para que tu existas
E eu não veja mais nada além de ti
E nada mais deseje senão que venhas outra vez
levar-me para dentro do teu ventre
de nunca mais haver
E nada mais haver que
Oh tu definitivamente além
Ana Hatherly
Poemas de Eros Frenético e Contemporâneos

Passinhos Cautelosos

Friday, January 20, 2006 | 0 Comments



" Ainda tenho que aprender a aproximar-me de ti mais moderadamente; o meu coração acorre ao teu encontro com demasiada pressa: este coração onde arde o meu estio, o breve, ardente, melancólico e venturoso estio. Como anela pela tua frescura o meu coração estival!"
Friedrich Nietzsche

Beleza

Friday, January 20, 2006 | 0 Comments


Dá-me prazer saber que no início do dia, na ponta mais fina da manhã quando o corpo ainda devaneia entre a energia e o lençol, quando os olhos ainda tropeçam na luz, há um momento em que paras e sentes que todos os sentidos ainda torpes pela languidez de algum sonho se sentem despertos e mimados. Dá-me prazer conjugar o sabor e a cor, talvez porque quem ama a beleza, a ama em todas as formas, ou porque quem ama, concebe a beleza em todos os gestos.

Best Friend

Friday, January 20, 2006 | 0 Comments


Só a rajada de vento
dá o som lírico
às pás do moinho.

Somente as coisas tocadas
pelo amor das outras
têm voz.
(Fiama Hasse Brandão)

Percepções

Friday, January 20, 2006 | 0 Comments



A consciencialização das falhas do ponto de vista natural (que é o nosso) produz muitas vezes a cimentação superficial das mesmas pois não vemos a realidade tal como é mas apenas como se nos dá a conhecer e completamos de forma subjectiva aquilo que julgamos faltar... desta forma a nossa percepção é limitada e apenas capta parcelas do observado, mas com a ajuda da memória e da imaginação fechamos e completamos os espaços que carecem de dados sensoriais. O problema é a forma como completamos esses dados... se não completarmos pela ordem certa ou com os conteúdos adequados podemos ter casos de inadequação ou mesmo de esquizofrenia... o espaço que nos separa disso é apenas o da adequação que depende de duas capacidades frágeis e muitissimo voláteis...
Por isso vivemos num estado de carência permanente...com o único conforto de não nos apercebermos disso...ou seja... a vivência baseia-se numa confiança e num domínio excelso do mundo que nos rodeia...o que demonstra o quanto não entendemos de facto o que falta ao nosso olhar.

Cumplicidades

Friday, January 20, 2006 | 0 Comments



Os sorrisos trocados enquando saíamos dos cubiculos de prova,a tua transformação em cinderela no teu fatinho preto cheio de baixos relevos floridos, a suavidade das pequenas pregas que assentam como uma luva... o meu orgulho desmedido perante a tua transformação... eu sempre te vi assim... agora os outros também conseguem ver. Não consigo entender bem o mecanismo psicológico do orgulho nos outros, de sentirmos que o nosso dedo marca a linha por onde se vão cosendo as pregas da vida de outros... é talvez de uma tamanha arrogância... e talvez uma grande responsabilidade...

Criaturas Voláteis

Friday, January 20, 2006 | 0 Comments


As criaturas voláteis são redutos de beleza e palcos de sonho
cuja efemeridade impediria de deixar rasto não fosse a marca funda que deixam no corpo dos outros.

Marcadores

Friday, January 20, 2006 | 0 Comments



Eu adorei os marcadores por dois motivos: porque são expressões de beleza que provam que o suporte que usamos para a fazer aparecer diante de nós é infinito e sem preconceitos e porque o nosso almocinho significava isso
mesmo: um marcador...
Os meus marcadores costumam ser guardanapos que roubo nos cafés por onde leio... e que acabam a maior parte das vezes por ser rabiscados com flores e pequenos bancos de jardim azuis com vista para uma pradaria aluada...
Estes marcadores são momentos em que as folhas da nossa vida ficaram com a dobra indelével da demora, da atenção que dedicámos aquele instante em que os nossos olhos percorreram aquelas palavras e se perderam, enquanto dedilhávamos o cantinho dobrado da folha...

Mirrors

Friday, January 20, 2006 | 0 Comments


“Apertei os olhos com muita força para reter dentro as recordações,e as guardar dentro de mim, depois abri-os bem abertos para me apresentar de novo diante o mundo.”
Osvaldo Soriano, La hora sin sombra

Outono

Friday, January 20, 2006 | 0 Comments


Não sei se reparaste que o ar está diferente, a luz menos quente, as manhãs mais frescas de arrepiar a pele, as árvores baloiçam as folhas num verde já pálido. Na rua a roupa oscila entre o claramente fresco à superfície dos que se agarram à memória de tardes abrasadoras e o confortavelmente quente daqueles que se apressam a cobrir-se escondendo imperfeições e o corpo da exposição.

Provavelmente poucos foram aqueles que reparam que as andorinhas começaram a fazer as malas, aliás como tu... Hoje, no primeiro dia de Outono descobro-te como uma andorinha, de peito alvo e olhos negos, a fazer as malas à procura de terras onde o calor ainda subsista, a fazer planos para um novo ninho, a definir linhas de voo e a aprumar as penas para a inauguração da viagem.

Sendo hoje o primeiro dia de Outono, os carros circulam sobre a ponte como noutro dia, os andaimes adiantam as obras de sempre, os computadores mastigam os dados com a lentidão do costume, os transeuntes ruminam as dores e queixas com que se levantam e deitam nos outros dias, mas para mim é diferente, é um segredo que só eu sei e partilho agora contigo, é um segredo que não está previsto em nenhuma ciência nem matemática, porque mesmo os que sabem que hoje é o equinócio, desconhecem a magia de andorinhar por entre o tempo em imprevistas reinvenções

Linhas de voo

Friday, January 20, 2006 | 0 Comments



No voo raso das tuas asas
abriu-se o meu dia em numa varanda imensa

Vãos de Escada

Friday, January 20, 2006 | 0 Comments


No meio do dia há um vão de escada, escondemo-nos por baixo, e enquanto ouvimos a correria dos passos tropegos que sobem e descem, por momentos, na penumbra, inspiramos uma golfada de ar a cheirar a flores e somos apenas crianças doces de mão dada a falar de histórias e contos de fadas, não há nada que nos venha cá buscar, nada que nos arraste de lá para fora, e quando depois de um chá de bonecas de porcelana voltamos à presença dos outros como se nada se tivesse passado, fica-nos apenas o sorriso cúmplice e traquinas de quem andou a perseguir borboletas no próprio pestanajar.

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Mei and Arawn