Mundo virtual

Monday, July 31, 2006 | 0 Comments

- Para variar, a minha caixa de entrada está cheia de e-mails – suspira o sr engravatado na mesa do restaurante. - Ah! Esta música.....bons tempos em Londres....
- O que está a fazer? – perguntou a menina amarela
- Estou a ler uns e-mails.
- O que são e-mails?
- São mensagens electrónicas mandadas por pessoas via Internet – respondeu já irritado pelas perguntas insistentes. - É como se fosse uma carta, só que via Internet.
- O que é Internet ?
- É um local no computador, onde podemos ver e ouvir muitas coisas, notícias, músicas, conhecer pessoas, ler, escrever, sonhar, trabalhar, aprender. Um mundo virtual.
- E o que é virtual? – perguntou a menina amarela pondo-se em bicos de pés na ponta da mesa para espreitar o ecrã.
- Virtual é um local que imaginamos, algo que não podemos pegar ou tocar. É lá que criamos um monte de coisas que gostaríamos de fazer. Criamos as nossas fantasias, transformamos o mundo no que queríamos que fosse...
- Que giro... – suspirou a menina – já com o empregado a puxa-la pelo braço para que não incomodasse o sr de fato caro.
- Entendeste o que é virtual?
- Sim... também vivo neste mundo virtual – disse quase em sussurro.
- Tens computador?- Não, mas o meu mundo também é assim... virtual... A minha mãe fica todo dia fora, só chega muito tarde, quase não a vejo, eu fico a cuidar do meu irmão pequeno que passa o dia a chorar de fome e eu dou-lhe água para ele pensar que é sopa; há um velho que me diz que me compra o corpo, mas não entendo, pois deixa-o sempre ficar; o meu pai bebe e bate-nos, por vezes está fora muito tempo, mas eu imagino sempre a nossa família toda junta em casa, com muita comida, muitos brinquedos e eu a ir para a escola para um dia ser professora.

Isso é virtual, não é?

Before going to bed

Saturday, July 29, 2006 | 0 Comments

I'm so tired tonight,
when i came on to your bed,
I hardly can stand my body height
or the sun risind day light.

Then I saw a letter waiting for me,
standing there,
as someone that care.
So I read your words, my dear,
and I coudn't avoid dropping a tear.
I felt I wasn´t alone,
I felt has no other time before,
there at your door,
I had just got home.

I lie down beside you,
with your harms around,
and for that only elf and fairies moment,
didn't mather the clock ticking, the day rasing,
people going by, the time or the weather,
it was only about us, there, together.

Nós...Aqui!!!!

Friday, July 28, 2006 | 1 Comments

Nós aqui a curtir à grande nos rápidos da Costa Rica. Dia 07 Agosto estamos de volta para contar todas as aventuras, quedas e arrastões forçados, desde saltar de árvore em árvore em cordas à La Tarzan, Moto4 selvagem e tudo o mais que nos lembrarmos. Tudo isso guardaremos num cantinho de memória à prova de água e quedas, para partilhar aqui.
Hasta la vista baby!

Expectations

Thursday, July 27, 2006 | 0 Comments


Deixou
Na berma da estrada
Um resto de tudo
Um rasto
De tudo o que era seu
E nada lhe dizia
Adeus

E nem olhou
Por cima do ombro
Por cima da vida
Por baixo dos sonhos
Que há muito as incertezas
Perdeu

Atrás de si só terra
Queimada pelo vício
De esperar muito mais de si
Atrás de si só um sinal
Que os homens lhe mostraram
"o mundo para ti termina aqui"

Em frente
Tanto mais é longo
O dia
Quanto mais for cega
A falta de paixão
Que se transforma em frio
E dor

Luís Represas, Cumplicidades

Strings II

Thursday, July 27, 2006 | 1 Comments

Para quem se julga demasiado velho para teatro de marionetas é melhor pensar duas vezes, pois não há idade demasiado avançada para a contemplação da beleza.
Strings, já descrito em post abaixo pela minha colega bloquista -que partilhou comigo esta aventura e que puxou os meus fios em muitos momentos da nossa vida - é um retrato único da vida, do amor e dos seus laços.
Ao contrário da tentativa de esconder os fios que regem os actores humanos, temos personagens que têm consciência dos seus, que os contemplam e fitam. Fica em perspectiva o conceito de actor marioneta. Estes pequenos grandes pinóquios, feitos homens de madeira, que lutam, sofrem, matam, amam deixam-nos arrebatados, pela doçura e pela força, pelo arranque do nosso dia marionetado de tantas formas.
A vida que se forma e enlaça pelo amor, a ordem que tudo comanda e dirige, o livre-arbítrio, a libertação.
"Estamos todos ligados". A abertura ao outro, a amá-lo e a aceitá-lo, permite-nos tocar os seus fios, tocá-los como uma grande harpa em que estamos todos implicados, permite-nos interferir na sua descoberta. É extraordinário também o conceito de prisão e de confinamento que se descobre nesta mágica visão do mundo: os fios que nos prendem, quando conscientes da sua ligação ao outro são como asas que nos impelem e não como cordas que nos restringem. Para nos prenderem têm de nos prender os fios e não prender por fios.
A vida ela mesma é a descoberta de se deixar enlear, prender. A aprendizagem doce da ligação, a descoberta do nosso peso, da nossa gravidade. O pondus de que Santo Agostinho tanto fala:
"O meu peso é o meu amor." (Confissões, Sto. Agostinho)

http://www.stringsthemovie.com/uk.html

Conversas à beira da linha...

Wednesday, July 26, 2006 | 1 Comments

- ó xinhor aonde é qui fica a plantaforma dos quimbóios?
- xei lá, num xou ninhum.
- ó ome, era só uma atençãozita.
- xe'me paz! Arre!
- Tou farto desta vida, tou mortinho para ser cromado!
- Que pessimismo cumpadre, num é preciso tanto. Olhe ê bati com o carro, tenho o capote todo molegado que mete dó. Agora ando assim a butes.
- Olhe desculpe o sr tem horas?
- O sr está no céu! Eu sou só Manuel.
- Mas tem horas ou não?
- Tanta pressa ome, a vida é curta não se apoquente.
- Esqueça!
- Olha este! Parece mentira.
- O mãeeeeeeeeeeeeeeeeeiii! Quero um gelado.
- Tá calado! Não vês que tou ao tlefone!
- Ó ma...
- Tu tá calado olha que levas já aqui!
- Não ralhe com a criança.
-O filho é meu, olha que isto! Meta-se na tua vida!
- Ó mãeiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!
-Tu levas! Já não te posso ouvir.
- Era só para dizer que o comboio tava a fechar as portas...

My strings...

Wednesday, July 26, 2006 | 2 Comments

E o amor transformava os acontecimentos em renda. E era tão comprido tecer hora após hora, com agulha, a trama densa. Depois a paciência de tornar os fios de segunda mão para o carretel e tentar moldá-los lisos na impossibilidade do tempo. Era linda a ondulação, a melodia que se descolava de cada ressonância. Segurar com as duas mãos com muita força, esticá-la. Encostar o corpo no mar porque só o que não tem forma entenderia quem ainda se revolve dentro do próprio corpo. Quando arranhava as pálpebras no vento era o que acontecia: um vestido de renda inteiro procurando um corpo de madeira onde descansar. A rede de seda era tecida a partir da pedra e das nuvens. A aprendizagem lenta de se deixar prender. O distanciamento de provocava os ossos nos sentimentos e torna mais dificil o movimento. Às vezes era preciso mergulhar com certa independência da respiração, mas o naufrágio era metade do tinteiro azul, o que não pintava o nascer de um céu, nem o fundo de um mar...

Strings

Wednesday, July 26, 2006 | 1 Comments

Strings, produção dinamarquesa realizada em 2004 e dirigida pelo premiado Anders Rønnow Klarlund, precisou, além de quatro anos de preparação, de quatro filmes-piloto e, depois de tudo definido e planejado, de vinte e três semanas de filmagens.
Só o boneco protótipo, desenvolvido a partir de antigas e novas técnicas, precisou de cinco titereiros para manipulá-lo. No total, foram mais de cem marionetes, ou títeres, com vinte fios cada um.
Para realizar Strings, o primeiro longa-metragem totalmente “interpretado” por marionetes, foram reunidos os melhores titereiros da Europa e Estados Unidos.

A história prefiro não a contar, porque poucas seriam as palavras para tal argumento e beleza. apenas um conselho: vão ver!
http://www.stringsthemovie.com/

A meio de Ti

Tuesday, July 25, 2006 | 1 Comments

O sol entra pela gavetinha entreaberta do meu sorriso. Ouço o rasgar do vento nos riscos da berma da estrada. O ar está quente e abafado. "Onde está o boné?"- perguntas com o teu sorriso rebelde de aventureiro destemido. Cruzo o meu braço sobre o teu ombro, mexo nos teus cabelos. Conduzes. Conduzes-nos. Viajar juntos por aí fora é algo que nos enche: de cheiros quentes de campo, de rodopiar de um pequeno tornado numa quinta próxima, do canto agudo das cigarras, do voo razante das cegonhas que fazem os ninhos em cabos de alta tensão. "Viste aquilo?" Tento acenar que sim, mas nada me sai. A moleza do alentejo apanha-nos. Afinal é mais rápida do que parece. Os olhos pesam e tentam espreitar por entre as vagas de calor no horizonte. Arranco de mim os dias anteriores, dispo de mim a camada feita de rímel, blazer e mala a condizer. Descolo de mim o sorriso cordial, fica à vista aquele ar pateta que não consigo trancar à chave na tal gavetinha escolhida a preceito. Fixo os olhos nao sei bem onde, não sei bem para quê. Perguntas em que penso. Não te respondo. Voltas a perguntar. Penso em ti. Não te digo. Sorris na mesma. Paramos a meio caminho. Paramos como quem pára para respirar num intervalo do mergulho. Entramos num sítio em que o tempo pára. Ou onde já parou há muito? O relógio dentro começa a derreter, de qualquer forma já não o usamos no nosso tempo. Sossego neste espaço. É um espaço de nós, a meio de nós. Almoçamos, ronronando encostados à janela. Vemos lá fora os carros que passam e não param, as pessoas que se zangam por tudo e por nada. Prosseguimos de mão dada, não quero que te percas de mim. Adormecemos sempre assim. Quase sempre? Mesmo quando não estás adormeço com a tua mão na minha, com a tua respiração a dar-me alma, com o teu coração nos lábios. Fico assim, a meio de ti, como uma folha entreaberta de um livro que não queremos acabar de ler, apenas por gostarmos tanto que nos marca como fossemos a ponta dobrada dessa página.

Tuesday, July 25, 2006 | 3 Comments


Sinto-te como uma ausência presente que contempla os meus passos.
Caminhamos sem saber por onde, procurando não se sabe o quê.
Vens.
Ficas.
Permaneces.
...E deixas-me ir.

Monday, July 24, 2006 | 1 Comments



No fim, iremos lembrar não as palavras dos nossos inimigos, mas o silêncio dos nossos amigos.
Martin Luther King, Jr.

O avesso do dia

Monday, July 24, 2006 | 0 Comments

.zilef êS .oçerp euq a men edno atropmi oãN .zilef res euq àh …atidercA .ogitnoc sarac ed àd euq ohlepse o è ejoh saM . amugla asioc ed oifàtipe ,adan ed otnematset ecerem oãn odnum etsE .atropmi oãn sam ,ies ue ,ohnartse aoS .ebas ele euq atidercA . aroh a ragehc odnauq àrarretnesed so euq oidav oãc olep sodarretne oãres sosso setse aid um sam ,”ue oãn euq mèugla ed odarre oproc on icsaN” .oruoset reuqlauq ed apam o oãrartsom oãn satircse sanigàp sa e “opmet ed sam ,aiera ed è oãn otresed O”.atropmi oãN .iuqa ajetse oãn euq ortuo reuqlauq ed ;èfac ed ojna reuqlauq ed sasa san ebaC .ednarg oãt missa res oãn edop omsiba mu e uèc mu ertne açnerefid a euq asnep soãm san oãlab mu moc açnairc amu atrop á retab et es aid mU .oãçil a rednerpa a ,emon ues o atnetso euq oliuqa ou ,adiv a essof euq moc rezaf arap açrof ariedadrev a evit acnun e rednerpa em-uotlaF .ranisne ossop et oãn ,saivbò seõzar rop ,ue euq seõçil sa rad et ed à-es-ragerracne adiv A .et-sanagne – oirès a olaf oãn ue euq sasnep eS .etsatreca – ocnirb ue euq sasnep eS
Gosto muito de algumas palavras. São palavras que nos puxam os cantinhos dos lábios para cima, que acarinhamos como o pêlo fofo de um gatinho cada vez que as dizemos. Até damos várias sonoridades e entoações quando as dizemos a alguém. É como partilhar o doce preferido.
Gosto da palavra menina, evoca-me as pessoas do norte, a sua simpatia e amabilidade. Gosto de "menina" pela sua leveza, pela forma como é simples e carinhosa. Gosto do sorriso brincalhão com que é dito quase em jeito de interrogação " a menina dança?"
Gosto muito da palavra "atum" mas dita carregando do "tuummm" como se fosse uma palavra de guerra, uma incitação ao que de mais valente temos. É algo que associo ao ronronante Hobbes que não resiste à tosta de atuummm, armadilha inevitável tramada pelo traquina Calvin.
Ora "traquina" e "reguila" são outras palavras da minha preferência. Lembram-me longas tardes na rua, a jogar ao peão, ao mata e a fazer carrinhos de rolamentos na beira do passeio, que depois usávamos para descer à "vertigem da velocidade" rua abaixo. Lembra-me os joelhos arranhados e a cumplicidade de não responder às 5 chamadas que a mãe já fez da janela.
"Xilofone" é outra das minhas preferências, é tão musical e tão frágil, lembra-me uma caixinha de música que a minha ama, a D. Laurinda, refúgio protector de todos os putos traquinas da rua, tinha em casa, com uma bailarina pequenina que rodopiava sobre si mesma ao som de uma música que nunca mais esqueci embora não faça ideia de quem a compôs. Ainda a canto muitas vezes para dentro quando as coisas apertam.
Gosto da palavra "rodopiar". Faz-me lembrar a minha gatinha persa, dançarinhando sobre as suas pantufinhas enquanto se enrosca nas minhas pernas pela manhã. Rodopiar tem vento e água dentro.
Há palavras que são assim, janelas para outras e outras, janelas abertas sobre a nossa memória, postais de evasão sobre os telhados, as portas, as ruas, os dias. São palavras grávidas de vida.

Palco da Vida

Friday, July 21, 2006 | 2 Comments

Você pode ter defeitos,
viver ansioso e ficar irritado algumas vezes,
mas não se esqueça de que sua vida
é a maior empresa do mundo.
Só você pode evitar que ela vá a falência.

Há muitas pessoas que precisam,
admiram e torcem por você.
Gostaria que você sempre se lembrasse
de que ser feliz não é ter um céu sem tempestade,
caminhos sem acidentes, trabalhos sem fadigas,
relacionamentos sem desilusões.

Ser feliz é encontrar força no perdão,
esperança nas batalhas,
segurança no palco dos medos,
amor nos desencontros.

Ser feliz não é apenas valorizar o sorriso,
mas refletir sobre a tristeza,
aprender lições nos fracassos ,
encontrar alegria no anonimato.

Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas
e se tornar um autor da própria história.
É atravessar desertos fora de si,
mas ser capaz de encontrar um oásis
no recôndito da sua alma.

É agradecer a Deus a cada manhã
pelo milagre da vida.
Ser feliz é não ter medo dos próprios
sentimentos.
É saber falar de si mesmo.
É ter coragem para ouvir um "não".
É ter maturidade para falar "eu errei".
É ter ousadia para dizer "me perdoe".
É ter sensibilidade para expressar"eu preciso de você".
É ter capacidade de dizer "eu te amo".
É ter humildade da receptividade.

Desejo que a vida se torne um canteiro
de oportunidades para você ser feliz...
E, quando você errar o caminho, recomece!
Pois assim você descobrirá que ser feliz
não é ter uma vida perfeita.
Mas usar as lágrimas para irrigar atolerância.
Usar as perdas para refinar a paciência.
Usar as falhas para lapidar o prazer.
Usar os obstáculos para abrir as janelasda inteligência.

Jamais desista de si mesmo.
Jamais desista das pessoas que você ama.
Jamais desista de ser feliz,
pois a vida é um obstáculo imperdível,
ainda que se apresentem dezenas de fatores
a demonstrarem o contrário.

Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou construir um
castelo...
F.Pessoa

* Lisboa Mágica *

Thursday, July 20, 2006 | 1 Comments

Entre 25 e 30 de Julho, mágicos nacionais e estrangeiros estarão com a sua arte em diferentes pontos da Baixa/Chiado, aparecendo quando menos se espera, surpreendendo e envolvendo toda a gente no Maravilhoso Mundo da Magia.

"O certame - Lisboa Mágica/Street Magic World Festival de seu nome completo - é uma organização da Câmara de Lisboa e tem direcção artística do mágico português Luís de Matos. Durante seis dias, os cerca de 180 espectáculos agendados poderão ser vistos, a partir do meio-dia nos dias úteis e a partir das 10h00 sábado (dia 29) e domingo (dia 30), em espaços como o Rossio, os largos de Camões, do Chiado, 1º de Dezembro e de São Domingos, as ruas Augustas e Garrett e as praças da Figueira e do Teatro São Carlos. Entre os artistas e grupos, vindos de países como Argentina, Canadá, Espanha, Estados Unidos, França, Holanda, Inglaterra, Suécia e Venezuela, figuram Donald Lhen, Flikto, os Hover Brothers, Jan e Guus, Dr.Chango, JJ, Luis Arza, Mad Martin, Mark Mitton, Peter Wardell, Rafael Benatar e Ray Francas. Numa nota à imprensa, a produção do Festival refere que este "será, pela sua organização e conteúdo, a primeira realização alguma vez reconhecida pela FISM [Federação internacional das Sociedades Mágicas] para além do Campeonato do Mundo que a própria federação organiza cada triénio". in Público, 17/07/06


Dia 25 de Julho
12h - Largo Camões
Hover Brothers
Peter Wardell
Rafael Benatar
12h45 - Largo do Chiado
Dr. chango
Flikto
JJ
14h - Largo 1º Dezembro
Hover Brothers
Jan & Guus
Karl Berseus
Mad Martin
18h - Rua Augusta (Arco)
Jean Philippe Atchoum
Luis Arza
Mark Mitton
Rafael Benatar
19h - Praça da Figueira
Flikto
Karl Berseus
Mad Martin
Malakatin
20h - Rua Augusta
Donald Lehn
Jan & Guus
Luis Arza
Ray Francas
21h - Rua Garret
Dr. Chango
Karl Berseus
Mark Mitton
Peter Wardell

Para saber quem estará onde nos restantes dias, até dia 30 de Julho, espreitem:
http://www.lxjovem.pt/?id_tema=48

Evocação de Silves

Thursday, July 20, 2006 | 1 Comments


Saúda, por mim, Abû Bakr,
os queridos lugares de Silves
e diz-me se deles a saudade
é tão grande quanto a minha.
saúda o Palácio dos Balcões,
da parte de quem nunca o esqueceu,
morada de leões e de gazelas
salas e sombras onde eu
doce refúgio encontrava
entre ancas opulentas
e tão estreitas cinturas.
moças níveas e morenas
atravessavam-me a alma
como brancas espadas
como lanças escuras.
ai quantas noites fiquei,
lá no remanso do rio,
preso nos jogos do amorcom a da pulseira curva,
igual aos meandros da água,
enquanto o tempo passava...ela me servia vinho:
o vinho do seu olhar,
às vezes o do seu copo,
e outras vezes o da boca.
tangia-me o alaúde
e eis que eu estremecia
como se estivesse ouvindo
tendões de colos cortados.
mas se retirava as vestes
grácil detalhe mostrando,
era ramo de salgueiro
que me abria o seu botão
para ostentar a flor.

Al-Mu'tamid - Poeta do Destino, introdução, tradução e selecção de Adalberto Alves Assírio & Alvim, Lisboa, 1996.

The lake Isle of Innisfree

Thursday, July 20, 2006 | 2 Comments

I will arise and go now, and go to Innisfree,
And a small cabin build there, of clay and wattles made;
Nine bean rows will I have there, a hive for the honeybee,
And live alone in the bee-loud glade.

And I shall have some peace there, for peace comes dropping slow,
Dropping from the veils of the morning to where the cricket sings;
There midnight's all a-glimmer, and noon a purple glow,
And evening full of the linnet's wings.

I will arise and go now, for always night and day
I hear the water lapping with low sounds by the shore;
While I stand on the roadway, or on the pavements gray,
I hear it in the deep heart's core.

Ouvir o poema, dito por William Butler Yeats
http://www.manualdocidadao.blogspot.com/

Bem-vindo ao M.I.C.C. online, o serviço interactivo (grátis!) criado para resolver todos os seus problemas. ATENÇÃO: a utilização deste serviço digital deve ser complementada com a participação ao vivo num curso de formação intensiva dado pelos autores. Até ao fim de Julho, estarão todas as quintas, pelas 22.30, na Sociedade de Instrução Guilherme Cossoul. Reserve já o seu bilhete. E os dos seus amigos. Como? através do nº 918971789 ou do mail fabricadepecas@gmail.com

Saber mais sobre a Sociedade de Instrução Guilherme Cossoul:
http://www.guilhermecossoul.net/2pag.htm

Perdas...

Wednesday, July 19, 2006 | 0 Comments

Perdi o autocarro, perdi a carteira, perdi o sono, perdi o meu livro preferido, perdi a fome, perdi uma perna, perdi o bilhete, perdi o lugar, perdi o concurso, perdi o comboio, perdi a boleia, perdi o troféu, perdi o dinheiro, perdi o emprego, perdi a morada, perdi a chamada, perdi os óculos, perdi a aliança, tantas perdas que oiço todos os dias sussurrar pelos corredores nos transportes, em qualquer lugar. Essa perda eu entendo, ainda porque a minha curta existência não permite ainda plena sabedoria, o que eu não entendo é como alguém nos pode anunciar de ânimo leve, sem hesitação, perdi o carinho, perdi o respeito, perdi a confiança, perdi a vontade, perdi o amor, expliquem-me lá! Onde? Como? Foi a lavar os dentes de manhã que escorregou? Foi pelo ralo quando tomaram banho? Tinham posto no bolso, na agenda, apontado num papel de mercearia? - “não esquecer amar, sff”. Foi à saída do cacilheiro quando se ouviu um “poff”? Era o amor a cair ao mar? Foi ao jantar, a levantar a mesa? Terá a vontade ido junto aos restos? Foi no ginásio? O carinho ficou no cesto das toalhas? Foi a tua mãe que a limpar o quarto aspirou a tua confiança? Não sabia que era importante, coitadita?! Foi na praia? Já perdi uma pulseira na praia, mas nunca uma amizade. Foi o teu irmão mais novo que levou o amor e a bola para jogar no intervalo e os perdeu? Foi o IRS? Mas não há imposto sobre o amor? Há?
Ainda que se perda uma pessoa, ainda se compreende. Este mundo é grande e os meios de comunicação são complicados de utilizar dado o escasso tempo que temos, há coisas prioritárias, mas não pessoas, já se vê. O stress por exemplo, qualquer empregado da classe média alta e altíssima, tem de ter o seu tempo para o stress, para um suspiro e revirar de olhos compenetrados. No meio disto tudo ainda se percebe um catraio desaparecido no supermercado e recuperado três horas depois no balcão das informações ou de um ente querido que se fine. Afinal a vida é assim... mas nunca encontrei nos perdidos e achados nenhum pacote de atenção, ou um carinho amolgado que fosse. Eu sei que o amor tem um formato estranho e que a substância é escorregadia, eu sei que não é tamanho de um avião e que quem perde um avião facilmente perde uma coisa tão pequena e transparente, o que é estranho é tanta gente andar com tão precioso bem em bolsos rotos ou talvez seja o peito que fuzilado constantemente por egoísmo pitbulímico e ganancioso, tenha perdido o coração, tenha perdido a vida sem se dar conta.
Parecia uma pessoa como as outras,
parecia,
e chorava e sorria,
mas tudo nela que era igual,
de outra forma acontecia.

Parecia uma pessoa como as outras no andar,
os passos eram mansinhos
mas ela parecia voar.

Parecia uma como tanta gente,
mas as portas eram janelas,
e o seu abraço doce
estava sempre presente.

Parecia uma pessoa como as outras,
uma mulher banal,
mas era no imperceptível
que ninguém lhe era igual.

Parecia uma pessoa como as outras, entre todos, tão diferente, nas horas, nos gestos, nas palavras, no dar-se incondicionalmente. Não era rica nem famosa, não tinha viajado pelo mundo não era vaidosa, não tinha muita roupa, nem casa grande ou dinheiro sem fundo.
Morava em prédio modesto, sem luxo nem elevador, mas foi nessa vida simples que ela me ensinou o significado do amor.

Os miseráveis

Tuesday, July 18, 2006 | 0 Comments

Tenho uma vaga ideia de há três décadas se falar da Índia como uma espécie de Biafra. Entretanto, a economia melhorou; há indianos a viver melhor que portugueses ou suecos. Outros, pior. As pessoas dizem, agora, que há duas Índias, uma capitalista, muito burguesa, e outra pobre, miserável. Atribuem culpas ao sistema de castas. Os miseráveis continuam na extremidade inferior, fazendo os trabalhos sujos, que ninguém mais pode fazer: remover os excrementos que os outros produzem, executar todas as tarefas indignas e depreciativas. Vivem mal, comem mal, dormem na rua, não têm direitos civis, nem educação, nada, de tudo se vêm privados.
Por aqui não temos castas, mas temos os mesmos reféns do ciclo de miséria material ou espiritual, ou ambas, em que nascem e vivem. Alguns tentam, outros nem se dão ao trabalho. Reconhecemo-los pela forma como falam, como andam, como se vestem, penteiam. A partir do momento em que saímos de casa cruzamo-nos com essa casta. Alguns trabalham - Não é com orgulho, que bem preferiam fica a escarrar ódio ao governo e aos outros, os que nasceram com sorte - Trabalham nos cemitérios a enterrar e desenterrar corpos, na limpeza das ruas e das lojas, nas escolas, na recolha do lixo, nos hospitais, nos canis do estado e nos matadouros, nos campos, nas fábricas. Creio que estejam todos mortos. Creio que trabalhem como robots, que sejam robots fora do trabalho. A vida parece ser-lhes muito pesada. Roçam-se pelas esquinas das tabernas, e gastam tinta a tinta às cadeiras, anoitecem nos bancos de jardim, compram actrizitas baratas que lhes massagem o ego e o sexo caído, batem nas mulheres e nos filhos, adormecem em vergas de silêncio em tugúrios.
Para um miserável nacional, qualquer outro que venha do estrangeiro para trabalhar e ganhar dinheiro no que ele recusa fazer, é mais miserável do que ele. Os miseráveis verdadeiros não gostam dos que consideram miseráveis. Nem de ninguém. Consideram-se uma casta de sangue nobre, iluminada pelo conhecimento divino da miséria e do martírio, da bebedeira e da grosseria. Chateia-os que alguém faça o trabalho sujo e tão mal pago a que poderiam aceder. Porque os têm direitos. O primeiro deles é não ser miseráveis. Mas não é que façam por ser outra coisa qualquer. O seu sonho era que lhes saísse o Euromilhões para não trabalharem. Aí é que era! É que este país ia para a frente! (não se sabe é onde é que isso seria) Ouço-os a dizer isto sentados no snack-taberna, bebendo cervejas e ruminando toresmos, de fato-de-treino, enchotando à lambada os putos ranhosos como se fossem moscas, à terça à tarde... e à segunda, à quarta, à quinta, à sexta e ao sábado. É a sua única ocupação conhecida. O café. A amarguinha. A mine. O penalty. Ao domigo veste o melhor fato puído e arrasta a sua espectoração crónica à missa, para remissão dos pecados e um almoceco à borla servido no fim. Já tentaram quase todos abandonar a vocação de crentes, mas não encontraram em mais lado nenhum os periados e a caridadezinha que lhes dá tanto jeito. Os miseráveis mais batidos nas repartições e mini formação em segurança social vivem do rendimento mínimo, dos abonos dos filhos e do cão pulguento e ainda conseguem sanguesugar alguma instituição de caridade.
Não sei se existe grande paralelo entre os miseráveis da Índia e os miseráveis ocidentais. Na Índia sei que se envergonham um bocado, e procuram trabalho para conseguir comer aqui o peixe fritismo exala nos bairros de lata com carros tunnados parados à porta.
Um miserável tem o seu orgulho e é verdade que pode ter um casita mal apanhada da câmara e comer postas de ranço ao jantar, mas tem de ter o seu cordão de ouro, o carrinho para másculas rotações e a renda para os cigarros lhe cairem do beiço de boi manso.

Caixinha de música ;)

Tuesday, July 18, 2006 | 1 Comments

http://www.dvdsmusicvideos.com/

Alone

Tuesday, July 18, 2006 | 1 Comments

From childhood's hour I have not been;
as others were; I have not seen
As others saw; I could not bring
My passions from a common spring.

From the same source I have not taken
My sorrow;I could not awaken
My heart to joy at the same tone;
And all I loved, I loved alone.




Then- in my childhood, in the dawn
Of a most stormy life- was drawn
From every depth of good and ill
The mystery which binds me still:
From the torrent, or the fountain,
From the red cliff of the mountain,
From the sun that round me rolled
In its autumn tint of gold,
From the lightning in the sky
As it passed me flying by,
From the thunder and the storm,
And the cloud that took the form
(When the rest of Heaven was blue)
Of a demon in my view.

Sobre o amor..

Monday, July 17, 2006 | 2 Comments


Inevitável como a ferida feita pela chuva num coração de pedra, o amor chega um dia à nossa vida e nós não estamos.

Please don't hurt me!

Sunday, July 16, 2006 | 1 Comments

Please don't hurt me...
don't let me in the dark
I feel so scared,
can you feel my heart?

Please don't hurt me...
I am so shy
Can you feel my pain?
I 've been raped for a older guy.
How can I survive that again?

Please don't hurt me...
don't spank me
don't make me cry
don't cut my skin
I'm afraid to die.

You look so tender,
how can you kiss make me freeze?
It's hard to remember
that i like to tease.

How can I love?
How can I tell?
That your deepest desire
the taste of cold wire
It's my demoniac hell.

Bondage

Sunday, July 16, 2006 | 1 Comments


Contorço-me,
luto
tento fugir
as cordas são apertadas
são o teu amor
são o meu medo
que me amarram
ao tecto
e a ti
São elas que me impedem de cair no precipício.
Elas são já o precipício.

Sunday, July 16, 2006 | 1 Comments


Passei por uma montra que dizia "liquidação de existências". Não entrei.
A menina amarela era uma menina como as outras, talvez um pouco mais tímida, talvez um pouco mais calada. Os adultos estranhavam aquela seriedade precoce, o fazer das coisas aperfeiçoado à exaustão, os passos medidos, as palavras cuidadas. Quanto passeava pela mão da avó, as senhoras olhavam aquelas duas figuras muito cuidadas, muitos altivas no caminhar aprumado e sorridente. A menina amarela gostava de estar com a avó, de a ouvir falar, de adormecer agarrada ao seu corpo quente, de a ver tecer todas as manhãs a trança no alto da cabeça negra, de cheirar o café quente, as torradas, as fatias douradas, a espuma do leite. Foi nessa altura que a menina amarela começou a adorar o pequeno almoço e a fazedura lenta das coisas que se fazem por amor, em sua casa nunca havia tempo, talvez por não haver amor e o pequeno almoço era apenas uns naufragos flocos de cereais numa tigela esquelética.
A menina amarela não gostava de ir para casa e chorava muitas lágrimas cor de girassol quando tinha de voltar. A sua casa era frigorifica com paredes dentro. Os sorrisos e os sonhos ficavam no tapete da entrada ao limpar dos pés.
Sentia-se desfazer como se fosse feita de areia fininha, em todos aqueles finais de dia. O pai da menina amarela não era muito alto, tinha um olhar parado como o dos cavalos doentes, que por vezes se acendia em momentos de fúria e ódio incendiados por um hálito a drogas e alcool. Nessa altura ela encolhia-se muito como se quisesse transforma-se numa casquinha de noz e tentava passar despercebida debaixo de uma cadeira ou armário. Era sempre encontrada, sabia que era uma questão de tempo. Nessa altura olhava sempre pela janela fora com o olhar agarrado ao ponto mais longínquo do horizonte enquanto o corpo fendia e o sabor a sangue se dissolvia na boca. Às vezes os vidros da janela partiam-se ou os do loiceiro e ela fintava-os como se lhe segredassem baixinho uma resposta.
Não havia palavras entre ninguém, apenas um mastigar rancoroso das frustações. A menina amarela fingia-se sempre muito triste para não ser castigada, mas esse era já o seu maior castigo porque aquela tristeza entranhava-se como uma nódoa difícil de tirar.
Lembrava-se pouco da sua mãe transparente, cara pálida como os espectros. Lembrava-se dela correr de trabalho em trabalho como o coelho da Alice no País das Maravilhas, dos gritos altos, dos gestos a bisturi. Lembrava-se dela a arranjar comida de cão para o jantar, a desfazer as vísceras, o cheiro gorduroso da fervura, a nausea, o prato cheio, a ânsia de sair dali, o vómito, o olhar colérico na outra ponta da mesa, o choro, a colher a levar à boca o vómito e o soluço, o desespero de engolir até as próprias entranhas.

Ad vitam

Saturday, July 15, 2006 | 1 Comments

Amo devagar os amigos que são imensos como as ondas
Os amigos que enlouquecem e estão sentados,
os que caminham e se aventuram,
fechando os olhos,
nos cincos dedos do meu gesto.
Com os livros atrás a arder na eternidade,
no vagar do tempo,
Temos um talento doloroso e obscuro.
Construímos um lugar de silêncio.
De amor.

Muitas janelas abertas e Saramago parece gostar de janelas. Já alguém o disse, bem sei.
Falo das Intermitências da Morte.
E se a morte deixasse de matar?
Eis o mote para a reflexão ampla sobre a vida, a morte, o amor e o sentido, ou a falta dele, da nossa existência.

E se...
Se a morte um dia amasse? Porque é que amar tudo suspende à sua volta?
Porque é que amar parece fazer mudar a nossa alma de casa?

Fica o mote para uma leitura única e intimista. Pois se há algo em que parece estarmos irremediavelmente sós é nesse momento derradeiro.

Livros de Encantar

Friday, July 14, 2006 | 2 Comments

Ontem recordei como via o mundo quando era mais pequena.
O meu pai era enorme. O meu avô também. Pareciam os grandes entes que carregam os pequenos Hobbits pela Terra Média. Assim me sentia em cima dos seus ramos quando passeavam comigo aos ombros para que visse melhor lá de cima.
Á noite, à lareira, gostava de me contar histórias que inventava.
O meu avô contava-me de como o mundo tinha começado e de como noutros tempos devíamos ter sido algo parecido com peixes pois continuamos a nascer de dentro de água. Alguma coisa estaria relacionada. Descobri mais tarde que um filósofo pré-socrático tinha exactamente a mesma teoria. Fiquei maravilhada. As coisas que o meu avô sabia.
Mais tarde descobri que as suas teorias acerca da origem dos planetas e da vida também tinham tido desenvolvimentos geniais por pessoas instruídas. Sim, porque o meu avô só saía da sua quinta na Serra da Estrela tantas vezes quantas tinha de ir ao mercado vender frutas, legumes, azeite, queijos e pães e outras tantas iguarias que cultivava ou quando era obrigado a ir à Covilhã tratar de alguma burocracia.
Mal escrevia o seu nome e nunca leu nenhum livro. Também não tinha televisão e tão pouco água canalizada ou electricidade. Mas isso não o impediu de observar o mundo à sua volta com olhos de ver e usar a sua encantadora arte de contador de histórias para pensar alto.
Ontem desfolhei essa página do livro que guardo dentro, cheio de tesouros e lembranças doces.
Olhava o céu e lembrava-me das mãos fortes e sujas a cheirar a amoras que me seguravam com a suavidade de dois longos ramos, acima da sua cabeça. Lembro-me dos meus dedos sobre a sua cabeça cheia de madeixas branquinhas que pareciam penas de pássaros e de falar e rir muito, muito alto.
Ontem abri essa página num rasgar de luz e azul.
Recordei-o em silêncio, num silêncio cheio, a transbordar de cheiros silvestres e risos cristalinos.
Passou-me por instantes a dor aguda de ansiedade que toda a tarde me perseguiu.
Há coisas que nos curam.
As boas recordações são uma delas.

Um pouco mais...

Friday, July 14, 2006 | 2 Comments





















Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada
-Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...
Álvado de Campos

O amor é outra coisa...

Thursday, July 13, 2006 | 1 Comments

O amor não é algo que te faz sair do chão
e te transporta para lugares que nunca viste.
O nome disso é avião.
O amor é outra coisa.

O amor não é uma coisa que escondes dentro de ti e guardas na intimidade.
Isso chama-se vibrador tailandês de alta qualidade.
O amor é outra coisa.

O amor não é uma coisa que te faz perder a fala e a respiração.
O nome disso é bronquite asmática e ataca o pulmão.
O amor é outra coisa.

O amor não é uma coisa que chega de repente e te transforma em refém.
Isso chama-se talibã, entre Israel e Belém.
O amor é outra coisa.

O amor não é uma coisa que voa alto no céu e deixa a sua marca por onde passa.
Isso chama-se pombo com desinteria e se te apanha é uma desgraça.
O amor é outra coisa.

O amor não é uma coisa que tu podes prender ou abandonar quando bem entenderes.
Isso chama-se cão, e se o fizeres não tem perdão.
O amor é outra coisa.

O amor não é uma coisa que te iluminou,
pôs-te ver estrelas e deixou em ti a sua marca, fez-te feliz.
Isso chama-se cirurgião e o que deixa é cicatriz.
O amor é outra coisa.

O amor não é coisa que se perca,
ou que se faça questão.
O nome disso é prolocolo ou declaração.
O amor é outra coisa.

O amor não é uma coisa que desapareceu e que,
quando encontras, muda todo o teu campo de visão.
Isso chama-se controlo remoto de televisão.
O amor é outra coisa.

O amor é simplesmente...

Amigo!

Wednesday, July 12, 2006 | 0 Comments

Mal nos conhecemos
Inaugurámos a palavra amigo!
"Amigo" é um sorriso
De boca em boca,
Um olhar bem limpo,
Uma casa, mesmo modesta, que se oferece,
Um coração pronto a pulsar
Na nossa mão!

"Amigo" (recordam-se, vocês aí,
Escrupulosos detritos?)
"Amigo" é o contrário de inimigo!
"Amigo" é o erro corrigido
Não o erro perseguido, explorado,
É a verdade partilhada, praticada!

"Amigo" é a solidão derrotada!
"Amigo" é uma grande tarefa,
É um trabalho sem fim,
Um espaço sem fim,
Um espaço útil, um tempo fértil,
"Amigo" vai ser, é já uma grande festa!"
Alexandre O'Neill

Wednesday, July 12, 2006 | 0 Comments

Hoje, há balões que se enchem. São a promessa da continuidade. Para já são a raiz da nossa força e determinação no cravar de um sulco até ao entusiasmante local onde queremos chegar, para partir novamente. Para já enchem apenas o peito para ir fazer futuro, para ir ganhar o vento e a vida, até ao que queremos ser, até ao que havemos de ser, até à origem do amor.

O mundo ao lado...

Tuesday, July 11, 2006 | 0 Comments

Poderá isto ser amor?

Para quem alguma vez desfolhou, nem que por obrigação curricular, o Cap. VII da República de Platão e se defrontou com a alegoria da caverna, poderá este post fazer algum sentido, sobretudo pelo que antes parecia espreitar envergonhadamente por cima de cada página voltada e que agora aparece, inquietantemente, a saltar-me aos olhos para onde quer que me vire.

A “alegoria da caverna” exprime uma radical prisão de perspectiva, que à primeira vista parece totalmente estranha à nossa situação. Essa prisão distingue-se pelo carácter extremo da finitude que possibilita e ao mesmo tempo também pelo modo como faz que essa perspectiva tão radicalmente finita pareça dispor de um amplo “conhecimento” da realidade. De facto temos constantemente a crença de domínio sobre a realidade que nos rodeia. Desde a nossa casa, as nossas coisas, as pessoas que conhecemos, os sítos que frequentamos. A nossa perspectiva natural é de domínio, de segurança, de conhecimento. Daí que emitamos juízos a torto e a direito sobre os outros, sobre o que achamos das suas acções, sobre sítios e outras tantas realidades de que apenas conhecemos minúsculas partículas do que poderão ser. "Conheço fulano." "Conheço Paris." "Conheço a minha rua."
Se fizermos esse exercício de familiariedade constatamos exactamente a amplitude que julgamos conhecer bem e que nos permite a manutenção do nosso dia-a-dia.
E qual a relação com a Alegoria da Caverna? Não vivemos nós cientes da realidade, dominadores da mesma, confortáveis e seguros perante os nossos juízos acerca de tudo o que nos rodeia? Assim é. Assim parece.

A alegoria da caverna exprime uma inquietante situação. Passo a transcrevê-la:

"Depois disto – prossegui eu – imagina a nossa natureza, relativamente à educação ou à sua falta, de acordo com a seguinte experiência. Suponhamos uns homens numa habitação subterrânea em forma de caverna, com uma entrada aberta para a luz, que se estende a todo o comprimento dessa gruta. Estão lá dentro desde a infância, algemados de pernas e pescoços, de tal maneira que só lhes é dado permanecer no mesmo lugar e olhar em frente; são incapazes de voltar a cabeça, por causa dos grilhões; serve-lhes de iluminação um fogo que se queima ao longe, numa eminência, por detrás deles; entre a fogueira e os prisioneiros há um caminho ascendente, ao longo do qual se construiu um pequeno muro, no género dos tapumes que os homens dos fantoches colocam diante do público, para mostrarem as suas habilidades por cima deles.
– Estou a ver – disse ele.
– Visiona também ao longo deste muro, homens que transportam toda a espécie de objectos, que o ultrapassam: estatuetas de homens e de animais, de pedra e de madeira, de toda a espécie de lavor; como é natural, dos que os transportam, uns falam, outros seguem calados.
– Estranho quadro e estranhos prisioneiros são esses de que tu falas – observou ele.
– Semelhantes a nós – continuei -. Em primeiro lugar, pensas que, nestas condições, eles tenham visto, de si mesmo e dos outros, algo mais que as sombras projectadas pelo fogo na parede oposta da caverna?
– Como não – respondeu ele –, se são forçados a manter a cabeça imóvel toda a vida?
– E os objectos transportados? Não se passa o mesmo com eles ?
– Sem dúvida.
– Então, se eles fossem capazes de conversar uns com os outros, não te parece que eles julgariam estar a nomear objectos reais, quando designavam o que viam?
– É forçoso.
– E se a prisão tivesse também um eco na parede do fundo? Quando algum dos transeuntes falasse, não te parece que eles não julgariam outra coisa, senão que era a voz da sombra que passava?
– Por Zeus, que sim!
– De qualquer modo – afirmei – pessoas nessas condições não pensavam que a realidade fosse senão a sombra dos objectos.
– É absolutamente forçoso – disse ele.
– Considera pois – continuei – o que aconteceria se eles fossem soltos das cadeias e curados da sua ignorância, a ver se, regressados à sua natureza, as coisas se passavam deste modo. Logo que alguém soltasse um deles, e o forçasse a endireitar-se de repente, a voltar o pescoço, a andar e a olhar para a luz, ao fazer tudo isso, sentiria dor, e o deslumbramento impedi-lo-ia de fixar os objectos cujas sombras via outrora. Que julgas tu que ele diria, se alguém lhe afirmasse que até então ele só vira coisas vãs, ao passo que agora estava mais perto da realidade e via de verdade, voltado para objectos mais reais? E se ainda, mostrando-lhe cada um desses objectos que passavam, o forçassem com perguntas a dizer o que era? Não te parece que ele se veria em dificuldades e suporia que os objectos vistos outrora eram mais reais do que os que agora lhe mostravam?
– Muito mais – afirmou.
– Portanto, se alguém o forçasse a olhar para a própria luz, doer-lhe-iam os olhos e voltar-se-ia, para buscar refúgio junto dos objectos para os quais podia olhar, e julgaria ainda que estes eram na verdade mais nítidos do que os que lhe mostravam?
– Seria assim – disse ele.
– E se o arrancassem dali à força e o fizessem subir o caminho rude e íngreme, e não o deixassem fugir antes de o arrastarem até à luz do Sol, não seria natural que ele se doesse e agastasse, por ser assim arrastado, e, depois de chegar à luz, com os olhos deslumbrados, nem sequer pudesse ver nada daquilo que agora dizemos serem os verdadeiros objectos?
– Não poderia, de facto, pelo menos de repente.
– Precisava de se habituar, julgo eu, se quisesse ver o mundo superior. Em primeiro lugar, olharia mais facilmente para as sombras, depois disso, para as imagens dos homens e dos outros objectos, reflectidas na água, e, por último, para os próprios objectos. A partir de então, seria capaz de contemplar o que há no céu, e o próprio céu, durante a noite, olhando para a luz das estrelas e da Lua, mais facilmente do que se fosse o Sol e o seu brilho de dia.
– Pois não!
– Finalmente, julgo eu, seria capaz de olhar para o Sol e de o contemplar, não já a sua imagem na água ou em qualquer sítio, mas a ele mesmo, no seu lugar.
– Necessariamente.
– Depois já compreenderia, acerca do Sol, que é ele que causa as estações e os anos e que tudo dirige no mundo visível, e que é o responsável por tudo aquilo de que eles viam um arremedo.
– É evidente que depois chegaria a essas conclusões.
– E então? Quando ele se lembrasse da sua primitiva habitação, e do saber que lá possuía, dos seus companheiros de prisão desse tempo, não crês que ele se regozijaria com a mudança e deploraria os outros?
– Com certeza.
– E as honras e elogios, se alguns tinham então entre si, ou prémios para o que distinguisse com mais agudeza os objectos que passavam e se lembrasse melhor quais os que costumavam passar em primeiro lugar e quais em último, ou os que seguiam juntos, e àquele que dentre eles fosse mais hábil em predizer o que ia acontecer – parece-te que ele teria saudades ou inveja das honrarias e poder que havia entre eles, ou que experimentaria os mesmos sentimentos que em Homero, e seria seu intenso desejo "servir junto de um homem pobre, como servo da gleba", e antes sofrer tudo do que regressar àquelas ilusões e viver daquele modo?
– Suponho que seria assim – respondeu – que ele sofreria tudo, de preferência a viver daquela maneira.
– Imagina ainda o seguinte – prossegui eu -. Se um homem nessas condições descesse de novo para o seu antigo posto, não teria os olhos cheios de trevas, ao regressar subitamente da luz do Sol?
– Com certeza.
– E se lhe fosse necessário julgar daquelas sombras em competição com os que tinham estado sempre prisioneiros, no período em que ainda estava ofuscado, antes de adaptar a vista – e o tempo de se habituar não seria pouco – acaso não causaria o riso, e não diriam dele que, por ter subido ao mundo superior, estragara a vista, e que não valia a pena tentar a ascensão ? E a quem tentasse soltá-los e conduzi-los até cima, se pudessem agarrá-lo e matá-lo, não o matariam ?
– Matariam, sem dúvida – confirmou ele."
República, Livro VII, 514a-517c

O anticristo!

Monday, July 10, 2006 | 0 Comments

Ele entra em todas as casas de família, conquista as criancinhas com as suas mensagens subliminares nas suas cançõezitas de refrão fácil e música tirolesa gay. O jantar fica a meio, o pijama por vestir e a novela tem de ser dramaticamente interrompida (o que vale é que a seguir de uma há sempre outra).
Tem uma carita sorridente e aparentemente inofensiva, não fuma, não bebe, e é um cidadão exemplar com um carrito para contribuir alguma coisita para o IA e para as petrolíferas. Resolve tudo com simpatia irritante sem ajuda de psicólogo nem narcóticos anti-depressivos. Usa calções o ano inteiro sem o mínimo de sentido estético e mesma blusa todos os dias o que em termos de higiene é inominável e um gorro com um guizo à cabrito monteza.
É este, meus amigos, que deixa as criancinhas histéricas a chorar baba e ranho nas prateleiras do continente enquanto os pais se tentam servir do carrinho das compras para discretamente as deixar inconscientes. É este que é capaz de convencer os vossos filhos a arrumar o quarto num episódio depois de a mãe se ter esmifrado a ler livros de psicologia infantil sobre técnicas de negociação sem impacto negativo na constituição da personalidade, a comer a sopa apenas com uma frase e uma gargalhada depois dos três pares de estalos educativos e um chão cheio de cuspidelas.
Não há exorcista veterano capaz de erradicar qualquer espírito de joanete inchado que tenha resposta a esta força maligna. Ele veio para ficar, acautelem-se e protejam os vossos anjinhos inocentes, ou melhor protejam-se deles!

Foreigner

Sunday, July 09, 2006 | 0 Comments

Deixei que os teus olhos me rasgassem e a tua boca me roubasse o último fôlego. Que as asas se quebrassem e o voo fosse rasto de destruição.
Ouço o incêndio, a música alta e atordoante como o torpor fabril metálico das pulsações aceleradas. O suor interrupto da voluptia inebriante. Ouço quem se ama onde o amor não há – apenas o clandestino abrir do portão dourado ante uma porta cerrada. Ouço o rasgar dos mapas, o corte do dedo apontado como lança de bronze na mão de vastidões adversas. O entulho os restos de existência, desdobrada a raiz, a heresia, a sábia recriação do filhos arrancados ao útero do rancor e da linfa. O arrastar dos pés como arados. A luz difusa. Os barcos segregados na vastidão do mar. Ainda a medo desagrego essa centenária paz dos homens, onde os ouço, e por onde quer que passe sou apenas essa sombra sem corpo como se as minhas origens fossem compradas do terror de não existir em ninguém, de ser um estranho em todas as terras, até na minha casa, até nos teus braços. Quando niinguém nos reconhece o rosto ou o nome, é como se nao existissemos em lugar nenhum...

Hora

Friday, July 07, 2006 | 1 Comments

Sinto que hoje novamente embarco
Para as grandes aventuras,
Passam no ar palavras obscuras
E o meu desejo canta - por isso marco
Nos meus sentidos a imagem desta hora.

Sonoro e profundo
Aquele mundo
Que eu sonhara e perdera
Espera
O peso dos meus gestos.

E dormem mil gestos nos meus dedos.

Desligadas dos círculos funestos
Das mentiras alheias,
Finalmente solitárias,
As minhas mãos estão cheias
De expectativa e de segredos
Como os negros arvoredos
Que baloiçam na noite murmurando.

Ao longe por mim oiço chamando
A voz das coisas que eu sei amar.

E de novo caminho para o mar.

Sophia de Mello Breyner Andresen

O abraço....

Thursday, July 06, 2006 | 0 Comments

Quando tudo o resto falha, quando a manhã acontece, quando os joelhos se abrem, quando o sorriso enfraquece, quanto o pulso vacila, quando a voz enrouquece, quando o meu nome se dissolve, quando nada apetece, quando os sonhos se desfazem e a coragem se desvanece....
.... nos teus braços me refaço, sem palavra nem silêncio, apenas a ternura de quem brandamente segura um corpo dissolvente.
Nos teus braços me refaço, sem ira, sem dor, sem embaraço e....
.... lentamente como quem em pétalas se desprende.....
deixo-me vestir de outra roupa por mãos de estranha gente e a pele que era de rosa noutra flor se reaprende.

Learning...

Thursday, July 06, 2006 | 0 Comments

Ensina-me outra vez o nome das coisas que perdi, dos gestos que me escaparam no esforço da subida, ensina-me a adormecer sem sobressaltos, a caminhar sem espreitar por cima do ombro. Ensina-me a amar de um só fôlego sem medo da queda, sem máscaras de couro negro cozidas por dentro a arame farpado. Ensina-me a não esperar de mim mais que a destruição do que toco à minha passagem. Ensina-me tão doce, tão somente, esse tesouro da pastora de rebanhos e da imperatriz, ensina-me, meu amor, a ser feliz...

Without skin

Wednesday, July 05, 2006 | 0 Comments

Do anjo fez-se o homem e do homem o demónio.
As asas que eram vento são acutilantes ossos chupados pela fúria do esgar tão breve e cínico como um golpe nos pulsos mais delicados.
Da beleza que era celestial fez-se a sangrenta massa dos dias no arrastar dos pés e no genocídio da diferença.
O rumor apenas, lancinantes gritos agudos das gárgulas pelos céus de chumbo onde se afogam os corpos dos que levantam os olhos do chão.
Do anjo fez-se o demónio e do demónio o homem.

Uma vidinha atinada

Wednesday, July 05, 2006 | 0 Comments

tão jeitosinha que ela era. tão boa rapariga. nunca deu dores de cabeça aos pais. chegou sempre a horas a casa. era para a melhor aluna da turma. limpava a casa aos sábados de manhã e à tarde ajudava os padrinhos nas contas da casa e lia à tia octogenária a carta dos filhos emigrados em frança. empregou-se e comprou logo uma casinha (apartamento) muito jeitosinha, assim como ela, nos subúrbios ajardinados da cidade. era assídua e pontual em educado silêncio. tinha duas contas no banco – numa depositava o cheque do ordenado e orientava-se para, na outra conta, depositar um montante certo todos os meses, o seu pé-de-meia para alguma infelicidade desta vida. era mesmo uma rapariga muito atiladinha. os vizinhos dos pais perguntavam-lhes sempre "então… ? como está a nossa Gracinha?". um moço. nem por isso mal-jeitoso. mas nada jeitosinho da vida dele. assim para o desorientadito. a Gracinha achou-lhe graça, o que se há-de fazer? as coisas do coração são assim mesmo. não se manda nos sentimentos. lamentou a possibilidade de dar um desgosto aos pais quando oficializou que o seu coração pertencia ao moço. espantou-se da ausência de espanto dos pais. o namoro era a modos que um namoro. o moço parecia ter boas intenções a até lhe dizia que o seu coração era dela. não falava em casamento. Gracinha, por vezes, à noite, na sua cama de lençóis devidamente engomados, arriscava-se lamentar o atraso no pedido de sua mão. mas tanto que gostava do rapaz nem por isso mal-jeitoso, mas nada jeitosinho da vida dele, assim para o desorientadito, tanto, que não arriscava o tema - casamento. mais vale um pássaro na mão do que nenhum a voar. era rapaz trabalhador. tratava-a bem. almoçavam fora aos domingos. deixou-se andar e manteve-se assídua e pontual no trabalho. as contas bancárias sempre orientadinhas. lamentavelmente, um mal-fadado dia, o moço, o tal rapaz nem por isso mal-jeitoso, mas nada jeitosinho da vida dele, assim para o desorientadito, disse-lhe que seguia para a Nova Zelândia num projecto musical que não podia deixar escapar da sua existência. orientou-se à sua maneira, o moço. Gracinha, assim, viu-se sozinha, sem passarito na mão. qinda se tivesse tido um casamento e um menino para consolo. mas nem isso para entreter a existência em tricotadas roupinhas e lamentações. Gracinha pensou nos seus pais, eram já sexagenários. sem um amparo na velhice. despediu-se. vendeu a sua casinha (apartamento) muito jeitosinha, levantou o dinheiro da conta pé-de-meia e voltou para a vila onde nasceu. chegara o tempo de tomar conta dos papás. chegou a casa. abriu a porta com a sua chave (ainda possuía uma chave de casa dos seus pais, nunca a entregara de volta). encontrou um bilhete que dizia “Gracinha, se vieres cá a casa, deverás reparar que não estamos, fomos numa excursão às caraíbas. voltamos por altura do Natal”. Gracinha meteu-se no carro, compondo a sua camisa amarelo desmaiado. pegou no mapa e traçou o melhor caminho de regresso. ao parar nos semáforos gemeu. AVC. morreu instantaneamente. não sofreu.

"A adequação do traje de trabalho tem a ver com a actividade, com o local e o horário em que será usado. Se não for um uniforme obrigatório, segue o que se recomenda para o traje em geral: considerar a idade e o físico da pessoa, combinar com a cor dos seus cabelos e da sua pele. Mas neste caso a roupa de trabalho, sofre ainda mais alguns controles: deve guardar uma certa harmonia de nível entre os empregados no sentido de que algum deles não exceda em luxo aos colegas, e sobretudo ao chefe. Porém, não há medidas para o bom gosto. Este não depende de luxo nem precisa respeitar hierarquias. No trabalho, é considerado inadequado para a mulher roupas que são coladas ao corpo, curtas e sem mangas, com decotes grandes ou em tecidos transparentes ou brilhantes; a blusa deve ser opaca o bastante para esconder as costuras e alças do sutiã. Tecidos grossos demais, certos conjuntos de jeans, veludos, roupa de couro, parecem diminuir o dinamismo e facilitar uma aparência de ineficiência. São mais próprias roupas fartas, dentro do seu figurino, evitando cores baratas (preto, marrom, ou coloridos ralos, de pouca tinta), como também estamparia de desenho muito graúdo (grandes retângulos, grandes círculos, grandes folhas, etc.). Salvo quando a natureza do trabalho recomendar o contrário, é mais conservador e clássico o uso de saias, em vez de calças compridas. Melhor seguir a moda depois que esta estiver bem assente, ou bem aceita. Os caprichos da última moda sempre parecem, inicialmente, extravagância e mau gosto; por isso não é uma boa ideia para a mulher, ser muito vanguardeira em seus trajes de trabalho.
As meias compridas são um acessório importante para a elegância, desde que não sejam espessas e chamem atenção como se fossem meias ortopédicas. Quanto a jóias e bijuterias, no trabalho é conveniente usar o mínimo em tamanho e quantidade. Brincos discretos e pequenos, cintos não muito largos, principalmente se forem de couro cru ou cadeia de metais. Certa vez fui atendido em uma livraria nos Estados Unidos pela própria dona da loja. Usava em uma das mãos um anel com uma grande pedra, e na outra um chuveiro com cinco brilhantes de meio quilate cada um. Elogiei a beleza da ametista, mas ela respondeu secamente: é um rubi. Abstive-me de comentários sobre os brilhantes, mas pensei no quanto ela parecia ter vindo de uma grande noitada diretamente para sua livraria.
Os sapatos nunca são de plataforma alta, ou de salto muito alto; melhor que sejam delicados e de salto médio, e estejam sempre limpos, assim como a bolsa. Se a mulher tem que caminhar muito entre o local onde estaciona seu carro ou desembarca do transporte coletivo, e o local do trabalho, não precisa estragar pelas calçadas os sapatos de sua toilete. Pode utilizar um calçado robusto, adequado para a caminhada, que não prejudique muito a sua elegância, e levar em uma pequena sacola aquele que usará no trabalho. Porém, usar para esse trajeto um tenis e meias brancas e curtas – como vi em Nova Yorque –, é um contraste muito desagradável de se ver.
Roupa, sapatos e bolsa de cor branca devem ser evitados nos meses frios ou nos dias chuvosos.
Para o homem valem recomendações bem parecidas. O uso de paletó e gravata é praticamente obrigatório como paramento da autoridade, tanto pública como privada. O modo de vestir-se de uma autoridade é sempre conservador. Os ternos são em cores escuras, listados ou não, a camisa branca, raramente azul claro, com punhos simples ou duplos, sapatos clássicos, de laço ou de fivelas, meias escuras e gravatas conservadoras. Tanto no governo quanto em empresas privadas os funcionários do alto escalão de chefia, podem usar blazer, mantendo a gravata. Em qualquer dos casos, a camisa a ser usada com o paletó é sempre de mangas compridas. O punho deve ultrapassar a ponta da manga do paletó cerca de 1 a 1,5 cm, ficando cobertas as abotoaduras ou o botão do punho da camisa. Esta, ao nível das assessorias, pode variar a cor, mantendo-se o bom gosto da combinação; os sapatos podem ser mocassins com borlas.
Fora do escalão das autoridades, públicas ou privadas, e das suas assessorias, os homens comumente usam, no máximo, paletó esporte de cor e padrão discretos, com gravata. As camisas coloridas, com colarinho e punhos brancos, são um tanto pretensiosas e por isso o seu uso resvala para os limites do mau gosto.
Jalecos usados em consultórios, hospitais, laboratórios e oficinas não interferem na vestimenta, exceto por dispensarem o paletó ou o blazer. Os homens usam o jaleco sobre a camisa com gravata, as mulheres usam diretamente sobre o vestido ou a blusa. Ao sair do ambiente de trabalho, o jaleco ou o guarda-pó deve ser despido, porque não é parte do traje social e sua função é restrita ao local da atividade.
Os suspensórios são pouco usados atualmente, e as calças vêm com alças para os cintos. Se o homem prefere manter as calças em posição com o uso de suspensórios, deve usar um cinto folgado para ocupar as alças, ou então mandar removê-las, ou encomendar calças a um alfaiate, sem esse detalhe
Os jeans nunca deixam de trair suas origens; ficam melhor para o trabalho no campo, no quintal, ou no jardim e nas oficinas. Sequer para o trabalho em um atelier de arte, um estúdio de fotografia, balcão de loja, ficam lá muito bem.
Não se usam meias claras ou brancas com sapatos escuros. As meias nunca devem ser de cano curto, pois deixam parte das pernas à vista quando o homem se senta. Sapatos engraxados – não se deve dar chance a que alguém de saber de onde o outro vem, pelo barro nos seus sapatos – roupas limpas e passadas, sem manchas, rasgos ou falta de botões, é um mandamento básico."

Rubem Queiroz Cobra em http://www.cobra.pages.nom.br/autoeduc.html
Lançada em 00/00/2001

Achei um mimo este texto (lembra-me a minha mãe a fazer de mim uma senhorinha) e achei por bem partilhá-lo e deixar ao vosso bom senso e sensibilidade a sua interpretação e crítica.

My Man

Monday, July 03, 2006 | 2 Comments


"I, with a deeper instinct, choose a man who compels my strength, who makes enormous demands on me, who does not doubt my courage or my toughness, who does not believe me naïve or innocent, who has the courage to treat me like a woman." Anaïs Nin
US (French-born) author & diarist (1903 - 1977)

Quanto mais...

Monday, July 03, 2006 | 0 Comments

"Quanto mais eu sinta, quanto mais eu sinta como várias pessoas,
Quanto mais personalidades eu tiver,
Quanto mais intensamente, estridentemente as tiver,
Quanto mais simultaneamente sentir com todas elas,
Quanto mais unificadamente diverso, dispersadamente atento,
Estiver, sentir, viver, for,
Mais possuirei a existência total do universo,
Mais completo serei pelo espaço inteiro fora."

Álvaro de Campos
a) Ambições profissionais: ser chefe e atingir depressa a reforma;
b) Desejar que todo e qualquer feriado calhe a uma terça ou quinta feira para fazer ponte, ou pelo menos à sexta que é dia santo;
c) Achar que todos os trabalhadores deviam ser funcionários públicos, para “verem como elas mordem”;
d)"A antiguidade é um posto";
e) Rejeitar qualquer inovação no serviço: mudar de agrafes para clips “baralha logo o esquema todo”;
f) Deixar para amanhã o que pode ser feito hoje, se não der muito nas vistas, deixar para o mês que vem;
g) Dizer mal do governo, porque eles são todos “uns chulos que se andam a encher à custa do nosso trabalho”;
h) Combater a frustração de trabalhar pensando que há quem viva pior;
i) Sonhar que um dia ganhará o euromilhões e poderá finalmente trocar os 15 de time-sharing por um mesito no sul de Espanha ;
j) Tratar tudo o que é hierarquia superior por Drº ou Engº com esperança de ser tratado da mesma forma;
k) Considerar-se em todos os momentos um agente da moral e da ordem;
l) Manter sempre a clientela: um indivíduo vai, por exemplo, a uma repartição das finanças e sai de lá depois de ter visitado cada guichet pelo menos duas vezes - se voltou é porque estava satisfeito!;
m) Manter o suspense:“a assinatura que o formulário precisa vai demorar pelo menos 15 dias”, porque é assinado pelo chefe de secção (secretária ao lado);
n) Cantarolar a música do Avante quando o rádio do local de trabalho não funcionar.
o) Lamentar que a assinatura do papel que já passou por três repartições esteja pouco legível e portanto seja preciso tirar um novo documento;
p) Ter o autocolante de “Por favor não fume” na secretária ao lado de um cinzeiro a apoiar um cigarro aceso;
q) Fechar a porta meia hora antes para “arrumar assuntos” e poder sair a horas, mesmo com uma velhota de cajado a acabar de subir o último dos cinco degraus que lhe levaram vinte minutos de esforço;
r) Rejeitar a clientela toda afirmando que “o sistema tem estado todo em baixo”, quando é só o Solitaire que dá erro;
s) Vestir sempre cores pastel para ter um ar cansado de quem se mata a trabalhar;
t) Perguntar sempre “Está à espera de alguém?” quando chega ao balcão e está lá um indivíduo à espera;
u) Começar o discurso por “Olhe, meu/minha amiga/o” sempre que vai dizer que não pode resolver o problema apresentado;
v) Fazer greve porque quer ganhar mais e trabalhar menos, não obstante a produtividade estar perto de zero;
w) Aproveitar sempre que o “cliente” se apresente com melhor aspecto para dizer que “isto pelo processo normal demora «um bocadinho» mas se calhar eu posso fazer-lhe um jeitinho e apressar as coisas”, olhando descaradamente para o bolso da pessoa;
x) Insistir que “o formulário EQ3-B/125 versão 16 é no guichet ao lado” quando atrás tem um cartaz de dois metros quadrados alertando: “Formulário EQ3-B/125 versão 16 – Peça aqui”;
y) Disfrutar de uma pausa para café de 2/3 do dia de trabalho;
z) Não trabalhar eficientemente porque é mal pago e seria um ultraje à sua honra fazer alguma coisa bem com tão baixa remuneração. Além disso não ia trair os camaradas de trabalho e “armar-se em espertinho” mostrando resultados ao chefe.

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Mei and Arawn