Fragilidade

Thursday, March 30, 2006 | 1 Comments

Como posso amar-te num mundo assim tão breve, assim tão frágil, onde a imperfeição nos ancora os tornozelos a tenebrosos fundos, à violência dos dias?

Terror de te amar assim sem conhecer o teu nome, tendo a espera por tua mão e a noite mansa por beijo.

Se o teu rosto é tão desconhecido como o caminho, se nem a voz nem o cheiro me podem guiar por desconhecer de que és feito...

...e o azul é tão pouco azul na ausência dos teus braços de gaivota. Eu espero, mas tarda e o frio aperta, como naquelas madrugadas em que esperamos o autocarro para a bater o dente.

Como posso amar-te sendo assim tão pequena num mundo imenso sem saber como encontrar-te, eu que me perco no caminho de casa...

Thursday, March 30, 2006 | 0 Comments

Thursday, March 30, 2006 | 0 Comments





















I am impossible to forget but hard to remember.
Elizabethtown

Wednesday, March 29, 2006 | 0 Comments


"o amor é como o bom tempo... mas a chuva e o frio também são bom tempo"

in Casanova (filme)

Manias

Tuesday, March 28, 2006 | 5 Comments




Tenho a mania de gostar das manias dos outros
Tenho a mania de olhar para o céu e julgar-me mais próxima
Tenho a mania de brincar com aneis como se fossem aros de ar à volta dos meus dedos
Tenho a mania de fazer rabiscos com canetas azuis e julgá-los de mil cores
Tenho a mania de fazer rabiscos na areia da praia e esperar que a água os leve e os ofereça suavemente noutra paragem qualquer
Tenho a mania de fazer rabiscos durante as reuniões
Tenho a mania dos rabiscos!
Tenho a mania de procurar conchas
Tenho a mania de mexer nos cabelos
Tenho a mania da simetria
Tenho a mania das coisas bonitas, dos sítios bonitos, das pessoas bonitas...
Tenho a mania de arrumar as coisas em caixinhas
Tenho a mania de achar que o que sei é inversamente proporcional a uma imensidão muito superior que desconheço
Tenho a mania das borboletas que me fazem sonhar que voo e que o meu corpo é feito de cristal colorido
Tenho a mania da relva e do cheirinho da chuva
Tenho a mania de me perder entre passarinhos e flores
Tenho a mania de salvar patos em apuros
Tenho a mania de ronronar num qualquer parapeito ao sol
Tenho a mania de olhar para o tecto das estações de metro e demorar-me enquanto todos correm
Tenho a mania de procurar pormenores em tudo o que vejo, cheiro, ouço, toco ou sinto
Tenho a mania de encher a secretária com coisas oferecidas por quem gosto
Tenho a mania de me esperguiçar demoradamente de manhã
Tenho a mania de acordar antes do despertador só para não o ouvir a tocar sem pré-aviso
Tenho a mania de preencher com a imaginação o que os olhos não alcançam
Tenho a mania das meias, de todas as cores e feitios
Tenho a mania dos roadsters, dos lençóis perfumados e de ter os cabelos húmidos a cheirar a jasmim
Tenho a mania de me blogar
Tenho a mania de conversar, conversar muito, de contar tudo muito explicadinho
Tenho a mania de viver intensamente as coisas
Tenho a mania de refilar
Tenho a mania de beber chá
Tenho a mania compulsiva de ir ao cinema
Tenho a mania de gostar muito muito muito
Tenho a mania de me esticar quando começo a escrever ou a falar, por isso não enunciei apenas 5 manias
Tenho a mania de pedir aos outros que me mostrem as suas manias, que é o passo que se segue a este post.

Passo a mania à doce "kat", ao destemido "Olavo", ao anjo "Lillian", ao leal "Spoken" e ao sonhador "Carlos".

O regulamento...
"Cada bloguista participante tem de enumerar cinco manias suas, hábitos muito pessoais que os diferenciem do comum dos mortais. E além de dar ao público conhecimento dessas particularidades, tem de escolher cinco outros bloguistas para entrarem, igualmente, no jogo, não se esquecendo de deixar nos respectivos blogues aviso do "recrutamento". Além disso, cada participante deve reproduzir este "regulamento" no seu blogue."

Em viagem...

Monday, March 27, 2006 | 0 Comments

Se perguntarem por mim, digam...
que não estou
que voei
que estou a caminho
que nunca chegarei.

Se perguntarem por mim, digam...
que sou estrada
que sou vento
que sou onda,
que sou tudo e quase nada.

Parabéns mãe!

Thursday, March 23, 2006 | 0 Comments


Desejo-te um ano de felicidade por cada estrela que brilha no céu.
Desejo-te um lapso de memória que apague todos os maus momentos, deixando deles apenas o que de aprendizagem for retirado.
Desejo-te cores e mil sabores com que possas colorir os teus dias e saborear cada momento da vida.

Obrigada pelas vezes que me escovaste o cabelo.
Obrigada pelas frutinhas maduras escolhidas com tanto carinho.
Obrigada pelas roupinhas que escolheste comigo.
Obrigada pela tua força.
Obrigada por tudo o que me ensinaste.
Obrigada por todos os valores que me transmitiste.
Obrigada por estares aqui!

My sister's eyes

Thursday, March 23, 2006 | 1 Comments

Quando era pequenina, quando eu acordava, a minha irmã já estava acordada. A minha irmã era alta, mas a sua face roçava sempre a minha, bochecha com bochecha, narizinho com narizinho num esvoaçante bom dia. A minha irmã tinha olhos azul-sorridente. Sempre. Às vezes eu acordava rabujenta pelo troar impertinente do despertador e havia aquele mar sereno a fazer-me florescer um sorriso nos cantos da boca. A minha irmã acordava cedinho, tão cedo que eu tinha sempre a impressão do robe dela ser feito de seda e alva madrugada. Saía do quarto em bicos de pés sorrateiramente para não me acordar. Encontrava-a uns largos minutos mais tarde no toucador em frente ao espelho. Encostava-me à fresta da porta a espreitar sorrateiramente até ela se aperceber da minha presença e me convidar a entrar. Eu entrava e ficava ali, com os braços em volta dos joelhos no banquinho mais perto a vê-la delinear minuciosamente cada linha, cada traço na margem líquidas dos olhos. Primeiro o pó da base espalhado numa almofadinha rosada, depois uma cor sobre a outra e aquele olhar já de si tão belo, floria como um jardim de sede saceada, depois o risco, o traço negro do lápis a conter aquela imensa massa de água e depois o rimel a acentuar cada pestana como se lhe vestisse um espartilho de gala. E enquanto pintava ria muito e contava-me histórias, eu acenada feliz sem me apetecer falar, embalada pelos seus chilreios de andorinha primaveril. Seguia-a até ao closet em passinhos de bailarina. Entrar no closet era para mim como entrar num livro de história em que a meio todas as princesas se tinham escapulido deixando para trás gavetas de onde se esperguiçavam os mais belos tecidos, os mais delicados desenhos, o mais feminino recorte. Parecia que um exército de fadas tivera a custurar durante o nosso sono aquelas pecinhas de cores inebriantes. Tinha medo que se desfizessem com o meu toque desajeitado, mas ela pegava-lhes como se lhes prolongasse a essência e fizessem ambas parte do mesmo pó de estrela.
Gesto a gesto, crescemos as duas à sombra do lusco-farrusco dos candeeiros e daqueles momentos forrados a gargalhadas cúmplices e caixinhas cheias de pequenos tesouros.

Estado gasoso

Wednesday, March 22, 2006 | 0 Comments

Música em estado gasoso.
É este o estado que quero ser,
Na partitura mais breve do tempo,
Na tua mão entrelaçada.
No rumor,
Na multidão,
No deserto,
Na vaga.

Pela forma em contemplação,
No murmúrio,
No beijo,
No bafo quente da pulsação.
Pelas ruas, demorada,
a tua voz
de deusa reinventada,
a minha silenciosa rendição.

Poesia em Estado Gasoso

Wednesday, March 22, 2006 | 0 Comments



http://www.radioeuropa.fm/index_17.html
"ouvir em directo"

Embalados na sua forma redonda, condensados em vapor pela nossa respiração, é pelo arrepio que os pressentimos, é pelo nosso suspiro que se alimentam. Aquilo que entranha na pele é o bafo quente de sons que nos preenchem, é conforto alado.
Nem sempre entendemos o processo mágico pelo qual a pressão em certas cordas ou teclas nos arrepiam o caminho dos dias, nem o encantamento das vozes que sopram a nossa existência em pequenas lufadas de ar, como sussurros a encaminhar-nos por entre ramos perfumados e trilhos húmidos da chuva.
Em mil partículas me estilhaço, é na suavidade do seu toque que a minha pele se crispa como a superfície calma de um lago tocada pela brisa quente.
Música é poesia em estado gasoso.
É este estado que quero ser.

Dia Internacional da Poesia

Tuesday, March 21, 2006 | 0 Comments

My favorite poem














Porque os outros têm os olhos vendados mas tu não,
porque os outros mastigam a verdade mas tu
não quero pedir-te um sonho
uma estrela, um retrato a carvão.

Porque os outros têm medo do espelho
e escondem no silêncio a raiz do pensamento
porque os outros acorrentam o corpo à alma
e fazem da vaidade uma provocação.

Porque os outros são de pedra
e arrancam das horas uma compensação
porque os outros são fúteis, mas tu não.

Porque os outros são reais e procuram a satisfação
dos seus vícios, jogos carnais, putrefacção,
porque os outros são restos e tu és criação.
18:26





Rainy Day

Friday, March 17, 2006 | 0 Comments

Hoje acordei e de longe chegou-me o rumor líquido dos dias embebidos em torrentes de vida. Debrucei na janela os meus olhos sonolentos sobre o mundo esquálido como um quadro acabado de pintar.
Os carros rangiam nervosamente os travões, as crianças apressavam o passo miudinho pela mão de adultos rabugentos. A rua inventava-se em feminina ribeira de provocante insinuação.
O tempo puxa-me pela mão. Vem. Anda. Despacha-te. Fazendo-me lembrar os meus tempos de escola. Quase ouvi a minha mãe gritar ao fundo "ainda não tás despacháaaaaaaaaaaaaaaaada?!" Vesti-me rapidinho, sempre com aquela quieta melodia ao fundo e pé ante pé, com medo de acordar a casa, saí para a manhã com asas em riste.
Agora, à chuva, é na Primavera que penso. E se o céu veio até aqui salpicar-me a cara e dar-me os bons dias, é porque a mais doce nuvem escutou o pedido da terra, das sementes e dos hieróglifos projectos de vida à espera de acontecer. De cada gotejar, de cada chapinhar...aguardo o beijo molhado do corpo dos dias a cheirar a rubras cerejas e doces tentações.

Flor..bela

Thursday, March 16, 2006 | 0 Comments


Tenho nome de uma flor
quando me chamas.
Quando me tocas,
nem eu sei
se sou água, rapariga,
ou algum pomar que atravessei.
(Eugénio de Andrade)

Jeux d'enfants

Thursday, March 16, 2006 | 0 Comments

- Amas? Amas-me? Diz que me amas?
- Sim ou não?
- Vens?
- Ficas?
- Mas...
Dou-te a minha mão como quem dá o corpo inteiro, dou-te a minha alma como se o meu pensamento não pudesse estar noutro lugar.
Éramos dois. Dois futuros. Duas multiplicações do universo em outros universos.
Tão vivos, tão livres, duas pequenas janelas abertas sobre grandes horizontes.
- Dei-te um tesouro...
- Sim deste-me um tesouro.
- Deste-me o sal do mar, o sabor das lágrimas, o perfume dos campos, a adrenalina da vertigem...
Éramos dois à procura de ser maiores. Colados aos sonhos com todas as forças.
- Acreditei que ela voava. Acreditei assim que a vi sorrir. Acreditei quando me senti descolar do chão.
- Acreditei que ele era pintor, acreditei assim que o vi sorrir. Acreditei quando me senti encher de todas as cores e elas se espalharam ao infinito.
E se seguimos a vida como pensamos que ela era, assim presos ao pressuposto ao um gigantesco carrossel colorido, tão belo, tão limitado na sua trajectória. E assim seguimos sempre pelos carris arriscando improvisos, com a nossa juventude a ferver no sangue. Lado a lado como numa dança atrevida, lado a lado, mas tão intensamente perto.
- Ela veio por fim.
- Ele por fim percebeu.
- Consequência?
- Amor?
- Foi este amor uma consequência de ter passado todo tempo a crescer para ti. Topas ou não?
- Topo :)











Dia Internacional da Mulher

Wednesday, March 08, 2006 | 0 Comments

Houve um tempo em que minha janela se abria sobre uma cidade e o sol entrava com todos os cheiros e ruídos da rua. Perto da janela, quase colada nariz com nariz, havia outras casas cuja gente vislumbrava de espaços a espaços quando me debruçava na mezzanine improvisada. Entre os prédios luguebres conseguia vislumbrar um resto de verde acinzentado. À noite passava os olhos mansamente por essa paisagem sempre nocturna e imaginava princesas, castelos, fadas e duendes a povoar aquele tapete aveludado e espesso.
Nunca me importei se as árvores eram escanzeladas e terra, magra, pouco generosa podia ser a faze-las sobreviver ao ar poluído das inúmeras estradas que as estrangulavam. O meu coração ficava completamente feliz com a tecitura de histórias movidas como um comboio de madeira na mão de uma criança.
Às vezes abro a porta do armário encontro um jasmineiro em flor na latinha ferrugenta do chá. Outras vezes encontro nuvens espessas do lado de lá da porta, mesmo por cima do meu sobrolho esquerdo face ao frio do dia. Quando desço a rua encontro crianças entra contracorrente. Donas de casa que sacodem tapedes de casas perfumadadas de onde sai um cheirinho matinal a sopa, refogados e bebés. Gatos enroscados ao sol sonhando com pardais. Borboletas cor de rosa, duas a duas, como refletidas no espelho do ar. Ás vezes, um cão ladra. Às vezes, um avião passa. Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino. E eu me sinto completamente feliz.
Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem diante das minhas janelas, e só acho que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.

Inspirado na escrita de Cecilia Meireles

Feliz Dia da Mulher!

Wednesday, March 08, 2006 | 0 Comments


Um toque da Ritinha! :)

Redonne Moi - Mylene Farmer

Tuesday, March 07, 2006 | 1 Comments

Comme un fantôme qui se promène
Et l'âme alourdie de ses chaînes
Réussir sa vie
Quand d'autres l'ont meurtrir, et
Réussir sa vie, même si...
Comprendre ne guérit... pas

Et ce fantôme se promène
Là, sous l'apparence gît le blème
Murmure des flots...L'onde à demi-mot
Me...
Murmure que l'on doit parfois
Retrouver une trace... de soi

Redonne-moi,
Redonne-moi l'autre bout de moi
Débris de rêves, le verre de fêle
Redonne-moi la mémoire de ma...
Peut être sève ? Peut être fièvre ?
Redonne-moi pour une autre fois
Le goût de vivre, un équilibre
Redonne-moi l'amour et le choix
Tout ce qui fait qu'on est roi

Comme un fantôme qui se démène
Dans l'aube abîmée sans épiderme
Et nul n'a compris
Qu'on l'étreint à demi et...
Et nul n'a surpris son cri :
Recommencer sa vie,
Aussi,

Vídeo:
http://vcoop.net/redirect.php?id=aXRlbToyMTc4Nzc=

Drawing by Ana Carvalho a quem dedico este post

Music leaves...

Sunday, March 05, 2006 | 0 Comments

http://www.locusnovus.com/lnprojects/gymnopedie1/

Sugarbabes "Ugly"

Sunday, March 05, 2006 | 0 Comments

When I was 7
They said I was strange
I noticed that my eyes and hair weren't the same Ugly
I asked my parents if I was OK
They said you're more beautiful
And that's the way they show that they wish
They had your smile
So my confidence was up for a while
I got real comfortable with my own style
I knew that they were only jealous cos

People are all the same
And we only get judged by what we do
Personality reflects name
And if I'm ugly then
So are you
So are you

There was a time when I felt like I cared
That I was shorter than everyone there
People made me feel like life was unfair
And I did things that made me ashamed
Cos I didn't know my body would change
I grew taller than them in more ways
But there will always be the one who will say
Something bad to make them feel great

(...)

Everybody talks bad about somebody
And never realises how it affects somebody
And you bet it won't be forgotten
Envy is the only thing it could be

Cos people are all the same
(...)

Pautas

Wednesday, March 01, 2006 | 0 Comments

"É uma verdade incrível como a existência da maior parte dos homens é insignificante e destituída de interesse, vista exteriormente, e como é surda e obscura sentida interiormente. Consta apenas de tormentos, aspirações impossíveis; é o andar cambaleante de um homem que sonha através das quatro épocas da vida, até à morte, com um contar de pensamentos triviais. Os homens assemelham-se a relógios a que se dá corda e trabalham sem saber a razão. E sempre que um homem vem a este mundo, o relógio da vida humana recebe corda novamente, para repetir, mais uma vez, o velho e gasto refrão da eterna caixa de música, frase por frase, com variações imperceptíveis."
Arthur Schopenhauer, in 'Do Sofrimento do Mundo'

About

Mei and Arawn