Este texto bem podia chamar-se "Da Insegurança". Mas não se chamou. Porque quando digo "da insegurança", não quero dizer "insegurança", tal como as pessoas normalmente dizem "és inseguro". Como alguém estranhamente frágil e carente. Não, não é isso.
Ser inseguro é ter e não ter. É saber que nada nos pertence de facto. Só quem é inseguro pode oferecer segurança e saber exactamente o que ela significa. Ser inseguro é aceitar que o que existe e o que se tem, um dia vai deixar de existir e de se ter. É amar com urgência. É amar. Porque nada é dado como adquirido, por isso, quem é inseguro existe mais urgentemente. Quem é inseguro abraça a sua necessidade de amor, aceita a sua incompletude, vive a sua mortalidade. Só quem é incompleto e se sente completo amando entende o que estou a dizer. "Por isso, a vida sem ti, meu amor, não seria vida". Pensei uma e outra vez nesta frase, que mais do que palavras, me arranca um sentido indizível que me é doloroso explicar. Não seria a vida e a existência que conheço. Mas de que outra poderei falar? De "eus" paralelos que fizeram outras escolhas? Que viveram outros amores? Desses não sei nada. Não experimentei o que eles viveram, não incorporei essas vivências no meu adn. Não sei do que tratam. Não faço a mínima ideia do que são. Não sou eu.
Só sei desta vida que escolhi a teu lado. E é nesta vida que sinto a urgência. Em que um dia sentirei o chão a desaparecer por entre os meus pés, como se tudo fosse um sonho e essa fosse a realidade para a qual acordarei um dia, numa lucidez angustiante. É por isso que quem ama, não ama aos poucochinhos, razoavelmente, educadamente. É por isso que quem ama às vezes parece tolo, quando não o parece o tempo todo. Parece tolo, inseguro, feito daquela insegurança de que as pessoas falam, quando dizem: "és inseguro", sem saber que apenas falam de uma pequena exteriorização, que por vezes nem se manifesta naqueles que realmente sentem a insegurança. Mas aí, não sabem mesmo do que falam e por isso este texto não se chamou "Da Insegurança" porque não iríamos estar a falar da mesma coisa. Não é que eu saiba exactamente do que estou a falar, mas sei que não é isso.
1 comentários:
É a nossa humanidade que nos torna inseguros. Só os deuses ou os loucos não sentem a inquietude da vida.
Post a Comment