Certo dia, deambulavamos pela Fnac do Chiado e decidimos parar para beber um sumito e eis que tivemos uma das mais agradáveis surpresas: ia haver um concerto. Fomos ficando, ronronando pela janela a ver o castelo do outro lado e descobrimos esta maravilha: JPSimões. Não conhecia. O nome pareceu-me, confesso, o nome de uma empresa de logística e transportes, mas o deslumbramento veio depois.
O som é terno, meio samba meio morna. Ficámos até ao fim, porque as notas nos prendiam à cadeira e a voz deste senhor nos enebriava. Melancólico, meio ácido, meio doce e cheio, muito cheio de carisma e qualidade.


Então, a música que ficou a cantarolar com vida própia na minha cabeça era qualquer coisa assim:

Tinha-te a ti.
Tinha-te a ti e tinha paz
Num país que era ainda sonho
Onde a tristeza não tinha lugar
Pois era uma canção
Que não te ouvi cantar.

No tempo das crianças
Não se pode chorar
Nada e ninguém é infeliz,
Tudo é giz
A desenhar cidades
E mesmo a noite ao abraçar o ar
Não passava da porta
Para me vir buscar.
Quantos milhões de estrelas conseguiste pintar?
Tenho-te a ti, tenho-te aqui
Nesta canção oração,
Hoje sou só saudade.
E quando às vezes tendo a desistir
Do jogo da cidade
Que não se vai cumprir
Encosto-me ao teu ombro
Que hoje é parte de mim.
E um dia eu vou ter o prazer
De viver em frente ao infinito mar
E num instante recolher do ar
E graça desse amor
Que pudeste deixar
Para fazer o dia
Finalmente chegar.

JP Simões, Micamo in 1970



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