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Tuesday, February 19, 2008 | 0 Comments

Ah pois é, quase que passavam ao lado da nossa pena alada duas magníficas películas que a memória traiçoeiramente escondia dos vossos sedentos olhinhos! São eles: O Assassínio de Jesse James pelo Cobarde Robert Ford de Andrew Dominik e Sedução, Conspiração de Ang Lee.

O Assassínio de Jesse James pelo Cobarde Robert Ford é a adaptação do romance de Ron Hansen "The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford" e tem a palavra América cravada nas costas deste herói que dispensa, por certo, qualquer apresentação. Temos uma história clássica de "o bom que mata o mau, que já não sabemos se é mau e se o bom é bom, mas lá tinha de ser, porque a tragédia da vida é mesmo assim se queremos ser alguém na vida!". Este é um filme que surpreende. E surpreende porque se dá ao tempo (a versão original tinha umas portentosas 4 horas) de construir bem o enredo e as suas personagens, de criar a tensão psicológica e moral necessária para que a dúvida e os sentimentos contorvesos se instalem bem fundo do nosso cérebro. As interpretações são densas e a reflexão sobre o que um herói representa levanta questões que não podemos ignorar, reveladoras de um povo que se revê num ladrão, assassíno, força bruta de arma em punho e que no final está mesmo a pedir por elas porque simplesmente não se suporta mais a si mesmo.
"A relação entre Jesse James (Brad Pitt) e Robert Ford (Casey Affleck) tem tanto de infantil como de trágico: o primeiro vive a sua condição de lenda do velho Oeste quase como um assombramento; o segundo contempla no outro uma espécie de ideal redentor, dir-se-ia uma miragem paterna e libertadora. Da sua estranha proximidade nasce o negrume psicológico do filme de Andrew Dominik, de tal modo que, da vulnerabilidade dos rostos ao mais pequeno gesto quotidiano, tudo surge contaminado por uma avassaladora pulsão de morte. Como se James encenasse a sua própria morte e Ford fosse apenas o instrumento humano encarregado de consumar um destino transcendental. O título é o «O Assassínio de Jesse James pelo Cobarde Robert Ford», mas também poderia ser: “Vida e morte de um herói condenado”. (in Diário de Notícias 2 Janeiro 2008). Site oficial do filme.
É para ver meus senhores.

Sedução, Conspiração é realizado por Ang Lee, o premiado realizador de "O Segredo de Brokeback Mountain" e "A Tempestade do Gelo". O filme é baseado num conto da autora chinesa Eileen Chang. Faço minhas as palavras de Helen Barlow (PÚBLICO):
São precisos 90 minutos, dos 158 que dura "Sedução, Conspiração"/"Lust, Caution", até Ang Lee chegar à "luxúria" ("Lust") do título original. Mas o realizador de 53 anos nascido em Taiwan não pode escapar a que a conversa se centre naquilo que acontece ao fim dessa espera. É que as posições que coreografou para as suas personagens, um homem e uma mulher que se apaixonaram e se desejam, não costumam abundar no cinema "mainstream", muito menos numa produção chinesa, e até nem são nada evidentes na obra, não casta mas essencialmente pudica, deste realizador. Há mesmo quem se pergunte: até onde foram estes actores? Lee está preparado para responder. "Já viu o filme? Veja outra vez. A mim parece-me que é claro. Não podíamos estar a obrigar os actores a repetir 11 "takes". Sim, as coisas foram a sério". É claro: a adaptação deste conto de Eileen Chang (1920-1925), durante anos autora banida na China mas indiscutivelmente a mais amada da moderna literatura chinesa, não é um filme sobre sexo. Como outros filmes de Ang Lee, também este, passado nos anos 1930, inícios da década de 1940, em Hong Kong e em Xangai, é um filme sobre pessoas que tentam escapar à repressão - aquela que está à volta delas e aquela que está dentro delas.

"Adaptar esta história ao ecrã foi para mim, em termos psicológicos, mais assustador do que retratar os "cowboys gay" americanos", admite Lee, "porque a história é contada do ponto de vista do prazer sexual de uma mulher e tem como cenário algo de muito patriarcal, uma guerra - a luta contra os japoneses. Nunca tinha visto isso na literatura chinesa. Não tem havido retratos psicológicos da sexualidade de uma mulher; é tudo sempre sobre homens.Os espectadores chineses viram uma versão censurada do filme. Nos Estados Unidos passou a versão integral, mas com a classificação NC-17 - o que significa que o filme só pôde ser exibido num grupo seleccionado de salas de cinema. Mas o sexo é necessário a esta história. "Dá um peso completamente diferente a todo o filme porque ancora, por assim dizer, o aspecto psicológico da relação entre as personagens. Só por isso é que fui tão longe. É claro que é cansativo, porque não estamos habituados a isso, todos nós, asiáticos, somos, no fundo, pessoas tímidas. Tivemos que falar muito entre nós. Mas era uma questão decisiva: retratar uma certa humanidade naquele ponto-limite de confusão, de linguagem corporal enredada, e rodeada de decepção."

A ambiguidade moral das personagens, o realismo da construção das relações e das cenas, e claro, a banda sonora deslumbrante tornam esta película uma experiência intensa e surpreendente. Eu cá via de novo. Cá fica o link do site oficial de Lust, Caution

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