Dia Internacional da Mulher

Wednesday, March 08, 2006 | 0 Comments

Houve um tempo em que minha janela se abria sobre uma cidade e o sol entrava com todos os cheiros e ruídos da rua. Perto da janela, quase colada nariz com nariz, havia outras casas cuja gente vislumbrava de espaços a espaços quando me debruçava na mezzanine improvisada. Entre os prédios luguebres conseguia vislumbrar um resto de verde acinzentado. À noite passava os olhos mansamente por essa paisagem sempre nocturna e imaginava princesas, castelos, fadas e duendes a povoar aquele tapete aveludado e espesso.
Nunca me importei se as árvores eram escanzeladas e terra, magra, pouco generosa podia ser a faze-las sobreviver ao ar poluído das inúmeras estradas que as estrangulavam. O meu coração ficava completamente feliz com a tecitura de histórias movidas como um comboio de madeira na mão de uma criança.
Às vezes abro a porta do armário encontro um jasmineiro em flor na latinha ferrugenta do chá. Outras vezes encontro nuvens espessas do lado de lá da porta, mesmo por cima do meu sobrolho esquerdo face ao frio do dia. Quando desço a rua encontro crianças entra contracorrente. Donas de casa que sacodem tapedes de casas perfumadadas de onde sai um cheirinho matinal a sopa, refogados e bebés. Gatos enroscados ao sol sonhando com pardais. Borboletas cor de rosa, duas a duas, como refletidas no espelho do ar. Ás vezes, um cão ladra. Às vezes, um avião passa. Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino. E eu me sinto completamente feliz.
Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem diante das minhas janelas, e só acho que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.

Inspirado na escrita de Cecilia Meireles

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