Ora estamos em rescaldo de cinema e a colheita foi das boas.
Comecemos por Smokin’ Aces (ou Um Trunfo na Manga). Falamos de puro entretenimento pipoqueiro. Bom, muito bom no seu propósito, é brutal e cómico na construção de personagens meio toutiças como por exemplo um grupo de neo-nazis sanguinários que numa cena hilariante manietam um morto para se desculparem de o terem morto. A inspiração à Tarantino em Cães Danados é no mínimo, saborosa. É o desvario total, num todos contra todos, num vamos lá a ver se sobra alguém do genérico. O alvo de todas as tentativas de assassínio mantém-nos no suspense de adivinhar quem é que afinal lhe retira aquele sofrimento, pois ainda por cima não é lá muito simpático. O final de mandar tudo às urtigas é simples e não desilude a adrenalina e euforia de todo o filme. Destaque ainda para a revelação da lindíssima Alicia Keys que não é apenas a senhora de uma voz poderosa, como é igualmente poderosa na pele de uma sensual assassina armada até aos dentes. Temos mulher!

Passemos a Letters from Iwo Jima do senhor Clint Eastwood. Meus amigos, este filme é uma obra de arte. Passado durante a II Guerra Mundial, soldados japoneses eram enviados para a ilha de Iwo Jima sabendo que o mais provável era que não voltassem com vida. Apesar de contar com pouco mais do que uma enorme força de vontade e com a própria natureza inóspita da ilha, o General Tadamichi Kuribayashi (Ken Watanabe) conseguiu, apesar de tudo, graças a uma estratégia sem precedentes, transformar o que se esperava um massacre numa heróica batalha de quase 40 dias. Várias décadas depois, centenas de cartas escritas pelos soldados são encontradas no terreno. Cartas que dão um rosto aos heróis de Iwo Jima e ao seu extraordinário general, homem avançado e quase demasiado à frente do seu tempo.

The Last King of Scotland é, no mínimo, um filme grandioso. A começar pela direcção de Kevin Macdonald e da majestosa interpretação da dupla Forest Whitaker (na pele do ditador) / James McAvoy (na pele do jovem médico) é um filme que nos agarra desde o primeiro momento ao último num misto de admiração/indignação. Digno de mais nomeações para Óscares, recebeu o Óscar de Melhor Actor (Forest Whitaker) e conquistou o Globo de Ouro nessa mesma categoria. Ganhou 3 prémios no BAFTA, nas categorias de Melhor Filme Britânico, Melhor Actor (Forest Whitaker) e Melhor Guião Adaptado. Foi ainda indicado nas categorias de Melhor Filme e Melhor Actor Secundário (James McAvoy). Ganhou ainda merecidamente o prémio de Melhor Fotografia, no Festival de Estocolmo.
O título do filme é uma referência aos títulos grandiosos que o verdadeiro Idi Amin dava infantilmente a si mesmo, como "conquistador do império britânico" e "senhor de todos os animais da terra e peixes do mar". Um filme intenso a não perder que conta pelos olhos do seu médico pessoal as incoerências e fraquezas de um ditador cruel e ao mesmo tempo inspirador numa terra miserável. É nesse limbo de uma personalidade ela própria devastada pela miséria que resvalamos rapidamente da admiração a um líder à repugnância atroz de um genocída sanguinário. Poupado na gratuitidade da violência real das atrocidades mas ainda assim forte, muito forte!

Nota: Como eu e a minha colega bloguista Chihiro estávamos ao mesmo tempo a escrever desenfreadamente o post, tal era a impressão que este filme nos deixou, deu-se esta estranha coincidência de repetição do tema. Mas cá fica na mesma até porque são abordagens complementares.

O último Rei da Escócia

Wednesday, February 28, 2007 | 0 Comments

Idi Amin foi um dos mais sanguinários ditadores africanos. De 1971 a 79 estima-se que terá sido responsável pela morte de 300 mil compatriotas no Uganda. Excêntrico e megalómano, Amin transformou-se aos olhos do mundo numa caricatura de si mesmo. Entre os caprichos delirantes da sua governação contam-se a expulsão dos 50 mil indianos do país, por inspiração divina, os planos de invasão dos vizinhos Quénia e Tanzânia e, talvez o dado mais cómico e irónico, o título de rei da Escócia que se ‘auto-concedeu’, por admiração à região britânica e desafio ao antigo colonizador, o Reino Unido. Esta personagem complexa, multifacetada e brutal encaixa numa história real, com um misto de ficção, do ditador ugandês, que morreu no exílio saudita, em 2003, rodeado das 4 mulheres e 45 filhos. “O Último Rei da Escócia” é a adaptação do romance homónimo do escritor britânico Giles Foden.

Mas uma das coisas que mais me tocou no filme, ou melhor que mais me deu que pensar nem foi o problema humanitário resultante de um governo trucidante foi a personagem que ombreia com o ditador, o seu médico. Um jovem alegre, bem disposto, apaixonado, aventureiro e bonito. Um jovem que viaja para um país africano por puro capricho, é verdade que o enquadramento o coloca numa família rígida e claustrofóbica, contudo a solução encontrada foi a fuga para a frente e não a resolução do problema. O que leva o jovem Nicholas a África não é nenhuma escolha racional ou empenhada para com uma causa. Depois de chegar e de integrar uma missão. Após o primeiro impacto da gente subnutrida, doente e carente, Nicholas interessa-se pela mulher do médico seu amigo e deixa-se inflamar pelo discurso do novo líder político. O filme flui e nós vemos a sua alegria ao integrar a lista de “escolhidos” do novo regime. Nicholas torna-se assim braço direito do ditactor sem sequer perceber o que isso implica, ofuscado por um estilo de vida pomposo e aparentemente notável. A importância e aparente notoriedade/poder alimentam o ego e o deslumbramento e Nicholas vai-se enleando cada vez mais nas malhas do ditador calculista, acabando por se apaixonar e ter um caso com a mulher deste. No fim, depois de muitas peripécias, já no limiar da sobrevivência, Nicholas consegue escapar com a ajuda de um amigo, que acaba por morrer para que ele volte seguro para casa. Não há nenhum motivo para que tal aconteça, Nicholas é narcisista, egoísta e movido por paixões, o seu ar de rapazote traquina, a sua alegria quase pueril são leves e envolventes, camuflando uma pessoa sem objectivos, sem força ética e movida por paixões e deslumbramento e por isso caminhando sempre atrás do mais reluzente aceno sem se questionar. Todos os que o rodeiam ao longo do seu percurso tanto na missão humanitária, como depois no hospital do presidente eram pessoas integras, mesmo os pais no seu conservadorismo. É curioso como somos complacentes com certas falhas éticas que parecem apenas pormenores, Spinoza tem razão quando diz que as paixões nos prendem e nos aprisionam, eu diria mais, cegam e toldam o sentido de importância das coisas. São perigosas e perniciosas e fazem com que sejamos entes passivos da sua própria voluptuosidade. Os afectos bem como a beleza devem ser construções racionalizais, com conteúdo e sobretudo centrada em nós e não em qualquer circunstancia efémera e exterior e por isso tão fácil de imputar a responsabilidade que é apenas e exclusivamente de quem age. Eu sei que este caminho é tentador, já o fiz. Já errei ofuscada por simulacros e encantamento (misto de adrenalina e êxtase) - ópio dos sentidos, maçã envenenada da alma.

O Racional dos Afectos

Tuesday, February 27, 2007 | 1 Comments

"ESPINOZA ou a razão como instrumento de felicidade

Baruch d'Espinoza viveu na Holanda entre 1632 e 1677. Pertencia à comunidade judaica de Amesterdão de origem portuguesa, que foi criada após a expulsão dos judeus de Portugal em 1496. Foi excomungado em 1656 pela Sinagoga e foi para Haia, onde se dedicava, também, ao polimento de vidros ópticos que eram muito apreciados em toda a Europa. A sua principal obra foi "Ética". A filosofia de Espinoza conduz à sabedoria que dá alegria e felicidade através do conhecimento racional dos afectos, sem necessidade de um Deus transcendente (não é que Deus não exista em Espinoza, mas trata-se de um Deus-Natureza, infinito, não de um Deus pessoal). Depois de ter constatado como os fins triviais da vida são decepcionantes (pela sua inconsistência, fragilidade e relatividade em relação à nossa afectividade e à nossa subjectividade), Espinoza procurou qualquer coisa que fosse um "bem verdadeiro", isto é, um bem, ao mesmo tempo, sólido e extremo, qualquer coisa cuja descoberta e posse provoquem uma alegria permanente e soberana. Espinoza diferencia o Desejo e as paixões. O Desejo, isto é, o desejo de alegria e de felicidade, é a essência da totalidade da vida afectiva. A paixão é apenas uma parte dessa vida afectiva. A paixão não é definida pelo afecto em geral, mas apenas pelo afecto passivo. Nós «agimos» quando a nossa obra se explica por nós mesmos e resulta apenas da nossa natureza. Pelo contrário, somos «passivos» quando a nossa obra resulta principalmente de causas exteriores a nós mesmos e à nossa essência. A afectividade não é um mal: o que se deve combater não é a afectividade (dado que todo o sentimento de crescimento de força é essencial e bom), mas apenas a afectividade passiva (dado que esta gera uma tristeza que é um sentimento de empobrecimento e de destruição). Uma vez bem identificado o domínio e a essência da paixão como afecto passivo, envolvendo ideias inadequadas, não pertinentes, parciais e falsas, pode-se designar Servidão a situação de um indivíduo vivendo principalmente segundo as paixões: agindo por motivos e causas que não provêm dele próprio, de facto, o individuo é dependente e, portanto, escravo das suas paixões."

"Leiam "Ética" de Espinoza (porque o bem e o mal contam). Faz bem. Areja as ideias. Faz pensar diferente e dá energia para percorrer o caminho da felicidade, concebida como sabedoria que conduz ao conhecimento dos afectos e à Alegria. Que conduz ao espírito positivo, não ao cinismo nem à revolta estúpida e violenta de que saem queimados os próprios revoltosos bem como inocentes que se encontram no sítio errado à hora errada. E que se lixe o Nietzsche que dizia que a felicidade é um projecto dos fracos."

Referência: "Spinoza" de Robert Misrahi, Éditions Médicis-Entrelacs, Setembro 2005

Sem querer mudar uma linha restava-me o arrastão do blog: Fantástico, Melga!

Raising...

Tuesday, February 27, 2007 | 0 Comments


Obrigado por saberes cuidar de mim,
Tratar de mim, olhar para mim, escutar quem sou,
e se ao menos tudo fosse igual a ti.

Black angels, black soul

Friday, February 23, 2007 | 1 Comments

The irreverent bitch rumored of Satan’s Daughter
Extracting beauty from all things into dust
Sinful mortal love.
Can I be trust?
Can I go back?
Can I my errors be undone?
Can I be peacefull again?
Can I be forgiven?

My static charge of evil will damn your soul
keep away from my tears where waters cold
I don't want to hurt or be dangerous to you
I wonder if someone can find that one is who?
Can I became a lighten butterfly again?
Can you stay?
Can you hold my hands?
Can you save from where this nightmare ends?

Lost and Found

Wednesday, February 21, 2007 | 0 Comments

Perdeu-se uma alma. Na altura vestia sapatos de nenúfar, vestido plissado de pétalas de orquídea e usava chapéu de plumas de rosa. Dá-se alvíssaras a quem souber do seu paradeiro ou fornecer informações precisas da sua localização. Na altura do desaparecimento a Alma perdida comportava-se de forma estranha e retraída, olhava para o chão e desviava a conversa. É possível que se apresente errática, confusa e por vezes deprimida. A melhor forma de a identificar é pela sua grande apetência por tostas de atum, olhar sonhador e coisas côr-de-rosa. Pede-se a quem a encontre que lhe indique o caminho para casa ou que informe os familiares e amigos através deste blog. É grande a preocupação e angústia dos que lhe querem bem e que esperam o seu seguro regresso ao lar.

Fragmentos de um Prelúdio da Alegria

Wednesday, February 21, 2007 | 1 Comments

Era uma vez…no estranho mundo do faz de conta.
Era sexta-feira. Do alto da montanha a casa que havíamos escolhido para este encontro erguia-se imponente no seio pedrado da calçada negra, em plena serra. O ar que deitava pela boca desenhava nuvens fugidias, sopros de calor naquela montanha pintada de verde e terra. A viagem foi animada, doseada por aquela ponta de excitação que não nos deixa dormir numa véspera de excursão da escola mas ao mesmo tempo exigia concentração ao nosso condutor. Serpenteámos a encosta íngreme, como se de um caule de feijão interminável se tratasse. Quando chegámos era de noite e da chaminé saía um fumo esbranquiçado que anunciava o calor dentro daquela casa de ar tão familiar e acolhedor.
No dia seguinte, ao anoitecer, a bruma desceu e com ela um sentimento estranho tomou-nos de assalto. Como um feitiço, todos nos metamorfoseámos em seres alados, feitos de pluma e fantasia: anjos endiabrados e demónios carentes, gangsters duvidosos e dançarinas de salon provocantes, gueishas delicadas e samurais corajosos, polícias dominadoras, senhores das trevas e rainhas dos malditos, bruxas brincalhonas, meninas de escola traquinas, meretrizes sedutoras, piratas audazes… Todos tinham o seu lugar nesta história onde cada um encaixava na perfeição, na sua diferença dos demais, na sua peculiaridade inconfundível e no seu poder encantatório.
Tudo começou num banquete organizado pelo Senhor das Trevas e a sua Bruxa favorita, pelos seus congéneres no Japão, a Gueisha Mei e o nobre Samurai e pela Domadora de Leões e o seu amante Turista por quem esta se havia apaixonado quando o seu circo passara pelas Américas. Estes seis improváveis amigos, muitas vezes já apanhados por perigosos feitiços e encantamentos decidiram que era hora de chamar a si a Convenção Anual da ISA (Irmandade dos Seres Alados), a qual reunia os principais líderes do mundo da fantasia que viviam nas suas peles humanas, de comuns funcionários públicos, gestores, empresários... e que apenas em ocasiões muito especiais e controladas se revelavam nos seus super poderes de criaturas diáfanas que eram. Assim se deu inicio aos trabalhos e assim se decidiu que era necessário criar um ritual iniciático que confluísse num sentimento de alegria generalizado, o qual constituiria o chamamento às almas de um verdadeiro uníssono de eternidade. E assim foi feito. Os cânticos eram inebriantes, da pele fizemos pétalas perfumadas com aroma de canela, do corpo fizemos seda, do toque fizemos a nossa própria música. Da boca soltámos a alegria, do canto dos lábios tomamos o sabor do mel, dos passos suaves e ondulantes traçamos as linhas da sedução. Da noite fizemos dia, e com a nossa alegria contagiante curámos todas as preocupações mundanas. O mundo dos afectos desceu nesta noite mágica a todos os humanos e queimou por dentro todos os medos e aflições.
Quarta-feira teremos de apanhar as cinzas.
E assim era uma vez no mundo das fadas.

Pensamento do Dia

Wednesday, February 21, 2007 | 5 Comments


“Disce quasi semper victurus; vive quasi cras moriturus”


Sobrevivendo à tarde...

Thursday, February 15, 2007 | 0 Comments



Eu queria comer gelado à chuva
Eu queria passear à beira rio
Eu queria adivinhar o nome da tua
Pele e senti-la arrepiar-se de frio.

Eu queria tanto não estar aqui
Desenhar-me outra coisa, outro ser
Como é que posso fingir-me
Tanto sem magoar-me até desaparecer?

Eu queria expandir-me
Na pólvora seca das palavras
Nas tuas mãos num qualquer gesto
Eu queria já não querer nada...

Um presente...

Thursday, February 15, 2007 | 0 Comments



Pensar em ti é coisa delicada.
É um diluir de tinta espessa e farta
e o passá-la em finíssima aguada
com um pincel de marta.

Um pesar grãos de nada em mínima balança
um armar de arames cauteloso e atento,
um proteger a chama contra o vento,
pentear cabelinhos de criança.

Um desembaraçar de linhas de costura,
um correr sobre lã que ninguém saiba e oiça,
um planar de gaivota como um lábio a sorrir.

Penso em ti com tamanha ternura
como se fosses vidro ou película de loiça
que apenas como o pensar te pudesses partir.
António Gedeão

Tropelias do Dia de S. Valentim!

Wednesday, February 14, 2007 | 0 Comments

:)

Tudo é perfeito em ti

Wednesday, February 14, 2007 | 0 Comments

“(…)Mas talvez por seres uma pessoa que passou por tanto, mas ainda consegue sorrir, talvez seja por isso que sou completamente viciado em ti. Deve ser isso então: A tua força. E a tua maneira de ser e a tua maneira de estar e a tua maneira de ficar na vida de uma pessoa. É que a tua presença é a tua presença, e não há ninguém (mesmo ninguém) que me consiga fazer sentir tão bem quando te vejo assim (…) Gosto de ti por isso mesmo. Porque tens um narizinho perfeito e um sorriso de boneca. Porque tens uns olhos tão verdadeiros e expressivos que apetece beijá-los devagar e brincar com o teu nariz e dar-te beijinhos leves pela cara toda, no teu cabelo, no teu pescoço. E abraçar-te, enrolar-te nos meus braços (…) e agarrar-te forte e sentir o teu coração bater e saber que estás segura porque estou aqui para te proteger (…)”
Rodrigo Aguiar, in Tudo é perfeito em ti

O que é que o teu nome significa?

Tuesday, February 13, 2007 | 0 Comments

What Marina Means

M is for Magical

A is for Abstract

R is for Refined

I is for Innocent

N is for Nervy

A is for Amorous



What Marisa Means

M is for Musical

A is for Altruistic

R is for Responsible

I is for Intelligent

S is for Serious

A is for Adventurous

Caretas!

Tuesday, February 13, 2007 | 0 Comments

"Hoje estás terrível!" Ouvi a tua voz bem disposta repreender-me, sorri. Fez-me sentir uma miúda pequena. De facto, estava completamente entediada e irrequieta e entretinha-me a fazer caretas nas costas das pessoas. Tu de frente para elas ficavas aflita, não sabias se me havias de me lançar um olhar fulminante se rir também. Os balneários estavam cheios de rechonchudas amostras da produção nacional com péssimo gosto para roupa e, porque às vezes, a nossa impertinente arrogância traquinas não consegui conter esta repreensível (mas deliciosa, confesso) travessura de gozar com os rabinhos anafados das congéneres.
hihihi

Olhar(es)

Monday, February 12, 2007 | 1 Comments

Convidaste-me para ir ver um filme. A tua mensagem era curta e quase incompreensível para outros, mas simples de entender entre nós: “Pipocar às 21h?”
Acabei a tradução que estava a fazer, The Testament, de Eric Van Lustbader, obra que opõe duas sociedades secretas, a Ordem Gnostic Observatines e os Cavaleiros de St. Clement e, feliz por dar o trabalho por terminado aninhei-me no sofá mais um bocadinho. O Miguel estudava para um exame do mestrado e eu tinha no colo a nossa pequena felina, que dormia profundamente. A sala estava quente e confortável e apenas a tua companhia me conseguiria arrancar daquele morno refúgio nesta noite chuvosa e fria.
Saí para a rua ao teu chamamento. Entrei no carro arrepiada. Perdi um botão ao entrar no carro. Paciência. Deixa lá.
Chegamos ao cinema, bebemos um chá e entrámos...























A história era simples. Um homem apaixonado fora traído. Pior, ficara perdido e desencantado. Uma comédia quase noir à maneira woodiana, mas na visão argentina de Juan Taratuto. A grande revelação é Javier, o homem abandonado. Na sua pele um fantástico Diego Peretti, que não conhecia mas que ficará retido na minha memória depois de ontem. Rimo-nos daquele sofrimento tão duro, tão vazio. Tão desalentado. E depois sorrimos perante a reconstrução lenta da auto-estima, a caminhada da angústia para a dor, da dor para a tristeza e da tristeza para o perdão. Detivemo-nos no momento mais feliz do filme e ficamos mudas. Mudas pelo crescimento que aquele momento significava. No Sos Vos, Soy Yo é uma história sobre a procura de um homem por si mesmo, num momento em que o “eu” já não se reconhece a si mesmo sem o outro. A caminhada é solitária, por muito que os amigos o acarinhem e ouçam até à exaustão, por muito que o seu psicólogo o aconselhe, por muitas mensagens que deixe a todas as mulheres que alguma vez conheceu. A descoberta, quase um lugar comum, de que a vida é a força dos nossos punhos materializada em cada dia mas tão difícil de levar a cabo todos os dias.
"Não sabemos como procurar, nem onde encontrar, nem afinal sabemos o que procurar. Somos assim, tão perdidos, que nos agarramos sem sequer poder tocar" (Viver todos os dias cansa, Pedro Paixão, p.65).
A inversão do riso em silêncio é como a inversão dos olhares que partilhamos sobre o mundo.
Os olhares de pálpebras cerradas, que saem do nosso avesso para encher de significado as coisas.
Obrigada por este bocadinho.

Lenda das amendoeiras em flor

Monday, February 12, 2007 | 1 Comments


Esta é das imagens que mais guardo de quando vou a casa - as amendoeiras em flor. Há uma lenda que adorava quando era miúda e que me vem à memória nesta altura do ano quando as primeiras flores de amendoeira començam a despontar nos campos despidos com céu de tule cinza. Deixou-vos a história para lerem à lareira com uma mantinha nos joelhos e chazinho entre os dedos...
Há muitos e muitos séculos, antes de Portugal existir e quando o Al-Gharb pertencia aos árabes, reinava em Chelb, a futura Silves, o famoso e jovem rei Ibn-Almundim que nunca tinha conhecido uma derrota. Um dia, entre os prisioneiros de uma batalha, viu a linda Gilda, uma princesa loira de olhos azuis e porte altivo. Impressionado, o rei mouro deu-lhe a liberdade, conquistou-lhe progressivamente a confiança e um dia confessou-lhe o seu amor e pediu-lhe para ser sua mulher. Foram felizes durante algum tempo, mas um dia a bela princesa do Norte caiu doente sem razão aparente. Um velho cativo das terras do Norte pediu para ser recebido pelo desesperado rei e revelou-lhe que a princesa sofria de nostalgia da neve do seu país distante. A solução estava ao alcance do rei mouro, pois bastaria mandar plantar por todo o seu reino muitas amendoeiras que quando florissem as suas brancas flores dariam à princesa a ilusão da neve e ela ficaria curada da sua saudade. Na Primavera seguinte, o rei levou Gilda à janela do terraço do castelo e a princesa sentiu que as suas forças regressavam ao ver aquela visão indiscritível das flores brancas que se estendiam sob o seu olhar. O rei mouro e a princesa viveram longos anos de um intenso amor esperando ansiosos, ano após ano, a Primavera que trazia o maravilhoso espectáculo das amendoeiras em flor.

Desgaste...

Friday, February 09, 2007 | 0 Comments


Um gesto,
um simulacro apenas.
Como quando arrefece
e acendes a lareira
para dar sangue às brasas.
No halo do vazio,
tudo se torna mais pesado
os voos são rasantes
o corpo apenas uma ancora.
O desgaste da espera,
tudo importa
e tudo corta.
... o vento desfaz os cartazes apodrecidos dos filmes que já ninguém vê

Paciência...

Thursday, February 08, 2007 | 0 Comments

Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede um pouco mais de alma
A vida não para
Enquanto o tempo acelera e pede pressa
Eu me recuso faço hora vou na valsa
A vida é tão rara
Enquanto todo mundo espera a cura do mal
E a loucura finge que isso tudo é normal
Eu finjo ter paciência
E o mundo vai girando cada vez mais veloz
A gente espera do mundo e o mundo espera de nós
Um pouco mais de paciência
Será que é tempo que lhe falta pra perceber
Será que temos esse tempo pra perder
E quem quer saber
A vida é tão rara (Tão rara)
Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede um pouco mais de alma
Eu sei, a vida não para(a vida não para não)
Será que é tempo que lhe falta pra perceber
Será que temos esse tempo pra perder
E quem quer saber
A vida é tão rara (tão rara)
Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede um pouco mais de alma
Eu sei, a vida não rara(a vida não para não...a vida é tão rara)


Uma canção para animar e para mimar

Thursday, February 08, 2007 | 0 Comments

Hoje acordei assim:

Wednesday, February 07, 2007 | 0 Comments


Doente e farta de estar na cama!
Há três dias que gripei! :(

Parabéns!!!!!

Tuesday, February 06, 2007 | 0 Comments


PARABÉNS princesinha de olhos verdes!
Chuackkkkkkkkkk

Imaginação contra o frio

Monday, February 05, 2007 | 0 Comments


Hoje enregelamos, o frio de fora instalou-se cá dentro como um longo inverno. Apenas esta boa disposição medida em chá quente nos sustém o fragil bater dos dentes.

Shopping bags

Saturday, February 03, 2007 | 0 Comments

Há pessoas que guardam para si as coisas que descobrem como se a partilha das mesmas as tornasse mais pobres ou para que ninguém se destaque como elas. Um certo narcisismo egoísta dá corpo a este contabilizar de coisas que se detém a mais do que os outros, neste consumo defreado de bens para parecer melhor, mais poderoso, mais belo, mais que do outros.
Eu conheço uma pessoa que não é assim, não é que não goste de parecer bonita ou de passar pelos outros e deixar uma aragem de cabeças voltadas, que mulher não gostará?

Contudo a sua beleza nesses instantes em nada se compara aos momentos em que ela se abeira de mim com os olhos a faiscarem luz para me contar de uma lojinha que descobriu, de um recanto, de um sabor ou de um cheiro. Há uma generosidade imensa nesta partilha, neste querer que nos reencontremos com a beleza nos mesmos sítios, nas mesmas sensações de encantamento e boa disposição. Mentia se dizesse que não somos materialistas, somos, muito. Gostamos de ter roupas e adereços bonitos, de frequentar sítios acolhedores que nos mimam com a sua identidade única, mas o que nos move não é deter as coisas em si, é a expressividade atrás de cada composição. Há roupa que nos serve às duas e trocamo-la como se a etiqueta fosse branca e não falasse de um dono. Às vezes sei que compro algo que ela não pode e tento escolher tamanhos que nos sirvam às duas, vezes houve em que preferi dar-lhe a ela de presente a ter para mim. Vê-la com os seus olhos claros sorridentes enche-me de orgulho que só a cumplicidade que nos une pode explicar. Dentro do nossos saquinhos de compras, há muito mais que peças de tecido ou adereços refulgentes, há uns pózinhos mágicos de bem-querer...

O Vo(t)o do Gato

Friday, February 02, 2007 | 6 Comments

Ontem comprei a Visão desta semana. Está excelente. Tem um artigo de fundo sobre a questão do momento: a despenalização da interrupção voluntária da gravidez. Artigo de fundo sobre a problemática da vida, vista por médicos conceituados, geneticistas, cientistas. A não perder.
A não perder também a coluna do Ricardo Araújo Pereira. O gato mais fedorento irrita muita gente. É bom que alguém nos coçe o cérebro por dentro, mas há sempre quem fique incomodado. Mesmo sabendo que está pequenino e que vão ficar com os olhos a lacrimejar, do esforço ou do conteúdo, não deixem de ler (basta clicar na imagem acima e o texto torna-se legível). Marcelo Rebelo de Sousa pode fazer campanha pelo Não no seu programa da RTP, mas pelos vistos o mesmo não pode ser feito no programa do Ricardo pelo Sim. O argumento do dinheiro dos contribuintes parece ser um último recurso de desespero. Corre na blogosfera que querem fazer uma petição com queixa ao provedor e tudo. Ele há coisas!!!

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