Comecemos por Smokin’ Aces (ou Um Trunfo na Manga). Falamos de puro entretenimento pipoqueiro. Bom, muito bom no seu propósito, é brutal e cómico na construção de personagens meio toutiças como por exemplo um grupo de neo-nazis sanguinários que numa cena hilariante manietam um morto para se desculparem de o terem morto. A inspiração à Tarantino em Cães Danados é no mínimo, saborosa. É o desvario total, num todos contra todos, num vamos lá a ver se sobra alguém do genérico. O alvo de todas as tentativas de assassínio mantém-nos no suspense de adivinhar quem é que afinal lhe retira aquele sofrimento, pois ainda por cima não é lá muito simpático. O final de mandar tudo às urtigas é simples e não desilude a adrenalina e euforia de todo o filme. Destaque ainda para a revelação da lindíssima Alicia Keys que não é apenas a senhora de uma voz poderosa, como é igualmente poderosa na pele de uma sensual assassina armada até aos dentes. Temos mulher!

The Last King of Scotland é, no mínimo, um filme grandioso. A começar pela direcção de Kevin Macdonald e da majestosa interpretação da dupla Forest Whitaker (na pele do ditador) / James McAvoy (na pele do jovem médico) é um filme que nos agarra desde o primeiro momento ao último num misto de admiração/indignação. Digno de mais nomeações para Óscares, recebeu o Óscar de Melhor Actor (Forest Whitaker) e conquistou o Globo de Ouro nessa mesma categoria. Ganhou 3 prémios no BAFTA, nas categorias de Melhor Filme Britânico, Melhor Actor (Forest Whitaker) e Melhor Guião Adaptado. Foi ainda indicado nas categorias de Melhor Filme e Melhor Actor Secundário (James McAvoy). Ganhou ainda merecidamente o prémio de Melhor Fotografia, no Festival de Estocolmo.
O título do filme é uma referência aos títulos grandiosos que o verdadeiro Idi Amin dava infantilmente a si mesmo, como "conquistador do império britânico" e "senhor de todos os animais da terra e peixes do mar". Um filme intenso a não perder que conta pelos olhos do seu médico pessoal as incoerências e fraquezas de um ditador cruel e ao mesmo tempo inspirador numa terra miserável. É nesse limbo de uma personalidade ela própria devastada pela miséria que resvalamos rapidamente da admiração a um líder à repugnância atroz de um genocída sanguinário. Poupado na gratuitidade da violência real das atrocidades mas ainda assim forte, muito forte!
Nota: Como eu e a minha colega bloguista Chihiro estávamos ao mesmo tempo a escrever desenfreadamente o post, tal era a impressão que este filme nos deixou, deu-se esta estranha coincidência de repetição do tema. Mas cá fica na mesma até porque são abordagens complementares.