Ora estamos em rescaldo de cinema e a colheita foi das boas.
Comecemos por Smokin’ Aces (ou Um Trunfo na Manga). Falamos de puro entretenimento pipoqueiro. Bom, muito bom no seu propósito, é brutal e cómico na construção de personagens meio toutiças como por exemplo um grupo de neo-nazis sanguinários que numa cena hilariante manietam um morto para se desculparem de o terem morto. A inspiração à Tarantino em Cães Danados é no mínimo, saborosa. É o desvario total, num todos contra todos, num vamos lá a ver se sobra alguém do genérico. O alvo de todas as tentativas de assassínio mantém-nos no suspense de adivinhar quem é que afinal lhe retira aquele sofrimento, pois ainda por cima não é lá muito simpático. O final de mandar tudo às urtigas é simples e não desilude a adrenalina e euforia de todo o filme. Destaque ainda para a revelação da lindíssima Alicia Keys que não é apenas a senhora de uma voz poderosa, como é igualmente poderosa na pele de uma sensual assassina armada até aos dentes. Temos mulher!

Passemos a Letters from Iwo Jima do senhor Clint Eastwood. Meus amigos, este filme é uma obra de arte. Passado durante a II Guerra Mundial, soldados japoneses eram enviados para a ilha de Iwo Jima sabendo que o mais provável era que não voltassem com vida. Apesar de contar com pouco mais do que uma enorme força de vontade e com a própria natureza inóspita da ilha, o General Tadamichi Kuribayashi (Ken Watanabe) conseguiu, apesar de tudo, graças a uma estratégia sem precedentes, transformar o que se esperava um massacre numa heróica batalha de quase 40 dias. Várias décadas depois, centenas de cartas escritas pelos soldados são encontradas no terreno. Cartas que dão um rosto aos heróis de Iwo Jima e ao seu extraordinário general, homem avançado e quase demasiado à frente do seu tempo.

The Last King of Scotland é, no mínimo, um filme grandioso. A começar pela direcção de Kevin Macdonald e da majestosa interpretação da dupla Forest Whitaker (na pele do ditador) / James McAvoy (na pele do jovem médico) é um filme que nos agarra desde o primeiro momento ao último num misto de admiração/indignação. Digno de mais nomeações para Óscares, recebeu o Óscar de Melhor Actor (Forest Whitaker) e conquistou o Globo de Ouro nessa mesma categoria. Ganhou 3 prémios no BAFTA, nas categorias de Melhor Filme Britânico, Melhor Actor (Forest Whitaker) e Melhor Guião Adaptado. Foi ainda indicado nas categorias de Melhor Filme e Melhor Actor Secundário (James McAvoy). Ganhou ainda merecidamente o prémio de Melhor Fotografia, no Festival de Estocolmo.
O título do filme é uma referência aos títulos grandiosos que o verdadeiro Idi Amin dava infantilmente a si mesmo, como "conquistador do império britânico" e "senhor de todos os animais da terra e peixes do mar". Um filme intenso a não perder que conta pelos olhos do seu médico pessoal as incoerências e fraquezas de um ditador cruel e ao mesmo tempo inspirador numa terra miserável. É nesse limbo de uma personalidade ela própria devastada pela miséria que resvalamos rapidamente da admiração a um líder à repugnância atroz de um genocída sanguinário. Poupado na gratuitidade da violência real das atrocidades mas ainda assim forte, muito forte!

Nota: Como eu e a minha colega bloguista Chihiro estávamos ao mesmo tempo a escrever desenfreadamente o post, tal era a impressão que este filme nos deixou, deu-se esta estranha coincidência de repetição do tema. Mas cá fica na mesma até porque são abordagens complementares.

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