As queixas de violência doméstica aumentaram 6% este ano, segundo dados da GNR, PSP e Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV). Registaram-se 16 602 denúncias até 30 de Setembro, o que corresponde a uma média de 1902 por mês, mais 102 do que em 2004. Estudos realizados em Portugal indicam que uma em três mulheres sofre agressões. Mas a maioria das vítimas tem vergonha e medo de revelar os maus tratos.

"há uma centena de menores todos os dias vítimas de alguma forma de mau trato".
Portugal sobe de sexto para cabeça de lista, à frente de países como o México. Segundo o relatório da UNICEF no nosso país, anualmente, em cada cem mil crianças com menos de 15 anos, 3,7 morrem vítimas de negligência ou maus tratos. Projecções do INE apontam para que existam 1,8 milhões de crianças menores de 15 anos, pelo que em média morrem por ano 66 meninos por maus tratos e negligência. Nos últimos anos, as comissões de protecção de menores já têm evitado muitas mortes.

Esta é uma realidade que repetidamente discutimos, mas não somos suficientemente empenhados para nos "irmos lá meter". Desconfiamos de um ou outro caso, mas convencemo-nos que não deve ser nada, que os pais é que sabem como educar os filhos e outras considerações que nos permitem lavar as mãos sobre o assunto de consciência tranquila. Noutros casos há alguém de coragem que denuncia o caso, mas a assistência social interfere mornamente, vai a casa, analisa, acompanha a família, mas decide por não tirar a criança aos pais. Pergunto-me a que preço e que significado terá aqui a palavra "pais". É difícil a qualquer um de nós esvazia-la de significado até não significar praticamente nada, mas a verdade é que nestes casos as crianças são meros acidentes, produtos de relações também elas muitas vezes marcadas pela violência, frustação e raiva. Gera-se um movimento em cadeia de agredir o mais fraco sendo que o homem bate na mulher e na criança, sim porque segundo estudos feitos, são é a "mãe" quem mais frequentemente agride, apesar de ser o "pai" a faze-lo com mais violência e, por vezes, fatalmente. Em nenhuma circunstância a criança está melhor com estes "pais". Parece frio dizer isto, mas o medo, a dor, a frustração e muitas vezes a raiva que anos e anos de tortura física e psicológica, mesmo que miúda, levam a traumas e desiquilíbrios que dificilmente permitirão a estruturação de um indivíduo saudável. Apenas os mortos têm impacto, mas são os milhares de crianças que sobrevivem a carregar o peso silencioso das infâncias que se prolongam dentro da sua personalidade.

Quando era pequena e chegava a casa com os joelhos em sangue
Quando era pequena escondia os joelhos em sangue ao chegar a casa.
das correrias e tropelias com a rapaziada na rua
das minhas incursões solitárias ao topo das árvores mais altas do campo
a minha mãe dizia que eu vinha esgazeada eu sorria traquina e meio triunfal das minhas provas dadas de destreza.
a minha mãe não estava e o meu pai gritava e abanava-me com força gritava-me nomes duros e eu olhava para o vazio a pensar que não estava ali.
Para não a arreliar passava a casa da minha ama que morava por baixo de nós e ela fazia-me o curativo meigamente,
Para não apanhar esperava que ele estivesse noutra parte da casa e entrava cozida com as paredes até à wc onde lavava a pele rapidamente,
de maneira que já chegava ao pé da minha mãe rosadinha e apresentável como uma menina, que ela tanto se orgulhava de educar.
de maneira a subir até ao quarto enquanto fazia planos de fuga sem perceber o que fazia ali, era apenas mais um objecto que ele odiar...

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