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Thursday, February 19, 2009 | 6 Comments

Antes eu acreditava em almas gémeas. 
Não que eu viva com uma! Até porque é notório para qualquer alminha que nos conheça dar-se conta que discordamos um do outro pelo menos umas cinquenta vezes por dia. No entanto vivo com uma alma que não sendo gémea e sendo por vezes tão irritantemente diferente de mim, acaba sempre por me entender, aceitar e amar, porque no fundamental e naquilo que realmente conta depois das portas fechadas, é termos esta sintonia peculiar quanto ao que realmente queremos na vida... Pois, parece impossível não é? Parece impossível e mais giro que isso é parecer que irrita muita gente.

Mas, dizia eu, antes acreditava em almas gémeas. Acreditava em amizades que durariam até ao final dos tempos. Do meu tempo útil de vida, pelo menos. Acreditei uns aninhos valentes nisto.
Dantes acreditava que existiam pessoas que me achavam mesmo especial e única. Pessoas que completavam as frases que eu ia dizer. Pessoas que me eram gémeas até nas imperfeições que nelas tanto amava. Que tinham lido e que, diziam, se tinham apaixonado pelas mesmas palavras que eu. Que gostavam dos mesmos filmes, das mesmas música, das mesmas tretas parvas e patetas que nunca confessaria a qualquer outro amigo/conhecido não-gémeo/a. Pessoas essas que poderia acarinhar e proteger sem receios ou limites. Pessoas sintonizadas para nós.
E descobri, pelas voltas e reviravoltas da vida, que aqui a je não passava de mais uma das 160 pessoas especiais e únicas a quem essas pessoas se dedicavam por qualquer capacidade inata de oblíquidade e de omnipresença que eu não possuo. Pois, era mesmo pura arrogância a minha, a de pensar que estaria pelo menos na lista top twenty! E mais, que as palavras que me eram dirigidas com tanta pompa e circunstância, com infinita meiguice e apenas (julgava eu, inebriada pela minha arrogância uma vez mais) para as minhas reais e nobres pupilas, eram afinal enviadas em bcc a mais uns quantos 10-especiais-e-únicos-como-eu-que-encaixavam-no-perfil-da-mensagem. Confesso que esta é daquelas coisas que não me deixando de rastos, é chata. No mínimo. Mas no fundo, aceito o argumento, é tudo uma questão de expectativa. A minha foi provavelmente demasiado elevada. E reveladora do meu convencimento e vaidade! Quanto às coisas que me deixam de rastos, não me apetece pormenorizar porque são daquelas que nos levam à conclusão de que se calhar nunca conhecemos realmente ninguém.

Com esta constatação veio a conscencialização ainda mais convincente da minha enorme incapacidade para me dedicar a muita gente ao mesmo tempo. Pelo menos com a intensidade e atenção com que preciso de o fazer. Já dizia Aristóteles, que para a amizade e consequentemente, para o amor crescer é necessário tanto tempo e dedicação que não podemos ter muitos amigos e ainda menos amantes. Só mesmo na era do fastfood comunicacional isso pode ser algo almejável. E há quem realmente o consiga fazer com grande perícia. E eu curvo-me perante tamanha habilidade.
Sabem, é que eu não tenho muitas habilidades... sei pintar, cantar e escrevo umas coisas. Sou aplicadinha (já dizia a Professora Passarinho da primária) em tudo o que faço. Ah, e sei cortar as cascas das laranjas em espiral. Foi o meu pai que me ensinou. Como não sabia dar assobios estridentes nem fazer a roda, esse era o tipo de habilidade infantil que valia pelo menos uns berlindes.

No entanto, não sendo a rainha do networking e dando umas calinadas valentes em algumas amizades que me eram/são queridas, seja pela minha própria incapacidade de as gerir, seja por razões que me são externas, tenho/temos mantido algumas relações quase seculares que nos esforçamos muito por manter. Pai, mãe, irmãos, alguns familiares, amigos de infância. Amigos de faculdade que ficaram. Amigos do partido. Amigos dos outros partidos. Amigos que começaram com não-vou-lá-muito-com-a-tua-cara e passaram a gosto-de-ti-porra! Amigos de trabalho que se foram tornando mais próximos e outros que hoje em dia já nem recordamos bem como é que tudo começou. Mas que dura e dura. E dura. 
E claro, o Miguel! O meu rapaz! O meu melhor amigo, amante, sócio, companheiro de aventuras.
E dá-me um confortozinho morno saber (ou pelo menos pensar que sei), que há pelo menos 2 ou 3 pessoas na minha vida que conheço mesmo e a quem me posso mesmo mostrar sem defesas. Que há, nem que seja nesse reduto de segurança, 2 ou 3 pessoas com quem não tenho que gerir constantemente o que faço ou digo, e mais importante ainda, que não têm constantemente duas faces. É que já é suficientemente cansativo lidar com a realidade de uma, quanto mais andar sempre a tentar perceber a face que está escondida.

Já não acredito em nada que tenha escrito "para sempre" no final. Da mesma forma já não uso o termo "nunca". Já fiz coisas que achava que nunca faria. Neste preciso momento da vida, apenas queremos seguir em frente, continuar a nossa vidinha. Que esperamos que seja espectacular! É que nunca fomos de fazer por menos! Ir por onde quisermos ir. Sem justificações. Sem grande guião a cumprir. Sem ter de falar do passado. Sem querer falar da dor ou da perda. Porque já a aceitamos e por não haver mais nada a fazer.
De tudo isto fica o conforto de que se fosse atropelada hoje, que morreria com um sentimento muito bom: o de ter tido uma vida muito porreira. De ter amado muito. De ter sido amada. De ter chorado muito. De ainda chorar. De rir à parva. Da dançar à parva até cair. De acreditar piamente que vou morrer de amor. De sentir muito muito a falta de quem gosto. De me afastar de quem não nos faz bem. Nada disso me envergonha. Claro que queremos viver para aí pelo menos mais uns 983 anitos de coisas boas, menos boas e assim-assim também! Venham elas!
No final de contas, depois de tudo, é com essa lucidez que temos de nos enfrentar.
Tudo o resto é peanuts!
E é essa a mensagem que queremos deixar aqui, depois deste enorme testamento que atesta sobretudo a minha incapacidade de síntese, mas pelo menos hoje não vai ter um tag de "curtas" como nas últimas semanas ;): 
Aos que mudam agora as voltas à sua vida, aos nossos amigos que agora escolhem outros caminhos, mesmo que em separado: continuaremos a encontrar-nos nas dobras dos dias que nos restarem e enquanto nos desejarem por perto, naquele que desejamos ser o reinicio de algo muito bom e com sentido para vocês. Gostamos muito de vocês e sejam muito felizes! Porque nós vamos sendo e continuaremos a sê-lo, em cada oportunidade que se nos ofereça. Ou não nos chamemos nós Marisa e Miguel :)

6 comentários:

Anonymous said...

Eh lá, o meu ritual matutino de vos vir ler vai ter de esticar!
Isto vai ter de ser lido com muitaaaaaaaa calma, estilo livro de cabeceira! É que não fazem por menos. Mesmo!
Bju!

Unknown said...

O poema é para ser partilhado.. :)

Anonymous said...

então e os novos amigos?!?

Unknown said...

Os novos amigos são muito bem-vindos! Claro que sim! Principalmente amigos que nos questionam, que nos conseguem retirar do sério, que nos deixam perplexos e que trazem acima o melhor de nós! Amigos com outras vidas, outras histórias e outras vivências para partilhar são muito bem-vindos! Esperamos estar à altura do desafio. Adoro esta frase do fecho do Casablanca: "Este pode ser o início de uma bela amizade!" :* kiss!

Lita said...

Amei cada palavra, revi-me em algumas. Sobretudo senti essa tranquilidade de aceitação, de que há coisas que já sabemos como funcionam.

Um enorme beijo.
Gosto muito de vos ler.

Anonymous said...

Maninha do meu coração!...amei cada palavrinha...revejo-me em algumas,sobretudo nesta fase da minha vida em que,o que fundamentalmente conta é que depois das portas fechadas,existe sintonia,amor,carinho,compreensão em relação ao que de facto é importante na vida...mesmo parecendo impossivel a muita gente e de irritar outras mil e quinhentas pessoas,isso é que de facto conta!mas como dizes manocas a vida é muito dura e temos um árduo caminho para percorrer,e por vezes a expectativa em relação a determinadas pessoas é(para nós, que ainda acreditamos no Pai Natal!ás vezes..),demasiado elevada,é só isso maninha!..Mas é tão bom existirem,nem que sejam 2 ou 3 pessoas a quem nos demonstremos e entreguemos sem qualquer tipo de defesas nem reservas,tal qual como somos,sem qualquer medo de não saber ao certo com qual das faces devemos lidar...(essas 2 já somos nós!...) O ARISTOTELES TINHA MUITA RAZÃO AO DIZER QUE PARA O AMOR E A AMIZADE CRESCER, NÃO PODEMOS TER MUITOS AMIGOS NEM AMANTES pois não podriamos dar-lhes o tempo e dedicação merecidas...Mas em sou daquelas que pensa que a qualidade supera de longe a quantidade!Só desejo maninha,em tempo útil poder ainda deliciar-me e poder dizer e sentir como tu,que se hoje fosse atropelada,morreria com um sentimento profundo de ter vivido a vida em pleno em todos os sentidos que a vida nos dá para ser vivida e sentida1...No final de contas,o que interessa mesmo é afastarmo-nos de quem não nos faz bem e aproximarmo-nos de todos aqueles que tal como nós querem apenas viver a VIDA e fazer dela o melhor teatro do mundo em que nós somos os principais actores!!!...Gosto muito de ti!Gosto muito de vocês!!! Gostamos muito de gostar de vós!Assim tal qual como são..simplesmente assim!... únicos1...Sejam muito felizes em cada oportunidade que se vos oferecer, pois eu/nós vamos tentar fazer o mesmo!Adoro-te muito maninha do meu coração!...

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