Uma carta por abrir

Monday, October 15, 2007 | 0 Comments

-Foi numa noite assim que te perdi, mas recupero-te. Escrevo mais do que devo, mas só porque te traz de volta a mim. Há dias em isso me agrada, mesmo que seja uma fantasia. Sinto de novo os teus abraços, sinto a tua presença, o teu calor e o teu sorriso colado à pele. Vejo-te perto, o teu corpo aproxima-se e eu toco-te, sinto o teu perfume doce e envolvo-me em ti, nas noites frias, nas noites de chuva e vento, nas noites estreladas da praia deserta ou da cidade rubra. Turva-se o tempo, turva-se a tua imagem…Onde estás? (Ouve, isto é loucura?) despido de roupa, despido do corpo - o vazio. Voltas sempre para me dares o teu ombro para caminhar. Só não entendo porque não me abraças, tantas vezes isso teria feito tanta diferença para me dar coragem. Gosto tanto quando o fazes.
- Bebe um copo comigo e vamos rir alto como se fossemos deuses jovens. Eu sei que não somos, que somos mortais e falíveis. Os deuses não precisam de casa, nem de adormecer nos braços de um ente querido. Eu tenho uma casa, nao é minha ao certo, apenas um sitio que aluguei e enchi de mim. Fica ao fundo da rua, a casa cor de rosa. Tocas à campainha e se eu não te abrir usa a chave que te dei. Abre a porta como se a casa fosse tua. Se não ouvires barulho algum, senta-te no sofá da sala, há lá um telefone, por baixo dele estará uma carta.

Desculpa o vazio, tentei organiza-lo o melhor que pude, mas obrigaram-me a levar tudo. Por mais que eu te queira dizer nos olhos a dor que sinto, falta-me a coragem, há algo que me dá um nó na garganta, talvez porque nunca antes me tinha sentido assim. Os problemas são como brocas que começam por um simples arranhão e vão cada vez mais fundo. Ajuda-me a passar estes dias que se amontoam sem que eu consiga trazer deles um sucesso. Tenho saudades de uma das tuas histórias, conta-me uma história tua, daquelas doces que trazes no bolso e contas com um sorriso radioso. Não tires esse sorriso da cara, mantém-te assim, és digna das mais lindas fotografias ou telas pintadas pelos melhores pintores, das tuas telas…Adoro ver-te assim. Se olhares para a parede atrás de ti, verás que a marca de uma moldura por baixo está uma caixa preta. tira-a de lá. tiraste? Podes abrir…Surpresa!!! Consegui encontrar um daqueles chapeuzinhos de que me falavas entusiasmada. Gostas? E tão delicado e feminino…
Queres saber, porque te digo estas coisas? Não sei, porque és uma pessoa que me deixa feliz quando passa por mim, só isso. Porque gosto de ti, sem mais nenhuma desculpa que me apeteça dar. A vida cumpre-se com ou sem a nossa participação e já são tantas as máscaras que pomos que hoje não me apetece. Hoje, entre tanta coisa efémera e certezas que deixam de o ser, só me apetece dizer uma coisa que não te dizia há muito tempo, que te amo muito.

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