A estética tem um papel fundamental na formulação de uma teoria científica. Há muito que deixámos de pensar na ciência como uma mera descrição de uma realidade positiva que existe para lá de nós. A ciência não é uma mera acumulação de factos e verdades absolutas. Como explicou Thomas Kuhn há muitos anos, a ciência é feita de paradigmas, e estes são fortemente influenciados por factores não-racionais, entre eles a estética. Um paradigma permanece válido enquanto não houver dados experimentais que o invalidem. Quando a acumulação de contradições e dados experimentais não explicados pelo paradigma em vigor passam os níveis aceitáveis, começam a surgir novos paradigmas para os explicar. A passagem e a escolha de um novo paradigma entre os vários paradigmas propostos envolve os tais factores não-racionais, onde a estética tem um papel relevante. Em Matemática, os paradigmas também se sucedem. Embora um paradigma matemático não seja invalidado pela experiência, a necessidade de novos paradigmas surge quando não se conseguem demonstrar resultados que se acreditam ser verdadeiros (as “conjecturas”) ou quando se exploram outras vias (“novos teoremas”). Mais uma vez, a estética e outros factores não-racionais tem aqui um papel relevante, levando a que entre os muitos paradigmas propostos apenas alguns sobrevivam.
(...) Um matemático quando chega a casa ao final do dia talvez não possa descrever à companheira ou ao companheiro como foi o seu dia. Mas essa solidão científica é largamente compensada pelo prazer de compreender construções complexas e belas, pela emoção da descoberta, e pela excitação de explorar novos mundos.
Rui Loja Fernandes
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