Rigoletto

Sunday, April 02, 2006 | 0 Comments

Se sentir fosse um arrepio na pele, o meu corpo seria uma onda crispada.
São nove e meia. São nove e meia e ainda tenho o cabelo a pingar do ginásio. Podia ter ido ao cinema, mas não quiz, podia ter ido a uma discoteca, mas não quiz, podia ter feito o que faço todos os dias, mas os meus dias não se repetem portanto hoje fiz o que sempre faço, fiz o que quiz. São nove e meia e ainda tenho o cabelo a pingar, ping, ping, ssssssssssst, uma gota que escorrega pelas costas, é um silêncio murmurado, mas para mim é música, é este compasso de espera enquanto aguardo que o pano suba. A sala está pouco cheia. A sala escurece. Ping, pi.... o primeiro acorde e a pequena gota a meio das minhas costas ficou arrepiada, suspendeu o fôlego e ficou imóvel à espera. Uma atrás da outra, as notas desprenderam-se da orquestra como um bando de pássaros que levanta voo. Depois uma voz máscula, depois uma voz dócil e feminina, depois outra e outra voz e há um coro que chega como a maré e inunda tudo. Se houvesse palavras era a elas que me agarraria agora, mas não há palavras que exprimam a beleza do momento. Aos poucos fui-me deixando ensopar até não ser outra coisa que não partitura. São assim os dias, dentro de uma caixa de música...

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Mei and Arawn