Depois do teu sorriso, depois da tua mão fechada, depois do puxão rápido, depois da noite estrelada, depois das tuas palavras derramadas sobre a sede da minha boca, depois da tela na sala escura, depois das pipocas fugidias, depois dos piqueniques na relva aveludada, depois da música, depois da tecitura desenhada dos dias, depois dos pinceis e das aguarelas, depois dos rascunhos e dos passeios nas vielas, depois das histórias, depois da caça aos patos na avenida, depois da queda e de nova investida, depois dos gomos da laranja no perfume da manhã, depois do mergulho refrescante, depois do livro fechado e da porta aberta, depois das bolas de sabão dentro e fora da ilusão, depois das respostas áridas, depois do chá embebido na ponta dos dedos, depois dos músculos doridos do esforço, depois das horas que o computador roubou, depois da roupa lavada, depois dos recomeços, depois dos braços desfeitos na rigidez dos caixotes de mudança, depois de um dia de trabalho, depois das aulas de condução, depois de levantar mais cedo para ir ao pão, depois do silêncio e da provocação, das feridas e da cicatrização, depois dos papéis emaranhados e de agendas empeçadas, depois de Pessoa de Saramago e da poesia reconquistada, depois da gente no instante capturada e do tempo ser vestido de seda da nossa pele delicada, depois de se ir em contra-mão, ser diferente sem razão, depois das paredes pintadas, depois da lista das compras e da luta estóica com o carrinho do supermercado, depois de aveludadas patinhas felinas a acordarem-nos impacientes, depois da doença e de insónias preocupadas, depois infâncias cheias e conquistas alcançadas, depois das viagens de metro e das outras mais além, doçura da tua voz e na dos outros o desdém, depois de comer a sopa toda e de limpar a casa pela manhã, depois de se ver a vida assim, não há hora que seja vã!
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