Orquestram uma sonata que só as ondulações dos seus gestos conhecem o caminho.
Fico deslumbrada. Lembro-me dos pé descalços sobre a pedra, saltitantes, enquanto desvias o cabelo com o dedo mindinho para não o sujar com o sumo das frutas que cortas cuidadosamente como se fossem tiras transparentes de cetim. É um final de tarde de verão e temos as portadas abertas para o terraço sobre a cidade que começa a acordar para a noite.
Mãos de fada cozinham para mim.
Seguram a colher com que embalam cada alimento como se fosse uma flôr muito rara, daquelas que apenas se encontram nas escarpas mais íngremes do fim do mundo.
Fico sem palavras. Contas-me como fazes iogurte. Como isso demora o seu tempo. Como deixas que o tempo coalhe em néctar rico aquilo que antes não passava de quase nada. Deixas que o tempo passe. Fazes do tempo a tua estufa.
Mãos de fada cozinham para mim.
Escolhem com carinho tudo aquilo em que tocam, com um encantamento que transforma tudo à sua passagem em tempo de nunca. Esse é o teu reino. Rainha és e com mãos aladas transformas as vagas rudes na mais cristalina cascata, a nuvem mais negra em tranquila claridade e a minha existência mortal em eterna companhia de voos.
Mãos de fada tecem o tempo das coisas.
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