Mea culpa!

Friday, June 23, 2006 | 0 Comments

Uma das maiores aprendizagens que a vida nos pode proporcionar é a capacidade de distinguir culpa de responsabilidade. É bem mais fácil ser culpado do que responsável. Paradoxalmente, não há melhor defesa que a culpa. Não serve sempre de atenuante a sua assumpção? Somos ainda um pouco menos criminosos se formos confessos. Hediondos que sejam. Gera-se um movimento solidário de compreensão. Identifica-se o agredido com o agressor num terreno que é de todos, porque para lá remete toda a nossa moral. E há ainda o exorcizante espaço da desculpa. O que, de caminho, permite à vítima exercer o supremo direito de perdoar. Sabe tão bem!... Ao gritar a nossa culpa, saldo as contas e demito-me de quaisquer outras obrigações. Fico, absolvido, também eu, uma vítima: dos meus instintos, dos meus impulsos, da minha má formação, da minha ambição desmedida, do meu supremo desprezo pelo bem-estar alheio... E pronto! E estranhamente chega. Pelo contrário, ser-se responsável significa "responder por". Na prática, implica assumir os actos e as suas consequências. Estar pronto a arcar com todos os danos que advierem das nossas escolhas e ter como imputável a sua resolução. Implica acção, atitude activa e construtiva. Por isso me soam hipócritas estas manifestações constantes, estas greves avulsas num país cujo patriotismo faz da bandeira nacional refém de todas as janelas de casas e carros. Por isso me soa hipócrita a troca de passados infelizes como o cartão do serviço social na escola que nos torna isento de todos os pagamentos e me soam hipócritas as manifestações das associações de estudante contra as propinas quando andam a arrastar as suas mui guapas calças Levi’s pelos mármores ilustres da academia durante uma dezena de anos. Nós somos, é certo, um produto de vários factores, mas é-nos dada a opção desse resultado como seres pensantes que somos. Somos responsáveis por fazer de nós, dos que nos são próximos e do nosso país o melhor que conseguirmos trabalhando tal, vendo as ameaças como oportunidades e as oportunidades como projectos. Deixemos as lamentações para as carpideiras do século XIX, missa de domingo e consultas ao médico, façamos por nós o que nos achamos no direito de reclamar e deixemos as apregoações públicas para as barracas de farturas.

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