Pára!

Wednesday, December 06, 2006 | 4 Comments

Pára!
Não dês outro passo,
Não te movas,
Não proves a doce espiral
da eloquência
Não deixes cair
nos teus lábios
o mel doce dos frutos maduros.

Se vieres
não poderás voltar
nada estará no mesmo sítio
a raíz
o ar
o movimento
até o devagar
será outra partitura
outro livro
noutro lugar.

Até os espelhos terão outro lugar na casa.

4 comentários:

Anonymous said...

Tradução tosquinha e mt literal da "Canção da Manhã de Senlin"



A CANÇÃO DA MANHÃ DE SENLIN

É de manhã, diz Senlin, e de manhã
Quando a luz pinga através das persianas como o orvalho
Eu ergo-me, eu enfrento a alvorada,
E faço as coisas que os meus pais aprenderam a fazer.
Estrelas na penumbra púrpura sobre os telhados
Empalidecem numa névoa de açafrão e parecem morrer
E eu próprio num planeta que se inclina velozmente
Permaneço de pé em frente a um vidro e aperto a gravata.

Folhas de videira tamborilam na minha janela,
Gotas de orvalho cantam às pedras do jardim
O tordo debica no lilás das Antilhas
Repetindo três notas claras.

É de manhã, estou de pé em frente ao espelho
E aperto a gravata mais uma vez.
Enquanto ondas longínquas numa aurora dum rosa pálido
Rebentam numa praia de areia branca.
Estou de pé frente ao espelho e penteio o cabelo:
Quão pequena e branca a minha face!
A Terra verde inclina-se numa esfera de ar
E banha-se numa chama do espaço.
Há casas suspensas sobre as estrelas
E estrelas suspensas sob um mar.
E um Sol distante numa concha de silêncio
Sarapinta as minhas paredes para mim.

É de manhã, diz Senlin, e de manhã
Não deveria eu parar na luz para me lembrar de Deus?
Aprumado e firme permaneço de pé numa estrela instável,
Ele é imenso e solitário como uma nuvem.
Este momento ao espelho dedicá-lo-ei
Somente a ele e para ele pentearei o cabelo.
Aceita estas humildes ofertas, nuvem de silêncio!
Pensarei em ti ao descer as escadas.

Folhas de videira tamborilam na minha janela,
O rasto do caracol brilha nas pedras,
Gotas de orvalho tremeluzem no lilás das Antilhas
Repetindo duas notas claras.

É de manhã, eu acordo duma cama de silêncio,
Brilhando ergo-me das águas sem estrelas do sono.
As paredes ainda estão perto de mim como ao entardecer,
Eu sou o mesmo, e o mesmo nome ainda mantenho.
A Terra gira comigo, todavia não há movimento,
As estrelas empalidecem em silêncio num céu de coral.
Num sibilante vácuo permaneço de pé frente ao meu espelho,
Despreocupado, aperto a gravata.

Há cavalos a relinchar em colinas distantes
Sacudindo as suas longas crinas brancas,
E montanhas brilham na penumbra branca rosada,
Os seus ombros negros de chuvas…

É de manhã. Permaneço frente ao espelho
E surpreendo a minha alma mais uma vez,
O ar azul desliza sobre o meu teto,
Há sóis debaixo do meu chão…

… É de manhã, diz Senlin, eu ascendo da escuridão
E parto nos ventos do espaço sem saber aonde,
O meu relógio tem corda, está uma chave no meu bolso,
E o firmamento está escuro enquanto desço as escadas.
Há sombras através das janelas, nuvens no céu,
E um deus entre as estrelas; e eu irei
Pensando nele como podia pensar na aurora
Murmurando uma canção que conheço…

Folhas de videira tamborilam na minha janela,
Gotas de orvalho cantam às pedras do jardim
O tordo debica no lilás das Antilhas
Repetindo três notas claras.

Anonymous said...

É lindo!...

CAntonio said...

Gostei demais. Voltarei para saborear mais.

Saudações,

Light said...

"Faz-me o favor...
Faz-me o favor de não dizer absolutamente nada!
Supor o que dirá
Tua boca velada
É ouvir-te já.
É ouvir-te melhor
Do que o dirias.
O que és nao vem à flor
Das caras e dos dias.
Tu és melhor -- muito melhor!--
Do que tu.
Não digas nada.
Sê Alma do corpo nu
Que do espelho se vê."

De Mario Cesariny

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