Frozen beauty
Monday, January 30, 2006 | 0 Comments
Some days are harder
Sunday, January 29, 2006 | 0 Comments
Uma noite para comemorar
Sunday, January 29, 2006 | 0 Comments
Uma noite para comemorar
Esta é só uma noite para partilhar
qualquer coisa que ainda podemos guardar
cá dentro num lugar a salvo para onde correr
quando nada bate certo
e se fica a céu abertosem saber o que fazer
Esta é só uma noite para comemorar
qualquer coisa que ainda podemos salvar
no tempo um lugar pra nós onde demorar
quando nada faz sentidoe se fica mais perdido
e se anseia pelo abraço de um amigo
Esta é só uma noite para me vingar
do que a vida foi fazendo sem nos avisar
foi-se acumulando em fotografias,
em distâncias e saudade numa dor
que nunca acaba e faz transbordar os dias
Esta é só uma noite para me lembrar
que há qualquer coisa infinita como firmamento,
um sorriso, um abraço
que transcende o tempo
e ter medo como dantes de acordar
a meio da noite a precisar de um regaço.
Mafalda Veiga, in Tatuagem
Fuerza Bruta
Friday, January 27, 2006 | 0 Comments
O que é, é-o agora. As muitas perspectivas que somos ou de onde nos olhamos são sempre agora. Posso imaginar-me de outra forma, mas a força que me torna inteligível a mim mesmo é a força do presente.O momento de viver um movimento é como uma chama de acendalha fugaz. Acende-se, aquece-nos, enche-nos a visão, Apaga-se, morre e desaparece.É uma força bruta que aparece e e que vive apenas nesse instante.
A força bruta é. Não pretende ser nem ensinar nem permanecer para além de si,não tem a ousadia de repetir-se. É o instante puro. É a sensibilidade no seu estado mais natural, se é que tal pode existir. É o apelo à percepção como forma primordial de extrair algo do mundo. Mais do que síntese do que o pensamento pensa, está em jogo o que a sensibilidade sente. Não podemos dizer que seja imediato, mas é o mais imediato que alguma vez teremos.
Demorei muito a conseguir expelir em palavras o que senti naquela noite.É difícil organizarmos as informações da percepção e mais ainda quando não é essa ordem que se pretende. Mania a nossa de tentar ordenar tudo como se tudo tivesse de obedecer a algum plano. Recordar a beleza nunca será o mesmo que vivê-la. Um estado de beleza é sentir essa volúpia mental de mil estilhaços a partirem-se, é percepcionar em nós um acto único de jogo das nossas faculdades. De certa forma cada vez que a percepcionamos em nós, esse acto é irrepetível pois as percepções que retiramos do objecto belo não dependem do objecto mas dos filtros sensoriais que como uma máquina de fotografar catpam a forma mas acrescentam um colorido, cambiantes e perspectivas que apenas resultam de uma determinada forma. Mas ao contrário da máquina não temos qualquer função que nos permita voltar a organizar tudo dessa mesma maneira para podermos retirar o mesmo prazer da mesma forma, com as mesmas cambiantes de arrepio. Tal como as formas aleatórias dos corpos flutuam na água misturando todas as cores que trazem vestidos, assim as nossas recordações flutuam como tintas coloridas misturadas, por entre imagens difusas de cores e brilhos e água e saltos e sorrisos e toques e risos e peso e calor e frio e...
Por isso aquela noite é indizivel. Por isso aquela noite permanecerá num sorriso guardado que apenas os que o sorriram poderão saber o que significa.
Memoirs of a Geisha
Friday, January 27, 2006 | 0 Comments
I became a woman before I find out what is being a girl. My body was taken away from me and without it my soul flew away.
Before I painted my lips with red I tasted the blood inside my mouth, sometimes I pass my tongue in the place it used to be injured always expecting to find there that same pain.
Can we but together what has been broken?
You are beautiful, they say...and I saw their faces follow my trace, but I have no path.
You are beautiful, they say...and I choose the most fashionable and pretty clothes and my best smile to carry on, but I'm always nacked and the smile in my face is just a part of the white mask I wear.
You are beautiful and we like you, they say...but they just like to entertain them. I have no lover and I shall not love. Lonelyness is my weight.
They say a geisha is an artist, and an artist I am. My hands as a misterious will, my eyes travel in the deepness of other eyes, my perfume stays after I have left.
They say I have to be strong and I get stronger, they say I have to continue and I move foward, but my world is fragile and so am I.
I love beauty and I change moments of tears in unforgotten cristal fragments, these sustains me through all my life giving me the courage to go further.
Now in the night I walk and I hear my steps on the empty street and it's echo souns like an army of shadows behind me.
Sayuri, butterfly of the night
Madrid forever...
Thursday, January 26, 2006 | 0 Comments
Blogacinhos cor de rosa
Thursday, January 26, 2006 | 0 Comments
É destes pequenos tesouros que nascem as asas de todas as borboletas e fadas do mundo.
Não sou do tamanho da minha altura..
Thursday, January 26, 2006 | 0 Comments
The true measure of a persons heart is not how much they love, but how much they are loved by others.
Wizard of Oz
Take your time, make any instant a part of eternity
Thursday, January 26, 2006 | 0 Comments
Do que somos feitos
Tuesday, January 24, 2006 | 0 Comments
Somos feitos da pele um do outro. Sou as notas que tocas cada vez que dedilhas em busca de teclas, sou o sorriso traquina que fazes quando trocamos patetices, sou o tique nervoso da tua mão, sou a espuma do teu dia, sou o segredo que guardas como um tesouro, sou o eco dos teus desejos, sou o cheiro que permanece na tua roupa, sou o teu refúgio nos dias agitados.Tu és o suspiro dos meus silêncios, o arranque das minhas palavras, o tique-taque do meu pensamento, és a força que me rasga por dentro, que me faz sair de mim, que me enraivece e me atordoa, que me acalma e me protege. És o lençol em que adormeço, és a tinta que me dá côr. Sou a tua pele e tu a minha.
Les mots
Tuesday, January 24, 2006 | 0 Comments
Fixement, le ciel se tord
Quand la bouche engendre un mort
Là je donnerai ma vie pour t'entendre
Te dire les mots les plus tendres
When all becomes all alone
I'll break my life for a song
And two lives that stoop to notice mine
I know I will say goodbye
But a fraction of this life
I would give anything, anytime
L'univers a ses mystères
Les mots sont nos vies
You could kill a life with words
So, how would it feel
Si nos vies sont si fragiles
Words are mysteries
Les mots des sentiments
Les mots d'amour, un temple
If one swept the world away
One could touch the universe
I will tell you how the sun rose high,
We could, with a word, become one
Et pour tous ces mots qui blessent
Il y a ceux qui nous caressent
Qui illuminent, qui touchent l'infini
Même si le néant existe
For a fraction of this life,
I will give anything, anytime
L'univers a ses mystères
Les mots sont nos vies
We could kill a life with words
So, how would it feel
Si nos vies sont si fragiles
Words are mysteries
Les mots des sentiments
Les mots d'amour, un temple
more Farmer Mylene duet with Seal Lyrics
Tricotando
Tuesday, January 24, 2006 | 0 Comments
Olho para trás para o que acabei de escrever e parece uma manta de retalhos como aquelas que a minha avó tricotava com restos de lã de várias cores. Descubro-me assim nesses restos de lã. Sou uma amálgama de pedacinhos de lã tricotados ao acaso cozidos uns aos outros atabalhoadamente, numa colorido exótico um pouco desconexo. As mantas de lã têm um centro. Talvez as mantas de lã tenham umbigo e espreitem lá para dentro à procura do pedacinho de si que ainda desconhecem. Ás vezes há uns erros na malha mas não é possível desfazer puxar por uma ponta e esperar que tudo se solte para recomeçar perfeitinho. Só há uma solução continuar a bater as agulhas uma na outra e acertar o compasso, se houvesse um fazer música só nessa tarefa gigantesca que é fazer de nós outra coisa.
Bonecas Russas
Tuesday, January 24, 2006 | 0 Comments
Piano a Quatro Mãos
Monday, January 23, 2006 | 0 Comments
As tardes de verão cheiram a laranjas e sabem a notas cristalinas de piano tocadas por aqueles que ouvem o bater das asas de uma pequena borboleta do outro lado da janela. A melodia que toco vezes sem conta cá dentro é a mesma que ouves quando me acompanhas com os teus pequenos dedos tocando o piano que sou.
Abrigos
Monday, January 23, 2006 | 0 Comments
Estamos preocupados porque não estás aqui connosco para podermos pegar-te ao colo e aquecer-te como se fossemos um cobertor.
Conseguimos ver através das muitas paredes que estão pelo caminho da nossa casa à tua.
Despertar
Monday, January 23, 2006 | 0 Comments
Quando me tocaste com o lado mais leve do teu olhar o meu corpo ergueu-se sobre as asas que agora me fazem rasar por entre sonhos. É como viver suspensa por fios invísiveis suspensos por cisnes alados. É como flutuar por entre nenúfares densos de cores vivas tendo apenas por reflexo o brilho translúcido das nossas sombras. Como me dirias baixinho "no meio de tantas cores alguma poderá muito bem ser a nossa." Despertar é este rasgo que nos abre por dentro como o céu se rasga num arco-íris ou como um botão de rosa espreita os primeiros raios de sol.
Princesa de Cristal
Monday, January 23, 2006 | 0 Comments
Princesa de cristal,
poderão os teus olhos conter a minha voz?
poderão as minhas palavras ser silenciadas
pelo rumor do teu gesto?
A chuva cai sobre a pele
com toque de jasmim perfumado
cristais de luz
frag-mim-tos
momentos
Princesa de cristal,
sobre os telhados cai a melancolia
os dias abertos, partidos ao meio,
separados pelo medo e pelo vazio
poderá o teu nome impedir a minha queda?
poderá a tua verdade impedir o meu esquecimento?
Labirintos,
beijos perdidos na escuridão
borbolentamente abres a bruma
no rasto do teu voo
uma constelação de lágrimas azuis
memórias arrancadas ao tempo,
asas de reinventadas
no sussurrar das dunas
Princesa de cristal,
anjo azul,
cristalino lago,
estrela cintilante,
poderão aos tuas lágrimas acordar os sonhos dos homens?
haverá ainda em nós espaço para tanto céu?
Se o meu rosto se desfizer na calçada
contra o gume da indiferença
a clepsidra cheia pela tua fragilidade
lembrar-me-á que nunca existi,
nunca fui mais que a sombra
de uma gota azul-claridade.
Estranhas formas de fazer amor
Monday, January 23, 2006 | 0 Comments
A love story
Sunday, January 22, 2006 | 0 Comments
Era uma vez uma princesa encantada...
...era uma vez um audaz cavaleiro
De repente...não mais que de repente...
Dois corações afinados na mesma melodia...
De repente... não mais que de repente todos os caminhos
eram um mar imenso por inventar....
De repente...não mais que de repente
do corpo fez-se a fogueira e dos sentidos a tentação...
Não era sorte, nem acaso nem divagação...
Foi o amor construído num viandante companheiro
Cumplice de planícies verdes e tardes de Verão...
De repente... não mais que de repente
o ar desfez-se em beijo e o mundo susteve a respiração...
Enquanto o amor escrevia novos significados na orla das palavras,
onde o vento que nasce do fechar dos olhos
e do gesto lento é o mesmo que perfuma os jardins e as horas vagas...
Amigos coloridos, Baquetas e Bateria para despertar o dia, Cumplicidades, Descobertas atrevidas, É provável que coisas improváveis acontecam, Felicidade tricotada numa camisola amarelinha, Gatinha persa, Histórias até tarde, Imaginação i Imagens , Jogos Sensuais, Kapital, Lingerie, Madrid, Noites bem dormidas, Oásis, Praias desertas, Quadros pintados, Regar os bambus, Sapatos e malas, Túlipas brancas, Uma taça de mousse de chocolate & uma taça de mousse de manga, Viagens improvisadas, Well done!, Xxxxxx vamos dormir, Yes!, Zaratrusta de NietzscheA menina aguarela
Sunday, January 22, 2006 | 0 Comments
"E recomeçou a desenhar, cada vez com mais fulgor, cada vez mais dedicação, os seus desenhos eram um fogo-de-artifício de cores, mas apenas uma fotocópia pálida da felicidade que lhe ía na alma."
Jorge Araújo e Pedro Sousa Pereira in Nem tudo começa com um beijo
Eclipse
Friday, January 20, 2006 | 0 Comments
Para mim também é tempo de eclipse, tempos em que a luz estando lá é filtrada pelo sol. É tolice perder-se tempo com o dedo que aponta e deixar de ver a lua cintilante.
An Angel Song
Friday, January 20, 2006 | 0 Comments
Se eu beijasse a tua pele?
Se eu beijasse a tua boca
Onde a saliva é doce como mel?
Num gesto de despojo
Misterioso, gentil,
Perco-me na miragem do teu corpo doirado
do sorriso fresco,
do sabor primaveril
Fecho os olhos e esqueço-me
a imagem de ti faz-me estremecer
e a minha tarde ganha um novo sentido
uma reinvenção de sensações
de perspectivas, de conceitos e definições.
uma reinvenção de acordes, de melodias
de ressonâncias apenas sentidas nas suas asas abertas
uma perfeição criada da nossa própria imperfeição
um mundo que muito poucos conseguem compreender...
Amor
Friday, January 20, 2006 | 0 Comments
Tu já tinhas nome, e eu não sei se eras fonte ou brisa ou mar ou flor. Nos meus versos chamar-te-ei amor.
Eugénio de Andrade
Enraizar
Friday, January 20, 2006 | 0 Comments
Pôr os bambus na terra, sentir a terra entre as mãos em concha, calca-la entre o vaso e as raizes, rega-la e sentir o seu ligeiro aroma desprender-se. Depois o sentir o vento enrolar-se nas folhas como se nos nossos cabelos e aos poucos o ar encher-se de um marulhar manso, ligeiro e fresco.
Foi um momento simples, cada um com o seu silêncio. Apetecia-me ter-me descalçado e sentido a água transbordante dos vasos fazer-me cócegas nos pés...
Cruzar rios, fazer caminhos
Friday, January 20, 2006 | 0 Comments
Hoje darás mais um passinho por entre as pedrinhas deste rio que corre cristalino aos teus pés e estaremos lá para te ver saltar. Somos a sombra discreta que te acompanha como uma mantinha que te torna invencível.
Definições
Friday, January 20, 2006 | 0 Comments
Não são precisas definições para nós, não te chamarei amiga, amante, irmã nem pelo teu nome. Os nomes prendem-nos como estacas ao chão. Por isso se hoje te chamo Chihiro e amanhã Afinadora de Pianos, é apenas porque o fato serve para o dia. Poderá um homem caminhar ao sol sem levar consigo a sua sombra?
Quantos apontam e dizem que linda sombra tens, quantos reparam nessa fiel companheira? Suspiro. Os amigos são discretos como as sombras...são afinadores do gigantesco piano que temos dentro, e com mãos de veludo vão afinando o nosso ser para que ele seja cada vez mais perfeito no momento em que a vida nos pede para actuar.
Castelo Andante
Friday, January 20, 2006 | 0 Comments
Tenho soninho e estou cansada, mas é nos teus braços que me apetece adormecer e por isso vim até aqui enroscar a minha existência nestas palavras como que à procura de um edredon fofinho onde aterrar de mansinho e adormecer.
Medo
Friday, January 20, 2006 | 0 Comments
II - Canto-te
Friday, January 20, 2006 | 0 Comments
Canto-te para que tu definitivamente
existas
Canto o teu nome porque só as coisas cantadas
realmente são e só o nome pronunciado inicia
a mágica corrente
Canto o teu nome como o homem fazia eclodir
o fogo do atrito das pedras
Canto o teu nome como o feiticeiro invoca
a magia do remédio
Canto o teu nome como um animal uiva
de
Como os animais pequenos bebem nos regatos depois
das grandes feras
Canto-te
e tu definitivamente existes nos meus olhos
Sempre abertos porque é sempree os meus olhos
são os olhos da criança que nós somos sempre
diante da imensidão do teu espaço
Canto-te
e os meus olhos sempre abertos são a pergunta
instante pendente de eu te interrogar
e interrogo as coisas em seu ser noctumo
em seu estar sombriamente presentes na tua claridade
obscura
E como é sempre
meus olhos abertos prescrutam-te
símbolo de tudo o que me foge
como apertar o ar dentro das mãos
e querer agarrar-te
oh substância
Canto-te
com a fragilidade de tudo que existe perante
uma eternidade demasiado nocturna para os nossos
olhos infantis perante a tua antiguidade
futura
E a nossa voz é uma pequena onda no dorso
do teu oceano de matéria
Um leve arrepio apenas na espantosa espessura
de teu éter
Ah no ar é que tudo acontece
no ar nocturno das idades esquecidas
que previamente desconheceremos
No espaço é que tudo acontece
e o espaço é uma grande muito quieta
onde os nossos olhos penetram
no não sabermos até onde
ali
além
no além onde tudo acontece
Oh
oh espaço de tudo ser tão ligeiro e impalpável
e sermos nós a respiração da
teu bafo ritmado
imperceptível distância
Oh augusta majestática dignidade do silêncio
Oh impassibilidade da tua mecânica celeste
Oh organismo primeiro de todos os fins secretos
da compreensão das coisas
Oh inorgânico organismo dos seres
que se devoram
Oh diz
a quem servimos nós de pasto
Canto-te
como quem pronuncia o Mantra esotérico do teu nome
Canto-te e grito
para que a poeira que se infiltra em todas as
coisas se erga de ti como um plâncton
Oh Madre
matriz das criaturas inferiores que rastejam
a teus pés cobertas de pó
esse pó que a cada momento ameaça submergir-nos
Oh aranha enorme tecendo tua teia de pó
Oh que desintegras tudo e tudo tu constróis
Ah como nós lambemos tuas duras mãos
Oh que fustigas nossos olhos com tua sombra
Enorme
Oh que deixas tanto espaço para o silêncio
das mil pétalas
dos mil braços esplendorosos em seu abandono
dos murmúrios
dos afagos
sangue derramado sobre o mundo
Oh
Porque és sempre tão premente?
e sempre estás ausentemente
na tua constância em todas as coisas?
Oh sono
Oh morte tão desejada e longa
mágica povoada de átomos
milhões de espíritos enchem o teu sopro
E penetras em nós como uma bala
E tudo morre quando tu chegas
E tudo se dilui e se transforma em ti
alada presciência de tudo acontecer
tão longe de nós e tão antigamente
e tudo nos ultrapassar com soberana indiferença
ante os nossos olhos cegos pelo teu negrume
Oh
brilha para dentro de mim
Acende teus luzeiros em meus olhos
Ergue teus braços oh prenhe de tudo
Oh vaso
Oh via láctea de nos amamentares com teu leite
de sombra
Oh úbere e pródiga
Aleita tua ninhada faminta
Grande fera luzidia
Grande mito
Grande deus antigo
Oh urna onde todos dormimos
Oh
Meus olhos choram já de tanto prescrutar-te
E canto-te
Canto-te
Para que tu existas
E eu não veja mais nada além de ti
E nada mais deseje senão que venhas outra vez
levar-me para dentro do teu ventre
de nunca mais haver
E nada mais haver que
Oh tu definitivamente além
Ana Hatherly
Poemas de Eros Frenético e Contemporâneos
Passinhos Cautelosos
Friday, January 20, 2006 | 0 Comments
" Ainda tenho que aprender a aproximar-me de ti mais moderadamente; o meu coração acorre ao teu encontro com demasiada pressa: este coração onde arde o meu estio, o breve, ardente, melancólico e venturoso estio. Como anela pela tua frescura o meu coração estival!"
Friedrich Nietzsche
Beleza
Friday, January 20, 2006 | 0 Comments
Dá-me prazer saber que no início do dia, na ponta mais fina da manhã quando o corpo ainda devaneia entre a energia e o lençol, quando os olhos ainda tropeçam na luz, há um momento em que paras e sentes que todos os sentidos ainda torpes pela languidez de algum sonho se sentem despertos e mimados. Dá-me prazer conjugar o sabor e a cor, talvez porque quem ama a beleza, a ama em todas as formas, ou porque quem ama, concebe a beleza em todos os gestos.
Best Friend
Friday, January 20, 2006 | 0 Comments
Só a rajada de vento
dá o som lírico
às pás do moinho.
Somente as coisas tocadas
pelo amor das outras
têm voz.
(Fiama Hasse Brandão)
Percepções
Friday, January 20, 2006 | 0 Comments
A consciencialização das falhas do ponto de vista natural (que é o nosso) produz muitas vezes a cimentação superficial das mesmas pois não vemos a realidade tal como é mas apenas como se nos dá a conhecer e completamos de forma subjectiva aquilo que julgamos faltar... desta forma a nossa percepção é limitada e apenas capta parcelas do observado, mas com a ajuda da memória e da imaginação fechamos e completamos os espaços que carecem de dados sensoriais. O problema é a forma como completamos esses dados... se não completarmos pela ordem certa ou com os conteúdos adequados podemos ter casos de inadequação ou mesmo de esquizofrenia... o espaço que nos separa disso é apenas o da adequação que depende de duas capacidades frágeis e muitissimo voláteis...
Por isso vivemos num estado de carência permanente...com o único conforto de não nos apercebermos disso...ou seja... a vivência baseia-se numa confiança e num domínio excelso do mundo que nos rodeia...o que demonstra o quanto não entendemos de facto o que falta ao nosso olhar.
Cumplicidades
Friday, January 20, 2006 | 0 Comments
Os sorrisos trocados enquando saíamos dos cubiculos de prova,a tua transformação em cinderela no teu fatinho preto cheio de baixos relevos floridos, a suavidade das pequenas pregas que assentam como uma luva... o meu orgulho desmedido perante a tua transformação... eu sempre te vi assim... agora os outros também conseguem ver. Não consigo entender bem o mecanismo psicológico do orgulho nos outros, de sentirmos que o nosso dedo marca a linha por onde se vão cosendo as pregas da vida de outros... é talvez de uma tamanha arrogância... e talvez uma grande responsabilidade...
Criaturas Voláteis
Friday, January 20, 2006 | 0 Comments
As criaturas voláteis são redutos de beleza e palcos de sonho
cuja efemeridade impediria de deixar rasto não fosse a marca funda que deixam no corpo dos outros.
Marcadores
Friday, January 20, 2006 | 0 Comments
Eu adorei os marcadores por dois motivos: porque são expressões de beleza que provam que o suporte que usamos para a fazer aparecer diante de nós é infinito e sem preconceitos e porque o nosso almocinho significava isso
mesmo: um marcador...
Os meus marcadores costumam ser guardanapos que roubo nos cafés por onde leio... e que acabam a maior parte das vezes por ser rabiscados com flores e pequenos bancos de jardim azuis com vista para uma pradaria aluada...
Estes marcadores são momentos em que as folhas da nossa vida ficaram com a dobra indelével da demora, da atenção que dedicámos aquele instante em que os nossos olhos percorreram aquelas palavras e se perderam, enquanto dedilhávamos o cantinho dobrado da folha...
Mirrors
Friday, January 20, 2006 | 0 Comments
“Apertei os olhos com muita força para reter dentro as recordações,e as guardar dentro de mim, depois abri-os bem abertos para me apresentar de novo diante o mundo.”
Osvaldo Soriano, La hora sin sombra
Outono
Friday, January 20, 2006 | 0 Comments
Não sei se reparaste que o ar está diferente, a luz menos quente, as manhãs mais frescas de arrepiar a pele, as árvores baloiçam as folhas num verde já pálido. Na rua a roupa oscila entre o claramente fresco à superfície dos que se agarram à memória de tardes abrasadoras e o confortavelmente quente daqueles que se apressam a cobrir-se escondendo imperfeições e o corpo da exposição.
Provavelmente poucos foram aqueles que reparam que as andorinhas começaram a fazer as malas, aliás como tu... Hoje, no primeiro dia de Outono descobro-te como uma andorinha, de peito alvo e olhos negos, a fazer as malas à procura de terras onde o calor ainda subsista, a fazer planos para um novo ninho, a definir linhas de voo e a aprumar as penas para a inauguração da viagem.
Sendo hoje o primeiro dia de Outono, os carros circulam sobre a ponte como noutro dia, os andaimes adiantam as obras de sempre, os computadores mastigam os dados com a lentidão do costume, os transeuntes ruminam as dores e queixas com que se levantam e deitam nos outros dias, mas para mim é diferente, é um segredo que só eu sei e partilho agora contigo, é um segredo que não está previsto em nenhuma ciência nem matemática, porque mesmo os que sabem que hoje é o equinócio, desconhecem a magia de andorinhar por entre o tempo em imprevistas reinvenções
Linhas de voo
Friday, January 20, 2006 | 0 Comments
Vãos de Escada
Friday, January 20, 2006 | 0 Comments
No meio do dia há um vão de escada, escondemo-nos por baixo, e enquanto ouvimos a correria dos passos tropegos que sobem e descem, por momentos, na penumbra, inspiramos uma golfada de ar a cheirar a flores e somos apenas crianças doces de mão dada a falar de histórias e contos de fadas, não há nada que nos venha cá buscar, nada que nos arraste de lá para fora, e quando depois de um chá de bonecas de porcelana voltamos à presença dos outros como se nada se tivesse passado, fica-nos apenas o sorriso cúmplice e traquinas de quem andou a perseguir borboletas no próprio pestanajar.