Chazinhando

Friday, January 20, 2006 | 0 Comments


O chá é sempre da mesma cor, umas vezes mais escuro, outras mais claro a deixar espreitar a outra margem do copo. O chá pode ser bebido a diversas temperaturas dependendo do gosto de cada um. A menina verde gosta de o beber a ferver, para assim poder sentir, tudo em si arder à sua passagem, para assim o poder sentir aquecer o peito tantas vezes amedrontada. Disseram-lhe que era estômago, mas enganaram-na. É bem no peito que a menina verde o sente converter-se na força calma de um rio.
O chá, dependendo das suas propriedades, quando se bebe, seja a que hora for, pode adormecer ou fazer rir. Há quem fale no chá das cinco, mas a menina verde não sabe o que isso é, a mãe nunca lhe ensinou.
Para ela não existe uma hora de chá existe um perfume oriental a liquefazer as horas. A menina verde lembra-se de quando era ainda mais pequena que um grãozinho de ervilha e via a avó secar folhas estranhas que colhia das árvores e secava no sótão (que na verdade era o quarto dos fundos fora de uso, mas a menina verde sempre acho os sótãos mais românticos para as histórias), se transformavam em chás de nomes efabudelirantes. Durante muitos anos a menina verde pensava o que seria casar com aquele chá príncipe. Coisa estranha aquela de transformarem em chá príncipes e meninas. Por vezes tinha medo de se portar mal e uma bruxa malvada a transformar em chá como fizera com aquela menina muito bonita, a bela Luísa.
Agora delicia-se com muitos e diferentes chás, todos da mesma cor, umas vezes mais escuros, outras mais claros a deixar espreitar a outra margem do copo.
És tão bonita e eu gosto tanto de ti. Do teu cabelo loirinho, como os chás mais perfumados, dos teus olhos grandes que sorriem às escondidas, do teu corar envergonhado e das tuas mãos doces, tão esguias, tão iguais às minhas. Se pudesse roubava a lua para ti. Se pudesse era pequenina para poder caber debaixo da mesa e pedir-te uma caixa inteira de lápis de cor. Para poder adormecer ao teu colo em ronronantes preguiças e espreitar sorrateiramente por entre buraquinhos do xaile verde com que me adormecias os bambus a dançarem lá fora. Se pudesse era pequenina, para poder pousar a minha cabeça no teu colo e deixar as tuas mãos acariciarem-me as maçãs do rosto e afagarem-me os sonhos. Se pudesse, voava...
A menina verde só ainda não conseguiu perceber para que serve Deus se o chá existe.

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Mei and Arawn