Agora, onde? Agora, quando? Agora, quem? Sem perguntar a mim mesmo. Dizer eu. Sem pensar. E dizer que são perguntas, hipóteses. Ir em frente, dizer que é ir, dizer que é e
m frente. Será possível que um dia, vá lá, um primeiro passo, eu tenha apenas ficado num lugar de onde, hábito antigo, costumava sair para ir passar dia e noite o mais longe possível de minha casa, e nunca era longe. Pode ter começado assim. Nunca mais farei perguntas a mim mesmo. Julgamos estar apenas a descansar, para depois agirmos melhor, ou sem ideias feitas, mas passado pouco tempo vemo-nos impossibilitados de fazer seja o que for. Pouco importa como isto aconteceu. Isto, dizer isto, sem saber o que foi. Talvez não tenha feito mais do que confirmar um velho facto consumado. Mas não fiz nada. Pareço falar de mim, mas não sou eu, não é de mim.
Samuel Beckett, O Inominável
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