Hoje é dia de feira!

Saturday, August 26, 2006 | 3 Comments

Avé comecée em Viseu a Feira de São Mateus, a mais antiga das feiras francas que se realiza em Portugal, fundada em 1392. Eu, que não ia à feira desde os tempos em que a minha avó me fazia fatias douradas aos domingos de manhã e me ensinava contas de dividir com dois digitos e os nove fora que era sempre sete ou oito e nunca os tais nove, resolvi ir experimentar mais uma das pitorescas ofertas que esta terra tem para oferecer.
O chão de terra batida de meter inveja a a qualquer picadeiro, luzes de todas as cores e feitios de por a um canto qualquer iluminação natalícia e gente muita gente. Confesso que os 300 e tal stands e expositores com artesanato e outros produtos me surpreenderam pela sua resistência ao passar do tempo, são exactamente os iguais aos que me lembrava de tempos remotos, de tal forma que um arrepiozito de dejávu me subiu pelas costas. Os mesmos assa-chouriços, os mesmos pá e vassoura para a lareira, os mesmos zé-povinhos, os mesmos indios com os seus artefactos feitos e Taiwan e e cd´s de pan pipe. Acho que estes tipos devem ter franshizado o negócio, estão em todo o lado e são iguaizinhos, até o espectáculo ao vivo com a música a passar discretamente por trás, tipo karaoke sem tv à frente, é igualzito parecem goblins.
Passei para a parte dos restaurantes e tasquinhas e posso afiançar-vos més amis (notem que já vou apanhando a pronúncia de cá) que uma bifana ou um pão com chouriço comido aqui entre criancitas a chorar e a levar tabefes, encontrões, fumo da roulotte das farturas a entrar pela porta do pré-e-semi-fabricado dentro e cheiro a homem do campo, pujante que nem um boi, que cavou o dia inteiro, tem outro sabor. É verdade! é ainda mais exótico que as aquelas colchas feitas de retalhos de lã de todas as cores que nos punham na cama quando vinhamos à terra. Note-se que a música berrante do palco do fundo com a Ruth Marlene a berrar em plenos pulmões, seguida do rancho Folclórico da região ajuda a dar um toque ao ambiente.
Do outro lado os carroceis, esses ainda capazes de encantar miúdos e graudos não obstante toda a tecnologia que a eles se vá sobrepondo. O mais pitoresco que descobri, capaz de "emoção e aventura" segundo o rapaz da cabine de t-shirt branca de mangas rasgadas à Hulk Hogan da periferia, foi um barco que oscilva 180%, em alucinante velocidade. A engenhoca da qual saíam gritos estridentes (vá-se lá perceber porque é que o pessoal paga para sofrer quando há formas tão simples e gratuítas) fazia um grunhido de engrenagem semelhante a chicotes a zubir o que combinado com a gritaria criava a estranhada e,confesso, arrepiente sensação de estarmos perante um inferno cheio de alminhas a serem torturadas. Isto perante a pacata barraquita do algodão doce com música de caixa de brinquedos. Isto do universo popular tem a sua mística própria, c'ést vrai! E entre um "ó freguesa venha veri, hoje tá pá arrebentari, é quase dado filha!" dito de um só fôlego e um "Attendre! Attendre! óh puto dum c.... está quieto" este é o sabor das feiras e das gentes, castiças, brutas e generosas como em nenhum outro lado.

3 comentários:

Anonymous said...

É pitoresco para quem vem á terrinha, mas quem é de cá e tem de gramar as Rutes Marlenes...

Anonymous said...

PÁREM LÁ DE FAZER BIRRA

Ora viva, borboleta cor-de-rosa!

Os visienses agradecem ter batido asas para nos visitar!

Então, veio recordar a velha infância, não foi? E fez a borboleta muito bem!...

Bene vixit qui bene latuit . E digo isto porque me parece que vocemessê andará meio-perdida no tempo!... Trará ainda na memória as recordações dos seus tempos de traquinices – tempos em que também gritava e fazia birras na Feira, silenciadas elas também com os tais tabefes, – ou não terá dado ainda conta de que houve mudanças de então a esta parte?

A terra batida já foi substituída por calçada, o pavilhão multiusos alberga, com boas condições, os Stands das empresas que todos os anos nos visitam e ali se expõem (e muitos outros novos que engrossam a lista já de si imensa), o recinto exterior tem, também ele, Stands novos para os expositores dos artesanatos, comes e bebes, quinquilharias e também para os ditos "pan pipes"…

A nossa querida Feira de S. Mateus é assim mesmo. É o rodízio da diversão que continua a encher os olhos dos miúdos e dos graúdos, mais as "cenas" dos masoquistas ou aventureiros (vá-se lá saber!) que pagam bilhete para a volta alucinante/impressionante, com os eles e elas a estrebuchar por todo o lado no meio de uma berraria infernal... enfim... O que é certo é que quando as engrenagens abrandam o ritmo, é vê-los a deitar mão ao bolso, procurando mais umas moeditas para mais uma volta de euforia e loucura salutar!

A nossa Feira é sempre uma mistura indecifrável de odores inimagináveis e indescritíveis. São os fritos, são os fumos, é tudo aquilo que se nos entranha nas roupas, na pele e na alma. É, enfim, tudo o que nos marca, como ferro em brasa, e marca a meninice e marca a juventude. Marca e marca até que a morte nos separe. Esta é a "nossa" feira. Goste-se ou não.

- "Humm…cheiras a farturas… vens da feira!" – e depois as enguias que nos deixam com água na boca só de pensar em lhes afinfar uma trinca, e que, propositadamente, se oferecem nas suas barraquinhas de rosto antigo (melhoradas em condições, claro!) para permanecerem fiéis à tradição!

A Feira é o emaranhado de gente que se atropela, que ri e que chora, enquanto se lambuza com o frango assado e o pão com chouriço, esquecendo, por um dia? por uma noite? – que seja! as agruras de um quotidiano nem sempre agradável.

É o choro, os gritos, as birras dos mais pequenos, seguidos dos tabefes, sonoros ou abafados, de misericórdia ou não para os ouvidos de todos nós, parolos de uma santa terrinha que tanto maldizemos. Mas... tanto maldizemos como amamos e, em dia de feira, mesmo cheirando mal dos sovacos, cansados e cobertos de pó, brindamos esfuziantes com mais um copo, corpo abandonado a uma dança estranha e ondulante, da bebedeira ou da música que rodopia no ar e toma conta dos nossos sentidos – Ruth, Quim, Rancho ou outro qualquer.

É tudo isto que nos alegra o espírito e nos faz sentir que ali, naquele momento, nada mais interessa a não ser receber de braços abertos o que a Feira tem para nos oferecer. E nós queremos. Queremos até mais não. Queremos sentir o cheiro das farturas, ouvir as engrenagens dos carrosséis, rir da música parola que as bancas teimam em passar, regatear o pechisbeque, gozar do bêbedo que mal se segura nas canetas e vai discursando para o poste de iluminação, andar a coscuvilhar pelas barracas enquanto se faz tempo para ir às enguias, apreciar a arte de quem trabalha à mão e pensar que cada luz (vermelha, azul, amarela…) que ilumina o nosso rosto está ali, tão somente, para nós mesmos brilharmos com a Feira!

Mas, certo, certo, é que não falhamos com a nossa presença!... Esperamos o ano inteiro pela Feira de S. Mateus!... enchemos o recinto para ouvir a tal "pimbalhada", de que afirmamos não gostar (é de bom-tom criticar esta cambada e a outra!), andamos de água na boca o ano inteiro para afinfarmos o serrote numa fartura, e nem nos lembramos dos fumos e dos cheiros.

Erguemos os olhos para o céu e em silêncio contemplamos o fogo de artifício, e somos surdos a todo o barulho!…

Nós somos assim, somos os parolos da Beira!... tecemos críticas à organização, nunca nos agradamos do programa, dizemos que é sempre a mesma coisa, que estamos fartos de Feira…

E depois…bem, depois instala-se a melancolia quando disparam os últimos foguetes e segue o adeus àquela que nos acarinhou durante 42 dias!... e num desabafo triste dizemos "agora só para o ano!".

Se tudo isto não é gostar da Feira, meus amigos, porque raio teimamos em lá ir?!

Bijux
Explusiva

heresias consentidas said...

FEIRA DE SÃO MATEUS/2006

- UM CERTAME DE CORAÇÃO
E COM CORAÇÃO!


Começaremos por dizer que a coisa mais fácil e simples deste mundo é chegar à fala com o Presidente da Feira de S. Mateus, Jorge Carvalho.
Verificámo-lo por experiência própria!
Nunca, ao que constatámos, o líder do Executivo da “Expovis” se recusou a receber fosse quem fosse! É só chegar à secretaria, perguntar por ele, entrar e falar. Fácil, não?!
É claro que para todos aqueles que chafurdam nos pântanos da maledicência anónima, dar a cara e confrontar directamente os responsáveis, conversar com eles e esclarecer dúvidas... bom, esta parte está fora de questão, não é? compreende-se!..
É infantil atirar pedradas às pessoas e meter de seguida as mãos aos bolsos como se não fosse nada connosco. Infantil, estúpido e perigoso. E depois lembra aquele velho ditado “só se atiram pedras às árvores que dão bons frutos”.
Mas, vejamos, para responder às críticas que por aí têm circulado:
As entradas na Feira de Maio, em Aveiro, custam realmente 1,5 euros (dos quais 37,5% revertem a favor das Corporações de Bombeiros daquela cidade). Todavia, atente-se no sofisma desta afirmação: - A Feira de Maio cobra-se de 1,5 euros, mas apenas em dias normais. Os críticos não referem – porque lhes não convém ao discurso - que os dias de espectáculo são cobrados a DEZ EUROS!!!
Falemos agora de receitas:
A Direcção da Feira prossegue a política seguinte: Bombeiros Voluntários – 100 por cento das receitas; Rádio Renascença – 100 por cento das receitas; Paróquia de São José – 100 por cento das receitas; e Confraria de São Vicente de Paulo – 100 por cento das receitas.
Perguntamos: chega para “bater” os 37,5% da Feira de Maio?
A política da “nossa” Feira é, em nosso entender, muito mais abrangente e muito mais justa, pois “entrega” totalmente os dias festivos às referidas Instituições, sendo, por isso mesmo, tudo da responsabilidade delas – bilheteiras, espectáculos, etc... A Direcção da Feira não tem nisso qualquer intervenção, permitindo que as Instituições programem e executem os seus “dias” como bem lhes apetecer.
A Direcção da Feira consegue, assim, prosseguir os seus objectivos de agradar a um público que é, necessariamente, diverso e diversificado e tem-no conseguido, isso mesmo se percebendo pelo crescente número de visitantes, de ano para ano, contrariamente ao que as más-línguas apregoam.
Se fosse minimamente verdade que a Feira estivesse a perder qualidade, a primeira coisa a ressentir-se disso seriam as bilheteiras. Ora, não é o caso!... E a Feira, como qualquer outra empresa, de qualquer género (até se pode invocar as empresas de Comunicação Social para este exemplo!), perderia drasticamente o seu mercado de acordo com a perda de qualidade!!!
Perderia expositores e perderia público visitante. Ora, os números são claros. A Feira nem perde Expositores nem perde Visitantes.
Isto deveria fazer com que os “opositores de serviço” metessem a viola no saco.
Se uma Televisão for fraca, o público-alvo muda de canal. É assim com tudo e em toda a parte. Quem assim não o entender não possui a mínima noção de nada nesta vida.
“Neste momento, alguns dos números a que já tivemos acesso, apontam para um novo “record” de bilheteiras, quer dizer cerca de 200 mil entradas pagas. Ora, isto, por si só, é o melhor elogio a que a gestão da “Expovis” pode aspirar” – rematou Jorge Carvalho.
Instalações Sanitárias:
Não é também verdade que haja “falta gritante” de equipamentos básicos.
A Feira tinha, no ano passado, as suas instalações sanitárias todas juntas, por não existir rede de esgotos. Este ano optou por dividi-las e espalhá-las pelo recinto. São CINCO ao todo e estão lá para quem não for cego, nem de olhos nem de espírito.
Construiu-se uma rede de esgotos nova já este ano – não se vê mas existe! – e isso permitiu a construção de cinco novos lavabos, a saber: um junto ao palco (16 às 24h), dois na zona comercial (08 à 01h) e outros dois na zona das enguias (08 às 02h). Pretendia-se acrescentar mais um na zona dos “carrousseis”, porque sabemos que daria jeito, mas a rede não o permite.
Bilheteiras:
Este ano, também para gente de olhos abertos, foram desenhadas e construídas novas bilheteiras, para anular o efeito “caixote” que as anteriores tinham.
“Aglomerado de feirantes sem ordem aparente”:
Existe ordem em tudo o que respeita à Feira... pode é não ser a ordem que outros lhe dariam, mas isso já é outra história! Estamos aqui como no futebol: treinadores de bancada há-os aos milhares, mas se calhar nenhum joga à bola nem nunca jogou!
A “arquitectura” do recinto da Feira está concebida por forma a optimizar os seus espaços e, ainda, por forma a permitir que, em caso de qualquer incidente, se consiga uma adequada e rápida actuação dos meios de socorro, ambulâncias, bombeiros, polícia, etc...
Corredor Central:
O terreno da Feira não estica! Jorge Carvalho é peremptório quando afirma que “o terreno disponível e delineado para a realização da Feira foi-nos entregue tal qual aí está e os metros quadrados não esticam”.
O chamado ‘corredor central’ teve, portanto, de se deixar ‘cair’. Não se fazem omoletas sem ovos. O espaço disponibilizado falou mais alto. “Não é que não tenhamos pena e que também a nós não nos agradasse contentar tudo e todos... mas era humanamente impossível. Como em tudo, na vida, “não se pode agradar a Gregos e Troianos” e nós tivemos de fazer as opções que, depois de discutidas, nos pareceram as melhores” – frizou Jorge Carvalho.
Só no dia da inauguração, ainda em entradas pagas, registaram-se à volta de 35 mil. Mas é claro que no final do certame se fará o balanço, o mais rigorosamente possível, das entradas pagas e não-pagas.
Recolha de lixo:
Foi aberto um concurso público e ganhou a empresa “Agilusa”. A recolha dos lixos é efectuada em regime de permanência. Existem contentores em número considerado suficiente e todos os dias, à noite, são recolhidos e esvaziados. Se há queixas – que não há! – a “Expovis” só tem de contactar a empresa responsável.
A desejada fruição:
A terminar o rol de críticas à Feira actual, ouve-se que “não existe preocupação com o fruir dos visitantes”...
Então é assim: o Executivo faz sempre um esforço enorme para ir ao encontro dos gostos mais diversos e diversificados, sabendo, de antemão, ser tarefa ciclópica. Ainda assim, concretiza aquilo que considera ser a gestão mais adequada, destacando-se a presença das louças de Barcelos, o artesanato, os “carrousseis”, os carrinhos de choque, as farturas, enfim, tudo o que é importante e fundamental numa feira com este figurino e que se deseja manter popular.
Quer dizer: todos os dias é um dia novo e diferente. Se um dia há quem não goste, temos a certeza de que há quem goste e o equilíbrio revela-se perfeito.
Programação:
Em termos da programação, ponto muito apetecido pelos “profetas da desgraça”, Jorge Carvalho reafirma que a mesma é elaborada atendendo aos gostos de um público tão variado como é o da Feira.
E o exemplo não tarda: “O Quim Barreiros arrasta multidões. A Feira enche com o Quim Barreiros e, por exemplo, o Grupo que aí esteve, o “Mercado Negro”, teve menos 6 ou 7 mil pessoas. E o curioso é que eu próprio vi muita juventude frente ao palco, alegre, divertida e de braços no ar. Não vi a mesma coisa noutros grupos que já actuaram e, também lhe digo, vou estar atento no próximo Domingo, dia 17, com a actuação dos “Boss AC”.
“Nestas coisas de programação dita “erudita”, para intelectuais ou pseudo-intelectuais, temos de ter em conta que a “Expovis “ é uma empresa e, embora noutro plano, claro, não pode deixar de ter em atenção a sua saúde financeira. E depois, por amor de Deus!, nós temos de dar ao público o que ele quer, quando não estaríamos a fazer uma feira para o próprio umbigo!
“Enquanto eu aqui estiver, a Feira oferecerá aos visitantes aquilo e só aquilo que os visitantes desejarem e demonstrarem que gostam. A Feira – e outra coisa fora disso torná-la-ía inviável! – tem de apostar numa programação que agrade e tenha saída e não numa programação que dê prejuízo.
“Temos aí o “Viseu, Naturalmente” e nós estamos atentos e sabemos o que acontece com os programas “eruditos”. Ora, eu pergunto: onde estão, nas alturas próprias e nos espectáculos próprios, esses ditos “intelectuais”? É que aqui na Feira nós vemos e sabemos onde estão as pessoas que gostam dos programas que introduzimos e delineamos.
“Mas, para terminar este assunto, eu gostaria muito que todos os que têm críticas viessem até aqui falar comigo, porque eu tenho, através dos números, a resposta a todas as dúvidas que possam existir.”


A Feira está aí e os números de um balanço que já se pode adivinhar confirmam que os responsáveis da “Expovis”, uma vez mais, fizeram das tripas coração para ofertar à cidade, e a quantos de fora a visitam, um certame de coração e com coração.


Escreveu
Claudia Sofia

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