Perdas...

Wednesday, July 19, 2006 | 0 Comments

Perdi o autocarro, perdi a carteira, perdi o sono, perdi o meu livro preferido, perdi a fome, perdi uma perna, perdi o bilhete, perdi o lugar, perdi o concurso, perdi o comboio, perdi a boleia, perdi o troféu, perdi o dinheiro, perdi o emprego, perdi a morada, perdi a chamada, perdi os óculos, perdi a aliança, tantas perdas que oiço todos os dias sussurrar pelos corredores nos transportes, em qualquer lugar. Essa perda eu entendo, ainda porque a minha curta existência não permite ainda plena sabedoria, o que eu não entendo é como alguém nos pode anunciar de ânimo leve, sem hesitação, perdi o carinho, perdi o respeito, perdi a confiança, perdi a vontade, perdi o amor, expliquem-me lá! Onde? Como? Foi a lavar os dentes de manhã que escorregou? Foi pelo ralo quando tomaram banho? Tinham posto no bolso, na agenda, apontado num papel de mercearia? - “não esquecer amar, sff”. Foi à saída do cacilheiro quando se ouviu um “poff”? Era o amor a cair ao mar? Foi ao jantar, a levantar a mesa? Terá a vontade ido junto aos restos? Foi no ginásio? O carinho ficou no cesto das toalhas? Foi a tua mãe que a limpar o quarto aspirou a tua confiança? Não sabia que era importante, coitadita?! Foi na praia? Já perdi uma pulseira na praia, mas nunca uma amizade. Foi o teu irmão mais novo que levou o amor e a bola para jogar no intervalo e os perdeu? Foi o IRS? Mas não há imposto sobre o amor? Há?
Ainda que se perda uma pessoa, ainda se compreende. Este mundo é grande e os meios de comunicação são complicados de utilizar dado o escasso tempo que temos, há coisas prioritárias, mas não pessoas, já se vê. O stress por exemplo, qualquer empregado da classe média alta e altíssima, tem de ter o seu tempo para o stress, para um suspiro e revirar de olhos compenetrados. No meio disto tudo ainda se percebe um catraio desaparecido no supermercado e recuperado três horas depois no balcão das informações ou de um ente querido que se fine. Afinal a vida é assim... mas nunca encontrei nos perdidos e achados nenhum pacote de atenção, ou um carinho amolgado que fosse. Eu sei que o amor tem um formato estranho e que a substância é escorregadia, eu sei que não é tamanho de um avião e que quem perde um avião facilmente perde uma coisa tão pequena e transparente, o que é estranho é tanta gente andar com tão precioso bem em bolsos rotos ou talvez seja o peito que fuzilado constantemente por egoísmo pitbulímico e ganancioso, tenha perdido o coração, tenha perdido a vida sem se dar conta.

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Mei and Arawn